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SOMBRA NO PLANALTO
Para presidente, chefe da Casa Civil foi injustiçado e está "mais ministro do que antes"
Lula prestigia Dirceu e diz que ele ainda é o "capitão do time"
WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse ontem a empresários
que José Dirceu (Casa Civil) "está
mais ministro do que antes" do
escândalo Waldomiro Diniz, que
continua sendo o "capitão do time" e que permanecerá no cargo
até o último dia do seu governo.
Lula tomou a iniciativa de tocar
no assunto em audiência de duas
horas com o presidente da CNI
(Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro Neto, e representantes das federações das indústrias nos Estados.
Lula iniciou sua fala afirmando
que a participação de Dirceu não
estava prevista no encontro, mas
que havia feito questão da presença do ministro pelo fato de que ele
será o interlocutor do governo
com o setor até o fim do mandato,
ao lado do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan.
"O ministro José Dirceu vem sofrendo uma carga muito pesada
desde fevereiro. Chegaram a falar
que ele tinha caído várias vezes,
mas quero dizer que o companheiro José Dirceu está mais ministro do que antes. Quando escalei o ministério, brinquei que ele
seria o capitão do time, e ele continua sendo", disse, conforme relato de participantes da audiência.
Lula responsabilizou a oposição
pelos ataques a Dirceu e afirmou
que isso decorre da importância
dele no governo. "O presidente
comentou que Dirceu tem sofrido
de fevereiro para cá uma seqüência de acusações injustas, mas reafirmou que o ministro continua
fazendo parte do núcleo duro do
governo, da Câmara de Política
Econômica, que se reúne todas as
terças-feiras, e que é o responsável
pela coordenação das ações de
governo quando há mais de um
ministério envolvido", disse o primeiro-vice-presidente da CNI,
Carlos Eduardo Moreira Ferreira.
Moreira Ferreira, que representou a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) na
reunião, disse que os industriais
vêem com bons olhos ter Dirceu
como interlocutor: "Ele é inteligente, competente e, sobretudo,
tem a confiança do presidente".
Segundo interlocutores, Lula
disse que a reforma ministerial
acabou e que a equipe atual terá
dois anos e oito meses para trabalhar -procurando transmitir
idéia de estabilidade no governo.
Segundo Lula, parte dos problemas enfrentados pelo governo
tem um componente político, em
razão das eleições. Ele se disse
confiante na solução deles.
A pressão sobre Dirceu começou quando veio a público, no dia
13 de fevereiro, o caso Waldomiro
Diniz. Então subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência
e homem de confiança de Dirceu,
Waldomiro foi flagrado, em gravação de 2002, pedindo propina e
dinheiro para campanhas a um
empresário do ramo de jogos.
Crítica aos antecessores
Lula reafirmou que atravessará
o ano eleitoral sem plano econômico, lembrando que planos adotados no passado "custaram muito caro" ao país. Criticou especificamente os presidentes José Sarney (1985-1989) -seu aliado hoje
no Senado- e Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), que recentemente o criticou.
Lula afirmou que em 1986 o governo Sarney deixou de fazer
ajustes no Plano Cruzado para
que o PMDB elegesse governadores e parlamentares constituintes.
Em 98, afirmou Lula, o então presidente FHC deixou de fazer o
ajuste cambial em razão de sua
candidatura à reeleição, deixando
para fazê-lo em janeiro de 99. "Ele
sabia que tinha de fazer o ajuste
antes da eleição, mas não fez",
disse, segundo um participante.
A reunião com os empresários
foi solicitada por Lula. Após ter
dito na Índia, em janeiro, que os
empresários brasileiros eram
"chorões", pediu a eles que lhe
apresentassem propostas concretas, o que foi feito ontem.
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