São Paulo, sexta-feira, 14 de abril de 2006

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Para uma parte do PMDB, Itamar é candidato de Lula

PLÍNIO FRAGA
DA SUCURSAL DO RIO

Antigovernistas do PMDB avaliam que a pré-candidatura de Itamar Franco à Presidência é uma manobra do Palácio do Planalto para impedir o lançamento de nome próprio pelo partido.
Em conversas ontem, a ala oposicionista fez chegar ao presidente do PMDB, Michel Temer, uma descrição de articulações do Palácio do Planalto que, de tão intrincadas, chegavam a uma "quase conspiração", como definiu um dos interlocutores. Em resumo, Itamar causaria a derrota da tese da candidatura própria na convenção do PMDB e sairia como candidato a vice do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A ala oposicionista do PMDB aponta como principal indício as promessas que teriam sido feitas pelo deputado cassado e ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) ao ex-presidente, em Juiz de Fora, anteontem.
Os oposicionistas afirmam que, em reunião de uma hora e meia, Dirceu colocou Itamar em contato, por telefone, com o presidente Lula, e com os senadores Renan Calheiros (AL) , José Sarney (AP) e Ney Suassuna (PB).
Nas conversas, dizem os oposicionistas, foi delineada a estratégia de levar para a convenção do PMDB três hipóteses para votação: não ter candidato a presidente e ter como candidato Garotinho ou Itamar.
Para o PMDB antigoverno, a divisão entre defensores da candidatura própria -parte apoiando Garotinho, parte, Itamar- ajudaria os governistas a emplacar a tese de não ter candidato com pouco mais de um terço dos cerca de 700 votos da convenção, marcada para junho.
A convenção é o órgão máximo do PMDB, a única com força legal para definir se o partido terá candidato e quem o será. Em conversas reservadas ontem, antigovernistas do PMDB afirmaram que Dirceu sugeriu que, sepultada a candidatura própria do partido, Itamar seria alçado à condição de vice de Lula.
O ex-deputado petista teria proposto ainda um acordo em SP para que o ex-governador Orestes Quércia -primeiro a anunciar a intenção de candidatura de Itamar- dispute o Senado sem a concorrência do favorito até agora, Eduardo Suplicy (PT-SP). O senador petista seria levado a abrir mão da reeleição e a postular o governo do Estado, o que sepultaria as pré-candidaturas de Marta Suplicy e de Aloizio Mercadante, registrados nas prévias internas petistas.
Ouvido ontem pela Folha, Dirceu negou as articulações atribuídas a ele. "Não não tenho poder para isso. Sou apenas um cidadão comum. Se o presidente ou o PT me convocam para uma missão, cumpro. Não foi o caso."
Dirceu negou ainda ter colocado Itamar em contato com Lula ou com alguém de Brasília. "Pode quebrar meu sigilo telefônico", disse.
Sobre a operação Suplicy-Quércia, afirma: "Você acha que o PT aceitaria isso? O candidato do partido vai sair da prévia". Dirceu afirma que estava em um jatinho a caminho de Belo Horizonte para serviço de consultoria privada e parou em Juiz de Fora para conversar com Itamar: "Ele é meu amigo, mas não dei conselho nenhum. Não me falou de candidatura a presidente".


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