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CONTRA A CORRENTE
Intelectual petista recebe na USP título de cidadão paulistano e volta a criticar governo Lula
Medo venceu a esperança, diz Oliveira
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo de Luiz Inácio Lula
da Silva reforça "a porta fechada" para o crescimento com inclusão social no Brasil. Mais ainda, a eleição do "maior partido
de esquerda do mundo" pode legitimar a operação política em
curso de diminuição da capacidade de ação do Estado.
As teses são do sociólogo Francisco de Oliveira, apresentadas
anteontem durante discurso
após receber o título de cidadão
paulistano. Foram sintetizadas
por ele, intelectual petista, com a
inversão do slogan da vitória de
Luiz Inácio Lula da Silva. "O medo venceu a esperança", disse.
Oliveira recebeu a "nova cidadania" em cerimônia da Câmara
dos Vereadores transferida excepcionalmente para o auditório
de história da USP.
Para ele, a tarefa da "social-democracia periférica", na qual incluiu indistintamente PT e
PSDB, tem sido a de realizar a
"funcionalização do capital, já
na sua escala global, sem ter feito
antes a tarefa da redução radical
da desigualdade". "A social democratização é ela mesma a globalização", afirmou.
"A vontade política, na qual se
colocou o acento da mudança,
está sendo enquadrada pelos rigores da nova forma do capital",
disse. Nova forma que é a porta
fechada para o crescimento.
"Com financeirização desaparece a porta. Ela está fechada com
o cadeado dos juros, com a exportação de 9% do PIB como
serviço da dívida externa."
Para Oliveira, o crescimento
econômico experimentado pelo
Brasil nas décadas de 50 e 70 não
diminuiu, mas "fundou a exceção" -a miséria e a exclusão social- por concentrar renda em
vez de distribuí-la. "Se crescimento a essas taxas ainda fosse
possível, a exceção seria maior,
não menor. Porque o desemprego seria maior, e não menor."
E as políticas estatais públicas
atuais, segundo ele, são "políticas de exceção" para "compensar aquilo que a sociedade e o Estado não podem dar". "Quando
se fala da Bolsa-Escola, está-se
falando de uma escola que não
pode ser frequentada. Quando
se fala de Fome Zero, está-se falando exatamente de uma fome
que não pode ser debelada."
Oliveira criticou a proposta de
reforma da Previdência, segundo ele um "ataque ao caráter republicano do Estado, em nome
do combate à desigualdade, que
reitera a desigualdade".
Na cerimônia em que se tornou cidadão paulistano, o sociólogo se referiu diversas vezes ao
seu Recife natal -chorou na
primeira delas- e disse que, em
nome da "exceção", vinha ali cobrar São Paulo por não ter usado
seu poder econômico para "varrer os estigmas de uma má formação republicana antidemocrática" no país todo.
"Essa é uma cobrança em nome de toda a federação, dos que
permanecem na província e dos
que foram obrigados a emigrar",
disse. "Mesmo que a história
dessa migração possa ser contada romanceadamente pela Rede
Globo como uma espécie de caminho de Garanhuns para a Presidência da República."
Ele disse ter odiado essa migração forçada na primeira vez
que chegou a São Paulo. "Não
ajudava muito, ao contrário, o
preconceito contra os baianos,
que reiterava a exceção da exclusão, e que ainda graça, veja-se a
infeliz frase do atual ministro da
Segurança Alimentar [José Graziano, que relacionou migração
e violência na cidade]."
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