|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Procurador britânico envia carta
sobre as contas em paraíso fiscal
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O procurador britânico Cyril E.
Whelan enviou uma carta à Embaixada brasileira em Londres,
cujo título é "Paulo Maluf", em
que pede às autoridades brasileiras informações sobre a investigação criminal promovida contra o
ex-prefeito. O ofício foi enviado
em 25 de novembro de 2002.
O documento de apenas 14 linhas, ao qual a Folha teve acesso,
diz o seguinte sobre Maluf: "Não é
possível nem apropriado que os
fundos fiquem imobilizados por
tempo indefinido. A Procuradoria Geral determinou que a polícia
do Estado de Jersey seja aconselhada a permitir a movimentação
de tais fundos".
Maluf é investigado por suposta
prática de improbidade administrativa e desvio de dinheiro público. A Folha apurou que ele é beneficiário de pelo menos US$ 200
milhões no paraíso fiscal da ilha
de Jersey (no Canal da Mancha).
O ex-prefeito e sua mulher,
Sylvia Lutfalla Maluf, por meio de
carta enviada à Justiça em 17 de
agosto de 2001, negaram possuir
"qualquer valor ou conta corrente" em Jersey, onde "jamais estiveram, onde nada têm, detêm,
possuem, de nada sendo proprietários ou titulares".
A existência dessas contas foi
revelada pela Folha em 2001, ano
em que o governo da Suíça informou ao Brasil que Maluf abrira
uma conta no Citibank de Genebra em julho de 1985. Em 1997, ele
transferira a conta para o mesmo
banco no paraíso fiscal de Jersey.
Reclamação
No ofício encaminhado ao então primeiro-secretário da Embaixada do Brasil em Londres,
Nei Futuro Bitencourt, o procurador britânico reclamou da falta de
providências por parte do governo brasileiro no caso e ameaçou
quebrar o embargo dos ativos
atribuídos ao ex-prefeito.
Entre as condições impostas
por Whelan para a manutenção
do bloqueio dos recursos estava a
comprovação da existência da investigação criminal movida contra o ex-prefeito e as acusações
imputadas a ele.
A solicitação britânica foi atendida ainda no final do ano passado pelo então secretário nacional
de Justiça Antonio Rodrigues de
Freitas Júnior. Em resposta, o embargo foi mantido pelas autoridades britânicas.
Com isso, o governo brasileiro
espera receber de Jersey os documentos bancários completos relacionados a Maluf.
O fato de o principal denunciante do ex-prefeito, Simeão Damasceno de Oliveira, ter retirado
suas acusações poderá dificultar o
envio de dados ao Brasil.
Processo criminal
No ofício, o procurador britânico solicitou também para que toda a informação recebida pelo governo brasileiro sobre os fundos
relacionados ao ex-prefeito e sua
família fosse usada apenas no
processo criminal que apura o suposto desvio de dinheiro na obra
da avenida Água Espraiada.
Os promotores do Ministério
Público paulista Silvio Marques e
José Carlos Blat e os procuradores
Pedro Barbosa Neto e Denise
Abade, responsáveis pelo caso,
tentam estabelecer um vínculo
entre o dinheiro supostamente
desviado no orçamento da construção da avenida Água Espraiada e as contas atribuídas a Maluf
em Jersey. As irregularidades teriam ocorrido na gestão de Maluf
como prefeito (1993-1996).
Para defendê-lo na ilha de Jersey, o ex-prefeito contratou o escritório de advocacia do próprio
procurador-geral de Jersey, Willian Bailhache.
Bailhache, que está afastado de
seu escritório, dará a palavra final
sobre o envio de documentos
bancários de Maluf ao Brasil.
Esses dados são fundamentais
para o ajuizamento de ações cíveis e criminais contra o ex-prefeito de São Paulo.
Texto Anterior: Outro lado: Assessor diz que Maluf não possui contas no exterior Próximo Texto: Estadual: PSDB vai presidir Assembléia em SP Índice
|