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REVIRAVOLTA NA SUCESSÃO
Fence, de ex-oficial do SNI, atua para o ministério desde 99 e deve receber R$ 1,87 mi este ano
Saúde contrata empresa contra grampos
OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
O Ministério da Saúde contratou serviços de contra-espionagem da Fence Consultoria Empresarial Ltda., empresa do Rio
que atua com "assessoramento e
segurança de comunicações em
linhas telefônicas". Entre abril de
99 até ontem, foram pagos pelos
serviços R$ 1,19 milhão.
Somente neste ano, o contrato
prevê o pagamento de até R$ 1,87
milhão. A Fence foi contratada
para "detectar a existência e desativar campos magnéticos espúrios" nas linhas telefônicas do Ministério da Saúde, conforme está
previsto no contrato 18/99, firmado entre a empresa e aquela pasta
em abril de 1999.
A Abin (Agência Brasileira de
Inteligência, que atua como serviço secreto do governo federal) e a
Polícia Federal fazem varredura
de grampos quando solicitadas
por órgãos públicos que suspeitam de espionagem. Segundo a
Saúde, a Abin "não tem estrutura
nem pessoal para realizar este tipo
de trabalho", o que, para a pasta,
levou à contratação de "uma empresa idônea" (leia texto ao lado).
Conforme a Folha apurou, a
Fence, além de varreduras eletrônicas, também tem capacidade de
fazer escutas telefônicas, embora
a execução desse tipo de serviço
seja negada tanto pela empresa
quanto pelo ministério.
Pefelistas atribuem a uma operação de grampo ilícito a origem
da busca e apreensão feita na empresa Lunus, em São Luís, que resultou na descoberta de R$ 1,34
milhão no cofre da empresa, supostamente destinados à campanha presidencial da governadora
do Maranhão, Roseana Sarney,
segundo a versão de Jorge Murad,
marido e sócio de Roseana.
Murad se demitiu anteontem
do governo, onde ocupava o cargo de gerente de Planejamento,
após assumir a responsabilidade
pela arrecadação do dinheiro, cuja origem não revelou.
Atribui-se à repercussão do episódio a queda de Roseana nas
pesquisas de opinião. O PSDB, em
nota oficial, já negou qualquer tipo de relação com a operação feita
na Lunus pela Polícia Federal.
A Fence é de propriedade do coronel da reserva do Exército Enio
Fontenelle, que chefiou o setor de
telecomunicações eletrônicas do
extinto SNI (Serviço Nacional de
Informações). Enio afirma que
Serra, que deixou o ministério da
Saúde em fevereiro último, sabia
do contrato firmado e de toda a
atuação da empresa.
O contrato do Ministério da
Saúde com a Fence foi assinado
sem licitação, com a estimativa de
que sejam feitas pelo menos 600
varreduras por mês.
Coincidentemente, o valor do
contrato aumentou substancialmente neste ano de eleição. Entre
1999 e 2001, a empresa recebia até
R$ 28.406,06 mensais, valor previsto no Orçamento da União. Para 2002, o contrato foi reajustado
e a empresa passou a receber até
R$ 156.048 ao mês.
A contratação pelo ministério
dos serviços de contra-espionagem da Fence surpreende membros do Executivo. Dois ministros
do atual governo, um do PSDB e
outro do PMDB, afirmaram à Folha que, no ano passado, suspeitaram que seus telefones estavam
grampeados. Ambos procuraram
o general Alberto Cardoso, chefe
do Gabinete de Segurança Institucional, que determinou que a
Abin promovesse varreduras eletrônicas, sem necessidade de gastos extras para o governo.
Um ex-ministro da Justiça do
governo FHC, sob condição de
não ser identificado, afirmou que,
quando esteve no cargo, orientou
todos os funcionários de primeiro
e segundo escalões a promoverem varreduras em seus telefones
em busca de grampo.
O ex-ministro colocou a PF à
disposição para a execução do
serviço. Segundo ele, a PF tem os
melhores especialistas em varredura e, por isso, não haveria necessidade de contratar empresa.
Além da Saúde, a Fence foi contratada em 1999 pelo Superior
Tribunal de Justiça. Para promover varreduras nos gabinetes e nas
casas dos ministros, a empresa recebeu na época R$ 92.248,80.
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