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ELEIÇÕES 2006/PUBLICIDADE SUSPEITA
Carlos Monteiro diz que política de publicidade era submetida a secretaria de Roger Ferreira
Presidente da Nossa Caixa contradiz versão de Alckmin
LEANDRO BEGUOCI
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente da Nossa Caixa,
Carlos Eduardo Monteiro, disse
ontem que Jaime de Castro Júnior, ex-gerente de marketing do
banco, tratava diretamente da publicidade da estatal com Roger
Ferreira, ex-assessor de comunicação do governo de São Paulo.
Esta versão é diferente da divulgada por Ferreira e também colide
com a apresentada por Geraldo
Alckmin, ex-governador de São
Paulo e candidato à Presidência.
Em nota divulgada anteontem,
Ferreira disse que a Nossa Caixa
"não tem nenhuma subordinação
formal ou informal, no que se refere à comunicação, a nenhuma
instância ou pessoa exterior à empresa". Por sua vez, Alckmin disse, quando a Folha revelou que a
Nossa Caixa beneficiava com propaganda seus aliados na Assembléia Legislativa, que "o governo
do Estado não interfere em banco
público" e que "o critério de distribuição da mídia do governo é
eminentemente técnico".
Monteiro contradiz a versão de
Ferreira e Alckmin ao apresentar
o decreto de número 43.834, de
1999. O decreto mostra que todo o
plano de comunicação do banco
deve ser submetido à Assessoria
Especial de Comunicação do Estado, que era gerida por Ferreira.
Segundo Monteiro, que ontem
deu entrevista a três jornais, o decreto estabelece que o plano de
marketing do banco não precisava passar pela presidência do banco: "O relacionamento era do
marketing com o Sicom, é outra
coisa que está no decreto", afirmou. O Sicom é o Sistema de Comunicação do Governo do Estado
de São Paulo, ligado a pasta que
Roger Ferreira comandava. Monteiro também disse que não tinha
"nem idéia de quais são [eram] os
critérios" usados para a veiculação de publicidade. E acrescentou: "O que cabe à diretoria do
banco? Aprovar as políticas gerais
de propaganda. Não cabe a mim
dizer onde colocar os anúncios".
Ao exemplificar como eram as relações da Nossa Caixa com a assessoria de comunicação do governo de São Paulo, Monteiro relatou: "Uma vez recebi uma bronca dele [Ferreira] por escrito porque tínhamos feito uma campanha de televisão sem mostrar para
ele, porque o decreto diz que tem
que mostrar". Questionado se
gostaria que o banco tivesse autonomia para gerir a política de comunicação, afirmou: "Adoraria".
Apesar das declarações, Monteiro nega ingerência política de
Alckmin na política de comunicação do banco: "Aqueles e-mails
[trocados entre Ferreira e Castro
Júnior, que indicam favorecimento de aliados de Alckmin] não afetaram em nada o negócio do banco mesmo em relação ao marketing. É o tipo de anúncio que o
banco faria".
Depoimento
Monteiro distribuiu cópia do
depoimento que o ex-gerente de
marketing -demitido do cargo
depois que uma sindicância
apontou irregularidades no setor- prestou ao Ministério Público, na véspera. O ex-gerente
sustentou que Roger Ferreira "interferia nas ações de marketing do
banco". Disse que "recebeu ordem do então assessor de comunicação" do governo para enviar
carta às agências Full Jazz e Colucci -que prestaram serviços para
a Nossa Caixa depois que seus
contratos haviam expirado-
manifestando interesse na prorrogação dos contratos.
Castro Júnior sustentou que os
pedidos de publicidade (conduzidos ou não por políticos) eram
"deferidos pela presidência" do
banco. Ou seja: por Carlos Monteiro, que nega a acusação e diz
que Castro Júnior mente. A Folha
procurou o ex-gerente de marketing, mas ele não se manifestou.
Embora não tenha apontado
veículos ligados a deputados, o
ex-gerente ratificou "integralmente" as manifestações escritas
que entregara à Comissão de Sindicância da Nossa Caixa, nas
quais cita o direcionamento das
verbas de publicidade para atender à base aliada do governo. Cópia da sindicância foi solicitada
pelo Banco Central.
Ontem, na entrevista, Monteiro
admitiu que somente enviou a
sindicância interna ao Ministério
Público quando o órgão requisitou. Com base em informações do
banco sobre a publicidade irregular -sem contrato-, o então governador Alckmin havia dito que
"quando a Nossa Caixa percebeu
que houve erro lá dentro, fez uma
sindicância, demitiu o responsável, comunicou ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas".
Monteiro diz que não tinha motivo para levar o caso ao Ministério Público. "Não tinha indício de
crime", explicou. "Houve uma irregularidade administrativa
enorme, mas não é crime."
Alckmin, que ontem esteve em
Londrina (PR), não quis comentar as declarações do presidente
da Nossa Caixa. Afirmou que não
conhecia o teor da entrevista. Procurado ontem pela Folha, Roger
Ferreira, que deixou o cargo no
mês passado, reiterou o conteúdo
da nota divulgada anteontem.
Colaborou JOSÉ MASCHIO, da Agência
Folha, em Londrina
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