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São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2003

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FOME ZERO

Ministro rebate críticas e diz que programa é de ação de longo prazo

Mesmo insatisfeito, Lula vai manter Graziano no governo

Bruno Stuckert/Folha Imagem
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a primeira reunião da Câmara de Política Social, ontem, no Palácio do Planalto


DA REPORTAGEM LOCAL
E DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar da pressão de integrantes do governo em defesa da troca de comando no programa Fome Zero, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende manter o ministro José Graziano da Silva, 53, da Segurança Alimentar.
Segundo apurou a Folha, Lula está insatisfeito com falhas de execução do programa e os atritos colecionados por Graziano, mas acha prematuro tirá-lo do cargo.
Uma frase atribuída ao presidente tem desestimulado a ação aberta dos que pregam a saída do ministro: "Graziano trabalha comigo há 22 anos, nunca recebeu salário e perdeu quatro eleições ao meu lado. Querem que eu o tire do cargo em dois meses?".
Graziano é filho de um grande amigo de Lula, o engenheiro agrônomo, fazendeiro e especialista em reforma agrária José Gomes da Silva, morto em 96. Professor licenciado de economia agrícola da Unicamp, o ministro assessora Lula desde 82.
A intenção do presidente é colocar o núcleo do governo para salvar o programa Fome Zero, anunciado como prioridade por Lula desde de o seu primeiro pronunciamento público depois de eleito.
A estratégia é dar o que foi chamado de "maior ofensividade" ao Fome Zero, estimulando a ação integrada dos ministérios da área social, o que tiraria Graziano do foco principal. As falhas de execução do Fome Zero são atribuídas à falta de experiência em gerenciamento do ministro.
O governo espera que a campanha de publicidade criada por Duda Mendonça -que começará a ir ao ar até o final do mês- ajude a melhorar a imagem do programa e permita a continuidade de Graziano no cargo.
Pesquisa do instituto Sensus, divulgada ontem -na qual 72,2% dos que têm conhecimento do Fome Zero afirmam que o programa vem sendo bem conduzido- reforçou, ao menos temporariamente, a posição do ministro.
Graziano foi recebido por Lula em audiência no início da noite sem cogitar um pedido de demissão. Lula, porém, manifestou contrariedade com Graziano e Frei Betto (assessor especial também recebido no início da noite) em relação à forma com vêm conduzindo o Fome Zero.
"Se falassem menos e fizessem mais, não estariam todo dia com uma crise para administrar", desabafou o presidente, ao comentar especificamente uma declaração de Frei Betto, coordenador de Mutirão do Fome Zero.
Ele disse na última terça que o programa não tinha conta bancária por culpa da burocracia, mas as contas já haviam sido abertas. A declaração, somada à crise crônica na gestão do programa, engrossou o caldo dos descontentes com Graziano no governo.
Lula tem se queixado de ministros e auxiliares que não conseguiriam resistir aos "holofotes". Na audiência da noite, o presidente deveria reiterar a orientação para Graziano, Frei Betto e Oded Grajew, articulador dos empresários no Fome Zero. Ou seja, Graziano só deixaria o posto hoje se quisesse. Ele não pensava nessa possibilidade ontem. Mas seu comportamento durante o dia estimulou as especulações. Ele esteve abatido e evitou entrevistas.

Defesa
Em encontro ontem, em Brasília, o ministro disse a prefeitos para não esperarem que as doações de alimentos sejam rapidamente distribuídas. "Não esperem que cada tonelada arrecadada seja transformada em 40 cestas distribuídas. Vamos fazer doação emergencial onde for necessário, mas não é esse o espírito", disse, em recado a seus opositores.
O ministro ouviu críticas dos prefeitos sobre o Fome Zero, entre elas a de que existe a necessidade de deixar claro o critério para a escolha dos municípios beneficiados com o Cartão-Alimentação, sob o risco de o programa "cair na descrença".
Alegando que o Fome Zero é um projeto de longo prazo, Graziano disse que "não é possível acudir de forma emergencial a todas as regiões". "Os critérios de expansão priorizam o município que já tem ações nessa área. Não vamos acabar com a fome com a doação de cestas básicas".
Outras críticas dos prefeitos foram sobre a revisão do cadastro único de famílias carentes -iniciado no governo FHC. "Não precisa criar outro cadastro. Queremos melhorar esse e, com isso, chegar a um mapa da fome nos municípios", disse Graziano.


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