São Paulo, domingo, 14 de julho de 2002

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ELEIÇÕES 2002/ESTRATÉGIA

  Ataques ao candidato do PPS devem começar imediatamente

  Petistas pretendem explorar passado governista do adversário

PT se prepara para polarização com Ciro

FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

O crescimento de Ciro Gomes (PPS) obrigou o PT a elaborar um plano B de campanha, para o caso de a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva ficar polarizada com ele e não com José Serra (PSDB), como o partido vinha prevendo havia mais de um ano.
Na semana passada, a coordenação da campanha de Lula chegou à conclusão de que é preciso começar desde já a artilharia contra o ex-governador cearense.
O cenário de polarização com Ciro é considerado "mais confuso" do que a disputa direta com José Serra.
No começo, as críticas petistas terão intensidade moderada, com o partido caracterizando Ciro como um candidato híbrido, por isso inconsistente. E lembrando que ele é um dissidente do atual modelo. Declarações nesse sentido já foram feitas por alguns parlamentares petistas e devem se acumular.

Continuísmo
O ex-governador, segundo o PT, tem discurso de oposição, mas conquista cada vez mais aliados dentro do núcleo que sustentou o governo por sete anos, principalmente no PFL.
Uma idéia é brincar com o mote lançado por Serra quando assumiu sua candidatura, dizendo que Ciro, e não o tucano, é na verdade o candidato da "continuidade sem continuísmo".
"O Ciro vai passar a ser cobrado, se continuar a subir nas pesquisas, a esclarecer que oposição é essa que ele coloca. O eleitorado verdadeiramente oposicionista que ele tem pode começar a reclamar", declara o líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha.
O momento, no entanto, não é de abrir fogo pesado contra Ciro, segundo avaliam os petistas. Primeiro, é preciso saber se o seu crescimento nas pesquisas é sustentável ou mero reflexo da exposição na TV.
"O Ciro acaba de passar por um processo a que foram submetidos outros candidatos. Não está claro se ele tem condição real de brigar pelo segundo lugar", diz Cunha.
De qualquer modo, a disparada de Ciro chacoalhou os lulistas, que já se preparavam para uma disputa governo contra oposição, vista como "mais natural" e mais desejável.
Se a disputa se der entre dois oposicionistas, fica mais complexo para o PT demarcar território.

Artilharia
Por precaução, admitem petistas reservadamente, há artilharia "de alto impacto" guardada contra o cearense, possivelmente para o segundo turno.
Eufemisticamente, é chamada de "fase de exploração biográfica": o reforço a traços da vida do candidato que o irritam particularmente e que já vêm sendo utilizados por Serra.
Exemplos são o fato de ter pertencido ao PDS (sucessor da Arena, que dava sustentação ao regime militar), a ligação com ex-aliados de Fernando Collor e a própria caracterização dele como "clone" do ex-presidente.
Também está na manga, para uso futuro, a estratégia de apresentar Lula como o candidato do respeito aos contratos e acordos internacionais, em contraste com Ciro e sua proposta de "alongar" o perfil da dívida pública.
O cearense, ex-ministro da Fazenda (1994), seria também co-autor do que o PT considera erros do Plano Real. "A sobrevalorização da moeda, que custou tantos empregos e resultou na enorme dependência do Brasil frente o exterior, tem o dedo dele", diz o deputado Arlindo Chinaglia, da coordenação de campanha do PT.
Toda esta estratégia, no entanto, pode facilmente ser jogada no lixo caso a polarização de Lula e Ciro Gomes não ocorra. Neste caso, o candidato do PPS vira aliado preferencial para o segundo turno contra Serra e são esquecidos o PFL, Collor e a dívida "alongada".


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