São Paulo, domingo, 14 de maio de 2000


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QUESTÃO AGRÁRIA
Verba gera crise
Inquéritos apuram irregularidades no PA

LUCAS FIGUEIREDO
ENVIADO ESPECIAL AO SUL DO PARÁ

As disputas entre ex-sem-terra pelo controle das verbas destinadas aos assentamentos no sul do Pará estão se transformando em casos de polícia. Dois inquéritos foram abertos para investigar denúncias de supostos desvios de dinheiro nas associações controladas pelos assentados.
Em Eldorado do Carajás (onde 19 sem-terra foram mortos em confronto com a polícia em abril de 96), as divergências entre ex-sem-terra acontecem em torno da Apraeap (Associação dos Produtores Rurais Agro-Extrativistas do Assentamento Progresso).
A associação -que controla a verba do assentamento- foi intermediária na compra de 1.200 cabeças de gado para 128 ex-sem-terra, num negócio de R$ 600 mil.
O preço, a qualidade e a forma de distribuição do gado causaram um racha entre os assentados e 96 deles não quiseram ficar com animais comprados pela associação.
Os descontentes queriam comprar diretamente as cabeças de gado, mas a Apraeap já tinha gasto a verba enviada pelo governo.
Na falta do dinheiro, oito dos descontentes foram então até a associação, armados de facões e, no dia 21 de março, quebraram o cadeado do curral e pegaram 226 cabeças de gado.
A diretoria da associação denunciou o caso à polícia de Marabá. O líder dos descontentes, o assentado Eduardo Lira Filho, foi preso, e 80 animais, recuperados.
Lira Filho argumenta que não roubou o gado, mas sim procurou garantir o direito dos assentados.
O delegado da Polícia Civil responsável pelo caso, Sérgio Máximo dos Santos, afirma que os assentados que participaram da ação serão indiciados em exercício arbitrário das próprias razões ou furto. "É briga pelo poder. Dentro dessas associações corre muito dinheiro", diz.
Em Parauapebas, ex-sem-terra do assentamento Rio Branco denunciaram suposto desvio de dinheiro, por meio de notas fiscais falsas, na associação que controla as verbas dos financiamentos.
A Polícia Federal, que abriu inquérito para investigar o caso, ainda não chegou à conclusão se a denúncia é verdadeira, mas já constatou pelo menos uma irregularidade. Caminhões da associação, que deveriam atender com exclusividade os assentados, estão sendo alugados.


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