São Paulo, quarta-feira, 14 de abril de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Para presidente, chefe da Casa Civil foi injustiçado e está "mais ministro do que antes"

Lula prestigia Dirceu e diz que ele ainda é o "capitão do time"

WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem a empresários que José Dirceu (Casa Civil) "está mais ministro do que antes" do escândalo Waldomiro Diniz, que continua sendo o "capitão do time" e que permanecerá no cargo até o último dia do seu governo.
Lula tomou a iniciativa de tocar no assunto em audiência de duas horas com o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro Neto, e representantes das federações das indústrias nos Estados.
Lula iniciou sua fala afirmando que a participação de Dirceu não estava prevista no encontro, mas que havia feito questão da presença do ministro pelo fato de que ele será o interlocutor do governo com o setor até o fim do mandato, ao lado do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan.
"O ministro José Dirceu vem sofrendo uma carga muito pesada desde fevereiro. Chegaram a falar que ele tinha caído várias vezes, mas quero dizer que o companheiro José Dirceu está mais ministro do que antes. Quando escalei o ministério, brinquei que ele seria o capitão do time, e ele continua sendo", disse, conforme relato de participantes da audiência.
Lula responsabilizou a oposição pelos ataques a Dirceu e afirmou que isso decorre da importância dele no governo. "O presidente comentou que Dirceu tem sofrido de fevereiro para cá uma seqüência de acusações injustas, mas reafirmou que o ministro continua fazendo parte do núcleo duro do governo, da Câmara de Política Econômica, que se reúne todas as terças-feiras, e que é o responsável pela coordenação das ações de governo quando há mais de um ministério envolvido", disse o primeiro-vice-presidente da CNI, Carlos Eduardo Moreira Ferreira.
Moreira Ferreira, que representou a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) na reunião, disse que os industriais vêem com bons olhos ter Dirceu como interlocutor: "Ele é inteligente, competente e, sobretudo, tem a confiança do presidente".
Segundo interlocutores, Lula disse que a reforma ministerial acabou e que a equipe atual terá dois anos e oito meses para trabalhar -procurando transmitir idéia de estabilidade no governo.
Segundo Lula, parte dos problemas enfrentados pelo governo tem um componente político, em razão das eleições. Ele se disse confiante na solução deles.
A pressão sobre Dirceu começou quando veio a público, no dia 13 de fevereiro, o caso Waldomiro Diniz. Então subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência e homem de confiança de Dirceu, Waldomiro foi flagrado, em gravação de 2002, pedindo propina e dinheiro para campanhas a um empresário do ramo de jogos.

Crítica aos antecessores
Lula reafirmou que atravessará o ano eleitoral sem plano econômico, lembrando que planos adotados no passado "custaram muito caro" ao país. Criticou especificamente os presidentes José Sarney (1985-1989) -seu aliado hoje no Senado- e Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), que recentemente o criticou.
Lula afirmou que em 1986 o governo Sarney deixou de fazer ajustes no Plano Cruzado para que o PMDB elegesse governadores e parlamentares constituintes. Em 98, afirmou Lula, o então presidente FHC deixou de fazer o ajuste cambial em razão de sua candidatura à reeleição, deixando para fazê-lo em janeiro de 99. "Ele sabia que tinha de fazer o ajuste antes da eleição, mas não fez", disse, segundo um participante.
A reunião com os empresários foi solicitada por Lula. Após ter dito na Índia, em janeiro, que os empresários brasileiros eram "chorões", pediu a eles que lhe apresentassem propostas concretas, o que foi feito ontem.


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