FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A South Exchange, firma do doleiro paulista Sílvio Roberto Anspach, 58, com sede em Miami, arregimenta intermediários pela internet. Até a semana passada, anunciava no site serviços de transferência de dinheiro para o Brasil proibidos por lei.
A South Exchange oferece na internet um sistema "fácil, confortável e seguro" de enviar dinheiro. A empresa mantinha no site instruções sobre como receber no Brasil dinheiro "cash" (em espécie) por transações fora do sistema bancário, o que é ilegal.
Indagado pela Folha, Anspach retirou do site a página que informava os "métodos de pagamento" e os serviços prestados a clientes no Brasil. Em seu lugar, criou dias depois uma nova página, informando que a empresa "só opera com moeda local".
"Foi um engano da firma de manutenção do site", disse Anspach, por telefone. "Não opero com o Brasil por meio de pagamento "cash", só via banco."
"Eu não tenho nada a esconder. Sou regulado pelas leis americanas, que me impõem não infringir a legislação de outros países", diz.
Sílvio Anspach mora nos Estados Unidos desde 1995. Dirigia a Investsul, distribuidora no mercado de câmbio de taxas flutuantes, alvo de operações de busca e apreensão da PF (Polícia Federal).
Anspach foi envolvido em suspeitas de lavagem de dinheiro por meio de contas CC-5 (de não-residentes) na agência do Banestado (Banco do Estado do Paraná) em Nova York. Segundo perícia da PF, Anspach e os doleiros Alberto Youssef e Alexander Diógenes Ferreira Gomes teriam movimentado, entre abril de 1996 e dezembro de 1997, US$ 1,6 bilhão.
Anspach surge como procurador da empresa offshore Courchevel Investment, nas Ilhas Virgens Britânicas, que movimentou US$ 238,2 milhões no período.
O site da South Exchange pede currículos de interessados em vir a ser "agentes associados". Apresenta-se como "uma empresa em crescimento", com "ambiente de trabalho estimulante e competitivo" e "atendimento dentro da mais alta ética de conduta".
O site é apresentado em inglês, espanhol e português. A página sobre pagamentos nos vários países, incluindo o Brasil, consta apenas na versão em inglês.
Na versão omitida, a empresa prometia fazer os pagamentos em 24 horas, em dólares ou em reais, em espécie ou em depósito bancário. "Se o pagamento é "cash", o beneficiário é notificado por telefone. O depósito bancário é feito diretamente na conta do beneficiário e nenhuma notificação é feita", dizia a página suprimida.
Na página anterior estavam as principais localidades para pagamentos: Anápolis (GO), os municípios mineiros de Belo Horizonte, Conselheiro Pena, Engenheiro Caldas, Governador Valadares, Ipatinga e Mantena e Vitória (ES).
São cidades conhecidas como local de origem de muitos brasileiros que emigram ilegalmente para os Estados Unidos. Para a Receita Federal, esses municípios são centros de transações com pedras preciosas. A nova página eliminou essa relação das cidades.
A South indica os passos para enviar dinheiro: "Se você selecionou "cash", terá que selecionar a cidade e o agente naquela cidade".
"Com a finalidade de proteger a confidencialidade de sua informação pessoal e privada, nós mantemos salvaguardas físicas, eletrônicas e procedimentais", diz a empresa, ao descrever sua "política de privacidade".Anspach alega sigilo comercial para não informar número de agentes e volume médio mensal de transações.



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