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GUERRA DOS JUROS
Para ministro, país viveu "experiências trágicas" no governo Sarney por "não tomar as medidas necessárias"
Dirceu descarta mudanças na economia
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro-chefe da Casa Civil,
José Dirceu, descartou ontem
mudanças nos rumos da política
econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva e disse que o país
teve "experiências trágicas" no
passado por controlar fluxo de capitais e reduzir juros.
A afirmação foi uma resposta ao
manifesto feito por economistas
ligados ao PT ou que apoiaram a
candidatura Lula, em que eles
propõem "inversão de toda a matriz da política econômica" atual.
O documento defende controle
de capitais externos e do câmbio,
redução do superávit primário até
sua eventual eliminação, ampliação dos gastos públicos, com
prioridade para setores geradores
de empregos, e redução da taxa
básica de juros.
"Não podemos confundir árvore com floresta. O país não é só juros, política econômica e Banco
Central", afirmou Dirceu, para
quem o documento é legítimo e o
debate na sociedade, importante.
Para o ministro, o governo está
seguro do caminho e da transição
que vem realizando. "A idéia de
controlar fluxo de capitais e reduzir juros já teve experiências trágicas em outros momentos. Nosso
governo, quando reduzir juros,
vai reduzir para ficar reduzido.
Não para fazer bolha."
O ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral) tem opinião semelhante: "Há muitos economistas que
apóiam a estratégia que o governo
adotou, de recuperar primeiro a
estabilidade e criar condições sólidas para que o país cresça de
modo sustentável. Há outros que
querem um projeto mais rápido".
Os dois ministros falaram após
participar de um encontro de deputados estaduais do PT em Brasília. A reunião foi, segundo os deputados, para "melhorar a informação entre governo e bancada".
Os signatários de "A agenda interditada - uma alternativa de
prosperidade para o Brasil" dizem que não houve preocupação
em indicar um modelo de controle de capitais ou um valor ideal
para o câmbio.
O consenso foi em torno da necessidade "do controle do valor
do dólar em nível real favorável às
exportações". Entre os signatários
estão Luiz Gonzaga Belluzzo, Ricardo Carneiro, Reinaldo Gonçalves e Plínio de Arruda Sampaio
Jr., organizador do documento.
Lembrando o Plano Cruzado, durante o governo do presidente José Sarney (1985-1990), José Dirceu
disse que, na época, não foram tomadas as medidas necessárias e
"depois o país viveu anos com a
economia desorganizada".
De acordo com dados de abril
do Banco Central, a dívida interna
líquida estava em R$ 652 bilhões e
a externa (juntando governos federal, estaduais e municipais)
bruta, em R$ 230 bilhões.
Para o ministro Dulci, o manifesto faz parte da "vida democrática" do país.
"O desejo é o mesmo. Nós também queremos que o país volte a
crescer. A forma de crescer de
modo sustentável é que varia.
Achamos que eles estão subestimando as dificuldades", disse
Dulci. Segundo ele, o governo tratará com respeito qualquer opinião, seja de petistas ou não.
Paraná
Mais tarde, numa palestra a empresários em Cianorte (PR), o ministro-chefe da Casa Civil voltou a
tocar no assunto. Disse que o país
poderia "baixar os juros, criar
uma bolha de crescimento e depois voltar à recessão".
"É necessário um crescimento
com consistência, para o país voltar a se desenvolver, uma tarefa
para os próximos dez anos."
Dirceu chamou a atenção dos
empresários para o fato de que,
depois de seis meses de governo,
nenhuma denúncia de corrupção
tenha sido feita contra o governo
Lula, segundo ele.
"É que temos um presidente
que não rouba e não deixa roubar", afirmou.
Colaborou JOSÉ MASCHIO, da Agência
Folha, em Londrina
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