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Publicitário de Garotinho buscará voto conservador
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
Em um mercado com nomes
tão conhecidos quanto Duda
Mendonça, marqueteiro de Lula,
e Nizan Guanaes, responsável pela imagem do presidente Fernando Henrique Cardoso, o publicitário responsável pela campanha
do pré-candidato à Presidência
Anthony Garotinho (PSB) pode
ser considerado um "outsider",
embora tenha 35 anos de experiência na publicidade.
Elysio Pires, 61, já foi responsável por campanhas de velhos caciques. Afirma que Garotinho vai
buscar o voto conservador: "O
grande eleitorado do Brasil, o eleitorado C e D, que é quem elege todo mundo em uma eleição majoritária, é conservador".
De 1974 a 1987 trabalhou na
MPM, a maior agência do país na
época, sendo por oito anos seu
principal executivo.
No marketing político, atividade que começou a exercer em paralelo ao trabalho na publicidade
comercial, fez campanhas para
Itamar Franco, Tancredo Neves,
Moreira Franco, Nelson Carneiro,
Fernando Collor de Mello (da
parte do vice, Itamar Franco) e até
Fernando Henrique Cardoso (em
1998, só no Rio).
Ele repudia a expressão marketing político. "É uma expressão
infeliz, o que existe é marketing
eleitoral." Para Pires, são momentos diferentes. "Política é uma coisa que se faz entre duas eleições."
Nega com veemência comentários de que iria recomendar ao ex-governador do Rio que pintasse
os cabelos de grisalho. Mas quer
que Garotinho perca o hábito de
cortar o cabelo em qualquer barbearia de esquina. "Outro dia ele
saiu de uma barbearia com um
corte quase militar", reclamou.
O hábito de comer muito, que
valeu ao ex-governador o apelido
familiar de Bolinha, é outro que
está na mira do marqueteiro. O
argumento é de saúde. "Ele é propenso a ter problemas de coluna
por causa do peso. E ninguém
quer votar em candidato doente."
Pires diz que o perfil evangélico
de Garotinho representa "um potencial de crescimento" para sua
pré-candidatura, mas afirma, satisfeito, que essa marca já foi bem
mais forte.
E os concorrentes no marketing? Considera Nizan Guanaes
um dos cinco gênios da publicidade no Brasil em todos os tempos,
mas acha que ele entende pouco
de propaganda eleitoral. "Nizan
acha que tudo se resolve com um
bom anúncio", afirma.
Já Duda Mendonça, marqueteiro de Lula, baiano como Guanaes,
Pires considera exatamente o inverso. "Não tem o talento publicitário de Nizan, mas entende tudo
da emoção da política", resume.
Pelo sim, pelo não, Pires foi buscar o baiano Marcelo Brandão para sua equipe, como responsável
pela elaboração dos anúncios de
Garotinho. "É cria do Duda."
Em entrevista à Folha, Elysio Pires disse que, quando começou
seu trabalho com Garotinho, chegou a pensar sobre a conveniência
de manter esse nome, mas hoje
está convencido de que não há como mudar. "Para o bem ou para o
mal, ele se chama Garotinho."
Pires disse que não trabalharia
para um candidato no qual não
votaria e afirmou que eleição é
"um processo de escolha muito
emocional" que não passa por
"grandes reflexões políticas". A
seguir, os principais trechos da
entrevista:
Folha - Como o sr. analisa a participação do marketing nas eleições?
Elysio Pires - Acho que a participação, no sentido da importância,
é muito menor do que as pessoas
imaginam. Houve um certo exagero em relação a isso.
Folha - Então, marketing não ganha eleição?
Pires - Não ganha e, graças a
Deus, não perde. Agora, pode ajudar a ganhar um pouco mais folgado e ajudar a perder também.
Folha - Então, qual é a razão do
grande prestigio de que gozam hoje os marqueteiros?
Pires - Você me perdoe, mas
acho que quem criou isso foi a imprensa. Ela abriu um espaço exagerado. É uma contradição eu falar isso aqui, mas sempre achei
que em uma campanha quem
tem que aparecer é o candidato, e
não o marqueteiro.
Folha - O fato de Lula [Luiz Inácio
Lula da Silva, do PT" ter o mesmo
marqueteiro que foi de Maluf soa
estranho?
Pires - Olha, eu acho que deve
soar estranho para os petistas. Para mim, não soa não. É um trabalho profissional como outro qualquer. Quem entende o processo
eleitoral sabe que eleição e política
são coisas completamente diferentes. As eleições são as férias da
política.
Folha - E para o fato de Garotinho
ter o mesmo marqueteiro que foi
de Moreira Franco, a resposta é a
mesma?
Pires - É exatamente a mesma.
Na realidade, eu tenho uma característica, não sei se todo mundo
age assim: só participo de campanha com a qual tenha alguma afinidade.
Folha - Quais são as maiores qualidades de Garotinho?
Pires - Acho que a primeira qualidade de Garotinho, que é uma
coisa raríssima em político, é que
ele tem a orelha maior que a boca.
Na realidade, a maioria dos políticos esquece que tem duas orelhas
e uma boca só.
Folha - E os maiores defeitos?
Pires - Ainda não parei para meditar sobre isso.
Folha - O nome Garotinho ajuda
ou atrapalha?
Pires - Cheguei a meditar sobre
isso. Hoje eu não tenho nenhuma
dúvida. O nome é esse. Acho que
não dá para construir uma marca
para uma disputa tão importante
quanto essa em um período tão
curto. Para o bem ou para o mal,
ele se chama Garotinho.
Folha - O sr. considera Garotinho
um candidato da esquerda?
Pires - Não tenho nenhuma dúvida. Garotinho é um candidato
afinado com o pensamento de esquerda.
Folha - E Ciro Gomes?
Pires - Acho que também é de
esquerda.
Folha - Com tanto candidato de
esquerda, há espaço para um deles
chegar ao segundo turno?
Pires - Eu não acho que o voto se
decide assim. Essa classificação
que estamos dando aqui é política. A eleição é um processo de escolha muito emocional. Ela não
passa por esses grandes processos
de reflexão política.
Folha - Garotinho tira voto de
quem?
Pires - O processo está começando agora, mas acho que ele tira
voto muito mais do chamado eleitorado conservador. O grande
eleitorado do Brasil, o eleitorado
C e D, que é quem elege todo
mundo em uma eleição majoritária, é conservador.
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