São Paulo, domingo, 14 de abril de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Publicitário de Garotinho buscará voto conservador

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

Em um mercado com nomes tão conhecidos quanto Duda Mendonça, marqueteiro de Lula, e Nizan Guanaes, responsável pela imagem do presidente Fernando Henrique Cardoso, o publicitário responsável pela campanha do pré-candidato à Presidência Anthony Garotinho (PSB) pode ser considerado um "outsider", embora tenha 35 anos de experiência na publicidade.
Elysio Pires, 61, já foi responsável por campanhas de velhos caciques. Afirma que Garotinho vai buscar o voto conservador: "O grande eleitorado do Brasil, o eleitorado C e D, que é quem elege todo mundo em uma eleição majoritária, é conservador".
De 1974 a 1987 trabalhou na MPM, a maior agência do país na época, sendo por oito anos seu principal executivo.
No marketing político, atividade que começou a exercer em paralelo ao trabalho na publicidade comercial, fez campanhas para Itamar Franco, Tancredo Neves, Moreira Franco, Nelson Carneiro, Fernando Collor de Mello (da parte do vice, Itamar Franco) e até Fernando Henrique Cardoso (em 1998, só no Rio).
Ele repudia a expressão marketing político. "É uma expressão infeliz, o que existe é marketing eleitoral." Para Pires, são momentos diferentes. "Política é uma coisa que se faz entre duas eleições."
Nega com veemência comentários de que iria recomendar ao ex-governador do Rio que pintasse os cabelos de grisalho. Mas quer que Garotinho perca o hábito de cortar o cabelo em qualquer barbearia de esquina. "Outro dia ele saiu de uma barbearia com um corte quase militar", reclamou.
O hábito de comer muito, que valeu ao ex-governador o apelido familiar de Bolinha, é outro que está na mira do marqueteiro. O argumento é de saúde. "Ele é propenso a ter problemas de coluna por causa do peso. E ninguém quer votar em candidato doente."
Pires diz que o perfil evangélico de Garotinho representa "um potencial de crescimento" para sua pré-candidatura, mas afirma, satisfeito, que essa marca já foi bem mais forte.
E os concorrentes no marketing? Considera Nizan Guanaes um dos cinco gênios da publicidade no Brasil em todos os tempos, mas acha que ele entende pouco de propaganda eleitoral. "Nizan acha que tudo se resolve com um bom anúncio", afirma.
Já Duda Mendonça, marqueteiro de Lula, baiano como Guanaes, Pires considera exatamente o inverso. "Não tem o talento publicitário de Nizan, mas entende tudo da emoção da política", resume.
Pelo sim, pelo não, Pires foi buscar o baiano Marcelo Brandão para sua equipe, como responsável pela elaboração dos anúncios de Garotinho. "É cria do Duda."
Em entrevista à Folha, Elysio Pires disse que, quando começou seu trabalho com Garotinho, chegou a pensar sobre a conveniência de manter esse nome, mas hoje está convencido de que não há como mudar. "Para o bem ou para o mal, ele se chama Garotinho."
Pires disse que não trabalharia para um candidato no qual não votaria e afirmou que eleição é "um processo de escolha muito emocional" que não passa por "grandes reflexões políticas". A seguir, os principais trechos da entrevista:
 

Folha - Como o sr. analisa a participação do marketing nas eleições?
Elysio Pires -
Acho que a participação, no sentido da importância, é muito menor do que as pessoas imaginam. Houve um certo exagero em relação a isso.

Folha - Então, marketing não ganha eleição?
Pires -
Não ganha e, graças a Deus, não perde. Agora, pode ajudar a ganhar um pouco mais folgado e ajudar a perder também.

Folha - Então, qual é a razão do grande prestigio de que gozam hoje os marqueteiros?
Pires -
Você me perdoe, mas acho que quem criou isso foi a imprensa. Ela abriu um espaço exagerado. É uma contradição eu falar isso aqui, mas sempre achei que em uma campanha quem tem que aparecer é o candidato, e não o marqueteiro.

Folha - O fato de Lula [Luiz Inácio Lula da Silva, do PT" ter o mesmo marqueteiro que foi de Maluf soa estranho?
Pires -
Olha, eu acho que deve soar estranho para os petistas. Para mim, não soa não. É um trabalho profissional como outro qualquer. Quem entende o processo eleitoral sabe que eleição e política são coisas completamente diferentes. As eleições são as férias da política.

Folha - E para o fato de Garotinho ter o mesmo marqueteiro que foi de Moreira Franco, a resposta é a mesma?
Pires -
É exatamente a mesma. Na realidade, eu tenho uma característica, não sei se todo mundo age assim: só participo de campanha com a qual tenha alguma afinidade.

Folha - Quais são as maiores qualidades de Garotinho?
Pires -
Acho que a primeira qualidade de Garotinho, que é uma coisa raríssima em político, é que ele tem a orelha maior que a boca. Na realidade, a maioria dos políticos esquece que tem duas orelhas e uma boca só.

Folha - E os maiores defeitos?
Pires -
Ainda não parei para meditar sobre isso.

Folha - O nome Garotinho ajuda ou atrapalha?
Pires -
Cheguei a meditar sobre isso. Hoje eu não tenho nenhuma dúvida. O nome é esse. Acho que não dá para construir uma marca para uma disputa tão importante quanto essa em um período tão curto. Para o bem ou para o mal, ele se chama Garotinho.

Folha - O sr. considera Garotinho um candidato da esquerda?
Pires -
Não tenho nenhuma dúvida. Garotinho é um candidato afinado com o pensamento de esquerda.

Folha - E Ciro Gomes?
Pires -
Acho que também é de esquerda.

Folha - Com tanto candidato de esquerda, há espaço para um deles chegar ao segundo turno?
Pires -
Eu não acho que o voto se decide assim. Essa classificação que estamos dando aqui é política. A eleição é um processo de escolha muito emocional. Ela não passa por esses grandes processos de reflexão política.

Folha - Garotinho tira voto de quem?
Pires -
O processo está começando agora, mas acho que ele tira voto muito mais do chamado eleitorado conservador. O grande eleitorado do Brasil, o eleitorado C e D, que é quem elege todo mundo em uma eleição majoritária, é conservador.


Texto Anterior: Marketing político: PFL conduziu mal a crise, diz marqueteiro
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.