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DIPLOMACIA
Ministro acusou intransigência em relação a direitos humanos
Intelectuais criticam declaração de Lampreia sobre regime cubano
da Redação
O arquiteto Oscar Niemeyer, o
crítico literário Antonio Candido,
o presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Barbosa Lima
Sobrinho, e o economista Celso
Furtado lançaram anteontem um
manifesto de repúdio a declarações do ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia.
Em entrevista ao "Jornal do
Brasil" publicada no último domingo, Lampreia criticou a suposta intransigência de Cuba em discutir mudanças na política de direitos humanos.
Segundo o ministro, essa postura do regime de Fidel levou-o a criticar Cuba durante a Assembléia
Geral da Organização dos Estados
Americanos (OEA), realizada em
Caracas no início deste mês. Leia a
seguir a íntegra do manifesto:
Contra o servilismo na política externa
São lastimáveis as declarações do ministro Lampreia
publicadas domingo, 7 de junho, no "Jornal do Brasil", sob o título "Cuba não está disposta ao diálogo".
O ministro esclarece ao longo da entrevista que tal afirmação, a ele atribuída, se deve ao fato de o governo
cubano não ter aceito a agenda de procedimentos sobre direitos humanos proposta por ele, como se alguma lei houvesse que obrigasse Havana a aceitá-la. E
desdenha a alegação de Cuba quanto às medidas especiais de segurança que aquele país tem de manter frente
aos Estados Unidos.
É incrível que o ministro ignore os quase 40 anos de
contínuas agressões dos Estados Unidos a Cuba, num
momento em que os próprios documentos oficiais
norte-americanos confessam com toda crueza a participação do governo de Washington em operações de
invasão armada e atentados terroristas que causaram
centenas de vítimas e enormes prejuízos materiais ao
povo Cubano, assim como confessam diversas tentativas de assassinato do presidente Fidel Castro. E não se
esqueça o implacável bloqueio econômico que vitima
Cuba desde os anos 60.
E é incrível que o ministro do Exterior do Brasil assuma tal postura prepotente diante de Cuba precisamente neste momento em que outros países do continente
procuram uma posição mais flexível em relação a ela e
quando o próprio papa levanta sua voz contra o cruel
bloqueio norte-americano.
A verdade é que, salvo aquele interregno da tristemente célebre política de "o que é bom para os Estados
Unidos é bom para o Brasil", que marcou o início da
ditadura militar, nunca o Brasil teve como hoje uma
política tão submissa aos Estados Unidos. Com toda a
crítica que se lhe possa fazer, o Itamaraty soube moldar
e manter uma tradição de política externa sensível à
defesa da soberania nacional, da paz e do entendimento entre os povos. A ruptura a que assistimos hoje, estarrecidos, e que não se reflete apenas na conduta em
relação a Cuba, mas também em outros episódios recentes -principalmente no açodado apoio prévio do
governo brasileiro ao ataque militar que os Estados
Unidos há poucos meses pretenderam empreender
contra o Iraque-, e injustificável e indesejável para os
interesses brasileiros, e por isso os signatários desta a
repudiam.
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