São Paulo, domingo, 14 de maio de 2000


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QUESTÃO AGRÁRIA
Grupo, que diz poder contar com 2.000 pessoas para a caminhada, quer ir de Belém (Pará) ao México
Zapatistas brasileiros organizam marcha


FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Para "defender a humanidade contra a ameaça do neoliberalismo", um grupo de zapatistas brasileiros decidiu marchar cerca de 9.000 quilômetros de Belém (PA) até o México.
A caminhada é inspirada na ação do Exército Zapatista de Libertação Nacional, movimento composto principalmente por indígenas e camponeses que, há seis anos, tornou-se um ícone da esquerda mundial ao se rebelar contra o governo no Estado mexicano de Chiapas.
Os zapatistas brasileiros, que têm a ambição de divulgar os ideais do movimento, dizem ter comitês em 15 Estados. Eles reúnem pessoas filiadas a entidades de trabalhadores, sem-terra, índios, camponeses e religiosos.
Em comum, os zapatistas brasileiros defendem a revolução socialista, admiram Che Guevara e lutam contra um inimigo tão abstrato quanto poderoso: o ""grande capitalismo internacional".
"Para enfrentar o neoliberalismo, são precisas medidas radicais. A marcha será a primeira", diz Magno de Carvalho, fundador do comitê paulista de zapatistas e um dos idealizadores da marcha.
A caminhada começa no início de 2001 e deve durar um ano. O ponto de partida será Belém, diz Carvalho, porque foi nessa cidade que a idéia da marcha surgiu, durante o 2º Encontro Americano pela Humanidade e Contra o Neoliberalismo. O encontro reuniu 3.000 pessoas de 20 países em dezembro passado.
O ponto de chegada da marcha será a cidade mexicana de Juarez, que, por sua posição geográfica -fica na fronteira com os EUA- é perfeita como símbolo.
"É lá que fica o muro da vergonha, que separa o mundo pobre do mundo rico e representa a desigualdade mundial", diz Manoel Amaral, zapatista de Belém, em referência à barreira de concreto e arame farpado que separa Juarez da cidade de El Paso, já no Texas.
O muro existe para dificultar a entrada de mexicanos pobres nos EUA, mas nem sempre consegue. Muitos tentam imigrar cruzando o rio Grande, que separa os dois países, durante a noite. Mortes por afogamento são frequentes.
Otimistas, os zapatistas esperam reunir ao menos 2.000 pessoas na marcha, que deve ter ainda lideranças de esquerda de países como Argentina, Chile e Peru.
Os detalhes finais da marcha serão acertados em um encontro em julho, mas ela deve sair de Belém rumo a Manaus e, de lá, seguir para o México.
"É claro que não vai dar para andar todo o percurso. Vamos fazer alguns trechos de barco e ônibus. A idéia é ir parando em pequenas vilas e cidades no caminho, para divulgar nosso movimento", afirma Amaral.


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