São Paulo, terça-feira, 14 de maio de 2002

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QUESTÃO AGRÁRIA

Júri para os 149 policiais acusados já foi adiado três vezes

Julgamento do massacre de Carajás começa hoje no Pará

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

Seis anos e 27 dias depois, vão a júri a partir de hoje, às 8h, em Belém, os 149 policiais militares acusados pelo massacre de Eldorado do Carajás, que deixou 19 sem-terra mortos e 60 feridos no dia 17 de abril de 1996, na rodovia PA-150, no sul do Pará.
Este será o maior julgamento da história do Judiciário brasileiro, em número de vítimas e de acusados, segundo o TJ (Tribunal de Justiça) do Pará.
O julgamento foi adiado três vezes e o juiz Roberto Moura será o sexto a presidir o júri. Ele substitui Eva do Amaral Coelho, que se afastou na semana passada.
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) tentou adiar, sem sucesso, o julgamento, em pedido ao STJ (Superior Tribunal de Justiça). "Pedimos adiamento para que nossos advogados possam se preparar e outros jurados sejam sorteados", disse o coordenador do MST no Pará, Raimundo Nonato.
O júri será composto por 21 funcionários públicos. Deles, sete serão sorteados para decidir o caso.
Os promotores pedirão pena máxima para os acusados, que varia de 12 a 30 anos para a condenação por homicídio. A defesa sustentará que não há como acusar individualmente todos os PMs envolvidos. Cada uma das três sessões do júri deve durar de três a quatro dias, segundo Moura.
As pressões em torno do julgamento fizerem até com que o Ministério Público contratasse uma psicóloga para auxiliar os dois promotores do caso.
As principais armas da defesa e da acusação estão sustentadas em laudos de dois peritos rivais: Ricardo Molina e Fortunato Badan Palhares (leia texto nesta página).
Os últimos meses que antecederam o julgamento foram marcados por uma batalha jurídica provocada pelo MST para afastar Eva do Amaral. Ela se afastou do caso na semana passada, depois de o movimento pedir pela segunda vez a sua saída. Os sem-terra dizem que ela tinha "visíveis tendências políticas contrárias ao MST". Ela nega as acusações.
No primeiro julgamento dos oficiais da PM, em 99, a cena de um tiro disparada do lado dos sem-terra foi determinante para a absolvição de três acusados. No entanto, o julgamento foi anulado pelo TJ em 2000 porque os jurados teriam sido induzidos ao erro.
O confronto aconteceu depois que cerca de 200 policiais, obedecendo a instruções do governador Almir Gabriel (PSDB-PA), foram enviados para o local para desobstruir a rodovia PA-150, que havia sido bloqueada por 1.100 sem-terra no dia anterior.
Originalmente, eram 155 PMs indiciados pelo massacre de Eldorado dos Carajás, mas, nos seis últimos anos, cinco foram excluídos do caso porque morreram, e o soldado Edson Soares, alegando insanidade mental, foi retirado do processo enquanto aguarda laudo pericial do Instituto Renato Chaves, em Belém.
A Secretaria de Estado dos Direitos Humanos divulgou nota em que diz esperar "que as providências tomadas pelas autoridades do Pará garantam que o julgamento seja conduzido de forma imparcial e dentro das normas que asseguram a aplicação do devido processo legal em um Estado democrático de Direito".



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