|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GRANDE FAMÍLIA
Projeto deve fazer emenda na Constituição para punir prática
Comissão da Câmara aprova propostas contra nepotismo
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pressionada pelas sucessivas
notícias de casos de nepotismo, a
CCJ (Comissão de Constituição e
Justiça) da Câmara aprovou ontem, por unanimidade, seis propostas de emenda constitucional
que proíbem a contratação de parentes para cargos públicos nos
três Poderes.
Havia 36 deputados presentes
na hora da votação, que foi simbólica. A sessão, entretanto, atraiu
a presença de 76 deputados e foi
dominada por piadas e ataques
políticos contra o PT e o governo.
O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), confirmou ontem que vai instalar uma
comissão especial para analisar o
mérito das PECs (proposta de
emenda constitucional).
"Quando receber o ofício da
CCJ [Comissão de Constituição e
Justiça], vou pedir a imediata instalação da comissão", disse, ao ser
informado por jornalistas da
aprovação da proposta. O presidente da CCJ, Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), deve encaminhar
hoje ofício a Severino comunicando oficialmente a aprovação.
As seis emendas aprovadas ontem serão sistematizadas num
único projeto pela comissão especial a ser instalada pela Câmara.
Esse texto é que definirá as regras
para a proibição do nepotismo
nos três Poderes.
Depois dessa etapa, que pode
durar até 40 sessões, o projeto vai
ao plenário da Câmara, onde precisa de pelo menos 60% dos votos,
em dois turnos, para ser aprovado. Antes de vigorar, precisa ser
aprovado no Senado, sem modificações, em dois turnos.
As propostas contra o nepotismo -favorecimento a parentes
na esfera pública- estavam engavetadas na comissão (a mais
antiga é de 1996), mas ganharam
impulso depois do que os deputados classificaram de "clamor popular" contra as denúncias de nepotismo na Câmara.
Casos
Estão envolvidos nos casos de
nepotismo revelados recentemente o próprio Severino e o segundo vice-presidente da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI). Severino teve pelo menos sete familiares
empregados em cargos comissionados desde 1997. Já Ciro Nogueira teve pelo menos oito parentes
contratados em cargos de confiança por seu gabinete ou pela
Casa desde 2001. O Ministério Público do Distrito Federal já pediu
ao Tribunal de Contas da União a
exoneração dos parentes que ainda estiverem ocupando os cargos.
O "nepotismo cruzado" é uma
prática comum para evitar desgaste público. O político contrata
um parente de outro em seu gabinete na busca de livrar o colega de
acusações de favorecimentos.
Na proposta de Biscaia, que repete um projeto original do ministro José Dirceu (Casa Civil), essa prática é caracterizada como
tentava de "fraude" da proibição
do nepotismo. A proposta determina também que todos os ocupantes de cargos que sejam "cônjuge, companheiro ou parente,
consangüíneo ou afim, até o segundo grau ou por adoção", sejam exonerados em até 90 dias depois da publicação da emenda.
A exceção é feita para funcionários que são concursados ou que
estabeleçam laço de parentesco
depois da nomeação.
Outra proposta, do deputado
Carlos Nelson, tenta compreender o fisiologismo (usar influência
política para empregar apadrinhados em outras instituições).
Nesse projeto, ficaria vedada a
nomeação do parente para cargo
em qualquer um dos Poderes.
"Essas PECs não resolvem tudo.
O problema do patrimonialismo
político permanece. Mas uma coisa de cada vez. O novo relator na
comissão especial precisa tomar
cuidado para isto não se transformar numa árvore de Natal, senão
não anda", disse o deputado Sérgio Miranda (PC do B-MG), relator das propostas.
Aprovada uma emenda, o nepotismo passaria a ser crime de
improbidade administrativa.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Sessão insólita: Até jumento entra no bate-boca Índice
|