São Paulo, domingo, 14 de junho de 1998

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SUCESSÃO
Reação da oposição leva ministro à afirmação
Estabilidade não é consenso, diz Malan

VALDO CRUZ
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília

VIVALDO DE SOUSA
da Sucursal de Brasília

O ministro Pedro Malan (Fazenda) disse à Folha ter "dúvidas" se existe um consenso na sociedade brasileira sobre a necessidade de manter a inflação sob controle e atingir um equilíbrio fiscal.
A declaração de Malan é uma resposta ao PT, que não quis discutir sua proposta de fazer um acordo entre governo e oposição de manutenção de uma política econômica que garanta a estabilidade de preços.
"Não achei que era pedir demais. Mas, pelas reações, alguns acharam que era pedir demais. Isso me fez ficar na dúvida se existe um consenso básico na sociedade brasileira sobre essas questões."
O candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, chegou a afirmar que, se o ministro Pedro Malan quer alguma coisa, ele deveria sair candidato. "Burocrata não terá vez. Ele (Malan) só sabe enxergar números e pesquisas e não sabe que, por trás de cada número, há uma criança com fome, um brasileiro desempregado", disse Lula.
Malan afirmou que sua proposta era que houvesse uma "manifestação clara, sem tergiversações", por parte do governo e das oposições, sobre "questões básicas que já foram resolvidas em outras economias do mundo".
Como exemplo, o ministro citou a estabilidade de preços, que preserva o poder de compra da moeda e do salário do trabalhador.
Segundo Malan, algo parecido aconteceu em outros países, como Argentina, França e Inglaterra. Nos dois últimos, partidos de esquerda chegaram ao poder.
O ministro descarta ainda uma aceleração nas desvalorizações do real, como defende o PT. Prefere também aguardar a divulgação do programa econômico de Lula para comentá-lo como um todo.

LULA E AS PESQUISAS - Ao comentar a subida de Lula nas pesquisas, Malan afirma: "Todos sabem que teremos uma eleição em outubro, e a maioria vai escolher aquele que lhe parece mais conveniente". O ministro diz encarar isso com serenidade. "Vivemos numa sociedade democrática."
PROGRAMA DO PT - "Eu me reservo o direito de comentar o programa depois que tiver sido apresentado à sociedade. Eu sou cauteloso." O PT prometeu anunciar seu plano de governo depois da Copa do Mundo.
ACORDO - Malan diz que jamais pediu um apoio "completo e generalizado" à política econômica de FHC. O ministro diz que um acordo seria interessante para as próprias oposições.
"No resto do mundo, as pessoas chegaram à conclusão de que inflação baixa é de interesse do país. E o respeito a restrições orçamentárias é algo que todo e qualquer governo sério e responsável deve levar em conta."
ARGENTINA - Malan diz que as oposições ao governo Carlos Menem assinaram, no ano passado, um documento assumindo o compromisso de assegurar a estabilidade do poder de compra do peso.
Sobre a Inglaterra, o ministro afirma que o trabalhismo britânico passou 15 anos alterando os estatutos do partido para deixar claro que seria mantido o poder de compra da libra esterlina e respeitadas as restrições orçamentárias.
POLÍTICA CAMBIAL - O PT defende uma aceleração nas desvalorizações do real. Malan não concorda. Diz que não há necessidade de desvalorizar o real além do que o governo vem fazendo. "A política cambial está correta."



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