São Paulo, quinta-feira, 14 de março de 2002

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Dono diz que empresa não faz grampo

DA SUCURSAL DO RIO

O coronel da reserva do Exército Enio Fontenelle, 64, identificou-se como o dono da Fence Consultoria Empresarial Limitada e disse que a empresa não faz grampos telefônicos. Age defensivamente, com o objetivo de proteger de invasões eletrônicas, como o grampo. "Não gosto que a minha empresa seja confundida com empresa de grampo. Sou o oposto, sou o mocinho", afirmou.
Ele disse também que o ex-ministro José Serra sabia do contrato firmado com a empresa em 1999. "Claro que ele sabe, você acha que o ministro não vai saber algo que ocorre dentro do ministério dele?", questionou, dizendo que a pessoa que o procurou em 1999 agiu "em nome do ministro".
Uma pessoa de confiança, segundo ele, é indicada pelo gabinete do ministério para receber os relatórios mensais da Fence. Especialista na técnica e na doutrina de segurança de comunicações, área em que atua desde 1958, Fontenelle foi oficial de comunicações do Exército e está na reserva.
Ele chefiou o setor de Telecomunicações Eletrônicas do SNI (Serviço Nacional de Informações) de 1980 a 1990, foi professor de segurança nacional na Academia Nacional da Polícia Federal e coordenou o esquema de comunicações de segurança na Eco 92.
No SNI, Fontenelle disse que trabalhava na área técnica, não na de operações. Era encarregado da doutrina e da compra de equipamentos, mas não da execução de trabalhos de espionagem.
"A coisa pior que existe para mim é que o meu cliente de hoje me confunda com araponga."
Fontenelle recebeu a Folha ontem no escritório da Fence, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio). Segundo disse, a empresa foi criada em 1993, e ele divide a sociedade com os dois filhos. Afirmou que, no caso da Saúde, sua atuação foi mais preventiva.
"Essas pessoas que já conhecem o modus vivendi da sua atividade contratam o serviço mesmo sem ter nenhuma desconfiança. Foi o que aconteceu na Saúde." Disse que em 1999 foi procurado por alguém do gabinete do ministério -não disse quem- para que fizesse uma proposta de trabalho.
Não revelou se a pasta já foi alvo de invasão eletrônica. "É confidencial." Na avaliação dele, tanto o ministério como Serra são altamente suscetíveis a invasões.
"Se eu tivesse de dizer, de zero a dez, os alvos potenciais mais importantes do Brasil, diria que ele está entre dez e dez. Ele [Serra" é alvo número 1, é candidato à Presidência. Ele, a Roseana, o Lula, são alvos potenciais enormes."
Para ele, a Saúde contrariou interesses de laboratórios, com o lançamento dos genéricos, e dos EUA, com relação à quebra de patentes dos medicamentos contra a Aids. Entre seus 40 clientes estão grandes empresas do setor privado e órgãos públicos, afirmou. O único cliente cujo nome revelou foi Itaipu Binacional, para quem a Fence faz segurança eletrônica.
(FERNANDA DA ESCÓSSIA)


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