São Paulo, domingo, 14 de abril de 2002

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MUDANÇA NA SUCESSÃO

Roseana desiste do Planalto e acusa "adversários desleais"


Pefelista avisou Ciro antes da renúncia; PFL redigiu documento



"Cheguei ao limite das minhas forças", diz nota da maranhense


RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO LUÍS
PATRÍCIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Quarenta e três dias depois da ação da Polícia Federal na sede de sua empresa, a Lunus, a ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney (PFL) anunciou oficialmente que abandonou a disputa à Presidência da República.
"As investidas constantes e os ataques que beiram a crueldade minaram a minha resistência pessoal. Eu, que já enfrentei e resisti a tantas adversidades, agora cheguei ao limite das minhas forças", disse Roseana em nota oficial, para acrescentar em seguida que abria mão da pré-candidatura, atitude que foi antecipada pela Folha na última sexta-feira.
Cerca de cem convidados e jornalistas se aglomeraram nos jardins da casa -que ocupa um quarteirão na praia do Calhau, em São Luís- para ouvir Roseana ler um discurso de 4 minutos e 23 segundos, no qual ela acusou o governo federal de ter elaborado um "poderoso esquema" para tirá-la da disputa.
A nota lida pela ex-governadora, arquitetada pela cúpula do PFL, teve seu esboço escrito na sexta-feira, em São Paulo, no flat do presidente do partido, senador licenciado Jorge Bornhausen (SC), em reunião da qual participaram ainda o prefeito Cesar Maia (Rio), o ex-ministro Roberto Brant (MG) e o sociólogo Antonio Lavareda. A redação foi proposta pelo próprio Bornhausen.
Segundo a Folha apurou, o pré-candidato do PPS, Ciro Gomes, foi avisado anteontem por telefone pela própria Roseana de que ela renunciaria ontem. Há mais de um mês, ambos vêm discutindo a possibilidade de uma troca de apoios. Uma nova conversa entre os dois estava prevista, segundo pessoas ligadas à pefelista, para as 15 horas de ontem, no momento marcado para que ela anunciasse sua desistência.

Olhar omisso
Segundo a fala de Roseana, "adversários desleais" montaram uma "operação de guerra" que teria se desenrolado "sob o olhar omisso ou acumpliciado de elevadas autoridades da República, que se colocaram a serviço da candidatura oficial".
A ex-governadora, que tinha a voz trêmula e chegou a controlar o choro durante a leitura da nota, disse que o suposto esquema se utilizou de escutas telefônicas, elaboração de dossiês, irregularidades judiciais, perseguição política, uso da máquina pública e manipulação da mídia. Ela recebeu aplausos e flores depois da fala, mas não quis dar entrevistas.
O pivô da derrocada da candidatura de Roseana, seu marido, Jorge Murad, assistiu ao discurso a cerca de 50 metros do púlpito montado para a mulher ler a nota.
Sem aparecer em eventos públicos desde o dia 1º de março, data da ação na Lunus, Murad ficou na porta da casa, protegido pela penumbra. Quase no final do discurso, caminhou para dentro. Um pouco mais a frente dele, estava o senador José Sarney (PMDB-AP), que também entrou para a casa após a fala da filha.
Roseana afirmou ainda que vai se candidatar a um cargo no Congresso, mas não quis revelar se para o Senado ou para a Câmara.
Em nota oficial divulgada após a renúncia, Bornhausen disse que o PFL espera a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a verticalização das coligações para definir os "destinos do partido".


Colaborou a Sucursal de Brasília



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