|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUESTÃO AGRÁRIA
Júri para os 149 policiais acusados já foi adiado três vezes
Julgamento do massacre de Carajás começa hoje no Pará
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
Seis anos e 27 dias depois, vão a
júri a partir de hoje, às 8h, em Belém, os 149 policiais militares acusados pelo massacre de Eldorado
do Carajás, que deixou 19 sem-terra mortos e 60 feridos no dia 17
de abril de 1996, na rodovia PA-150, no sul do Pará.
Este será o maior julgamento da
história do Judiciário brasileiro,
em número de vítimas e de acusados, segundo o TJ (Tribunal de
Justiça) do Pará.
O julgamento foi adiado três vezes e o juiz Roberto Moura será o
sexto a presidir o júri. Ele substitui
Eva do Amaral Coelho, que se
afastou na semana passada.
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) tentou adiar, sem sucesso, o julgamento, em pedido ao STJ (Superior Tribunal de Justiça). "Pedimos adiamento para que nossos
advogados possam se preparar e
outros jurados sejam sorteados",
disse o coordenador do MST no
Pará, Raimundo Nonato.
O júri será composto por 21 funcionários públicos. Deles, sete serão sorteados para decidir o caso.
Os promotores pedirão pena
máxima para os acusados, que varia de 12 a 30 anos para a condenação por homicídio. A defesa
sustentará que não há como acusar individualmente todos os PMs
envolvidos. Cada uma das três
sessões do júri deve durar de três a
quatro dias, segundo Moura.
As pressões em torno do julgamento fizerem até com que o Ministério Público contratasse uma
psicóloga para auxiliar os dois
promotores do caso.
As principais armas da defesa e
da acusação estão sustentadas em
laudos de dois peritos rivais: Ricardo Molina e Fortunato Badan
Palhares (leia texto nesta página).
Os últimos meses que antecederam o julgamento foram marcados por uma batalha jurídica provocada pelo MST para afastar Eva
do Amaral. Ela se afastou do caso
na semana passada, depois de o
movimento pedir pela segunda
vez a sua saída. Os sem-terra dizem que ela tinha "visíveis tendências políticas contrárias ao
MST". Ela nega as acusações.
No primeiro julgamento dos
oficiais da PM, em 99, a cena de
um tiro disparada do lado dos
sem-terra foi determinante para a
absolvição de três acusados. No
entanto, o julgamento foi anulado
pelo TJ em 2000 porque os jurados teriam sido induzidos ao erro.
O confronto aconteceu depois
que cerca de 200 policiais, obedecendo a instruções do governador
Almir Gabriel (PSDB-PA), foram
enviados para o local para desobstruir a rodovia PA-150, que
havia sido bloqueada por 1.100
sem-terra no dia anterior.
Originalmente, eram 155 PMs
indiciados pelo massacre de Eldorado dos Carajás, mas, nos seis últimos anos, cinco foram excluídos
do caso porque morreram, e o
soldado Edson Soares, alegando
insanidade mental, foi retirado do
processo enquanto aguarda laudo
pericial do Instituto Renato Chaves, em Belém.
A Secretaria de Estado dos Direitos Humanos divulgou nota
em que diz esperar "que as providências tomadas pelas autoridades do Pará garantam que o julgamento seja conduzido de forma
imparcial e dentro das normas
que asseguram a aplicação do devido processo legal em um Estado
democrático de Direito".
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Acusação e defesa farão batalha de laudos no Pará Índice
|