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QUESTÃO AGRÁRIA
Verba gera crise
Inquéritos apuram irregularidades no PA
LUCAS FIGUEIREDO
ENVIADO ESPECIAL AO SUL DO PARÁ
As disputas entre ex-sem-terra
pelo controle das verbas destinadas aos assentamentos no sul do
Pará estão se transformando em
casos de polícia. Dois inquéritos
foram abertos para investigar denúncias de supostos desvios de
dinheiro nas associações controladas pelos assentados.
Em Eldorado do Carajás (onde
19 sem-terra foram mortos em
confronto com a polícia em abril
de 96), as divergências entre ex-sem-terra acontecem em torno da
Apraeap (Associação dos Produtores Rurais Agro-Extrativistas
do Assentamento Progresso).
A associação -que controla a
verba do assentamento- foi intermediária na compra de 1.200
cabeças de gado para 128 ex-sem-terra, num negócio de R$ 600 mil.
O preço, a qualidade e a forma
de distribuição do gado causaram
um racha entre os assentados e 96
deles não quiseram ficar com animais comprados pela associação.
Os descontentes queriam comprar diretamente as cabeças de
gado, mas a Apraeap já tinha gasto a verba enviada pelo governo.
Na falta do dinheiro, oito dos
descontentes foram então até a
associação, armados de facões e,
no dia 21 de março, quebraram o
cadeado do curral e pegaram 226
cabeças de gado.
A diretoria da associação denunciou o caso à polícia de Marabá. O líder dos descontentes, o assentado Eduardo Lira Filho, foi
preso, e 80 animais, recuperados.
Lira Filho argumenta que não
roubou o gado, mas sim procurou
garantir o direito dos assentados.
O delegado da Polícia Civil responsável pelo caso, Sérgio Máximo dos Santos, afirma que os assentados que participaram da
ação serão indiciados em exercício arbitrário das próprias razões
ou furto. "É briga pelo poder.
Dentro dessas associações corre
muito dinheiro", diz.
Em Parauapebas, ex-sem-terra
do assentamento Rio Branco denunciaram suposto desvio de dinheiro, por meio de notas fiscais
falsas, na associação que controla
as verbas dos financiamentos.
A Polícia Federal, que abriu inquérito para investigar o caso,
ainda não chegou à conclusão se a
denúncia é verdadeira, mas já
constatou pelo menos uma irregularidade. Caminhões da associação, que deveriam atender
com exclusividade os assentados,
estão sendo alugados.
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