|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PAPEL SECRETO
Lula vence e senadores mantêm o sigilo eterno
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Senado aprovou ontem em
votação simbólica (sem registro
nominal de votos) a medida provisória que mantém a possibilidade de documentos públicos federais serem guardados eternamente em sigilo. Pelo texto aprovado,
documentos considerados ultra-secretos serão vedados ao público
por até 30 anos, prazo prorrogável
por igual período.
Antes que os eventuais 60 anos
de sigilo terminem, documentos
ultra-secretos que ameacem "a
soberania, a integridade territorial nacional ou as relações internacionais do país" poderão continuar em sigilo por decisão de uma
comissão interministerial.
Sanção
O texto da MP 288, que segue
agora para sanção presidencial
antes de virar lei, é vago sobre
quanto tempo a mais o sigilo estará em vigor depois dos 60 anos
iniciais.
Diz apenas que a Comissão de
Averiguação e Análise de Informações Sigilosas "poderá manter
a permanência da ressalva ao
acesso do documento pelo tempo
que estipular". Essa comissão será
encabeçada pelo ministro da Casa
Civil.
O texto aprovado também permite que a comissão interministerial receba recursos para revisar
os novos prazos que estipular. Essas revisões podem ser para aumentar ou reduzir o período em
que o documento público ficar
vedado ao público. Ou seja, prorrogações sucessivas podem manter o sigilo eternamente.
O governo discorda de que o sigilo possa ser eterno. Para o líder
governista no Senado, Aloizio
Mercadante (PT-SP), a prorrogação só poderá ocorrer "uma única
vez". O petista também considera
que "houve um avanço" em relação ao texto que vigorava anteriormente.
50 anos
Antes da MP 228 (editada em 9
de novembro de 2004), vigorava
um decreto de Fernando Henrique Cardoso, de 2002, que estipulava o prazo máximo de sigilo para documentos ultra-secretos em
50 anos, prorrogáveis por igual
período e, depois, indefinidamente.
Agora, não existe o termo "indefinidamente" -foi substituído
pela expressão "pelo prazo que
estipular" a comissão interministerial.
Apesar de vitorioso, o governo
deixou constrangidos alguns de
seus aliados. "Vou sofrer para dar
esse voto", disse antes de votar
com o governo o senador Tião
Viana (PT-AC). Eduardo Suplicy
(PT-SP), também lamentou:
"Vou votar a favor do governo,
mas gostaria que não houvesse esse tipo de sigilo".
A oposição tentou retirar do
texto da MP 228 o parágrafo que
abre a brecha para o sigilo eterno.
O senador Jorge Bornhausen
(PFL-SC) apresentou o pedido
para derrubar o parágrafo, mas
não teve sucesso -apesar de ter
recebido apoio do PSDB. O governo venceu por 31 votos a 24 votos,
com 1 abstenção.
Só em 2065
Um aspecto pouco notado ontem pelos senadores é que Lula
não revogou a classificação do
que pode ser considerado ultra-secreto e ficar por 60 anos em sigilo. Ainda vigora o estabelecido no
governo do presidente Fernando
Henrique Cardoso. São ultra-secretos documentos referentes à
"soberania e à integridade territorial nacionais, a planos e operações militares, à relações internacionais do país, a projetos de pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico de interesse da
defesa nacional e a programas
econômicos, cujo conhecimento
não-autorizado possa acarretar
dano excepcionalmente grave à
segurança da sociedade e do Estado".
Ou seja, no limite da lei, detalhes
da atual política econômica do
governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva só poderão ficar
públicos no ano 2065.
Texto Anterior: Visita à África: Lula rebate críticas; viagem provoca "inquietação" Próximo Texto: Janio de Freitas: Clarinada Índice
|