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Lula pode acabar como De la Rúa, diz economista
MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO
O economista e professor da
UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro) Fernando José
Cardim disse ontem que o governo Lula está "sem rumo" e que o
petista pode acabar seu mandato
como o ex-presidente argentino
Fernando De la Rúa, eleito em
1999 e deposto em dezembro de
2001, após grave crise político-econômica e grandes protestos
em Buenos Aires.
Segundo Cardim, Lula comete
um equívoco ao manter dois discursos antagônicos: o da transição, que passa a idéia de que o governo do PT está ainda por começar, e o da credibilidade, que serve
para dar tranqüilidade ao mercado financeiro.
"Acho extremamente arriscada
essa forma de condução do governo. É o exemplo que o Fernando
De la Rúa nos deu quando uma
base política se desfaz", disse o
economista ontem. "O presidente
Lula entrou com uma expectativa
muito maior do que o De la Rúa e
o risco que se tem é que ainda é
muito cedo para que este tipo de
desgaste ocorra, porque estamos
com apenas um terço de mandato. Temos mais de dois anos e
meio pela frente, não podemos
nos dar ao luxo de repetir uma experiência de desintegração",
completou ele.
As declarações foram dadas depois de uma palestra no seminário "Avaliação do Governo Lula",
que aconteceu ontem, no Rio, e
foi promovido pela Abong (Associação Brasileira de Organizações
Não-Governamentais).
Presidente de sindicato
Cardim disse acreditar que uma
das causas da paralisia do governo seja a forma de agir de Lula,
que, para o economista, continua
atuando como se fosse "um presidente de sindicato".
"O presidente tem que superar a
visão que tem da Presidência. Ele
não é um árbitro, mas é um líder,
que tem que dizer para onde a
gente vai. Isso é que provoca a paralisia do governo e foi o que acabou com o De la Rúa, que se mostrou incapaz de dizer para onde
ia", afirmou.
O economista da UFRJ critica a
gestão Lula por, de acordo com
ele, não ter projetos nem de curto
nem de longo prazos.
Na visão de Cardim, o governo
tem sido sustentado, principalmente, pela confiança na pessoa
do presidente.
"Nada pode acontecer daqui a
quatro anos que não tenha começado antes. A não ser que se esperem milagres, como Frei Betto espera pela multiplicação de pães e
peixes", disse.
Para Cardim, esse tipo de visão
envolve "um risco muito grande".
"Ela nos dá a percepção de que o
governo não tem rumo, nem de
curto nem de longo prazos. O curto prazo foi entregue ao Ministério da Fazenda, e o longo prazo
ainda está esperando para saber
qual é a estratégia de desenvolvimento", afirmou.
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