São Paulo, quarta-feira, 14 de julho de 2004

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Platéia vai pedir bis, diz novo diretor

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em tom conciliador, o delegado da Polícia Civil de São Paulo Mauro Marcelo de Lima e Silva, 44, assumiu ontem a direção geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) apostando em uma trégua das facções internas do órgão e prometendo transparência e rigor com movimentos sociais.
"Tive cuidado de conversar com os grupos. Fizemos, entre aspas, um cachimbo da paz. Não há divergência ou briga, é mais como um descompasso", disse.
O cargo de diretor-geral é de confiança do presidente da República, está subordinado ao Gabinete de Segurança Institucional e, portanto, não existe um prazo para o término do mandato.
A principal demanda dos 1.600 funcionários, segundo enquete realizada por Lima e Silva, seria um plano de cargos e carreiras, já em análise pelo Congresso.
Lima e Silva evitou falar sobre casos do passado, pediu mais verbas, apostou na reeleição do presidente Lula e disse que auxiliará a Polícia Federal na investigação de Waldomiro Diniz -ex-assessor do Planalto flagrado pedindo propina. Abaixo, trechos do discurso de posse e de entrevista coletiva.
 

UNIÃO INTERNA "Firmo agora um compromisso de ser o porta-voz dos senhores em questões salariais e de carreira. Mas exijo competência e seriedade neste importantíssimo trabalho de inteligência. Eventuais descompassos internos são coisas do passado. Os senhores precisam saber, funcionários da Abin, os senhores são anjos de uma asa só. (...)
Tive cuidado de conversar com os grupos. Fizemos, entre aspas, um cachimbo da paz. Não são brigas, são mais como fagulhas numa oficina de trabalho."

TRANSPARÊNCIA "Reitero o caráter democrático de minhas convicções e, para isso, levantei a bandeira da transparência. Mas que não se confunda o interesse público com o interesse do público. (...) Vamos banir preconceitos, apagar estigmas e, principalmente, desmistificar a atividade de inteligência, imprescindível para a decisão estratégica do país."

MOVIMENTOS SOCIAIS "Prefiro falar de ameaças endógenas e exógenas. Não quero criar o parâmetro de inimigo interno, que conhecemos do passado. O MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] não é problema da Abin, o problema é a questão agrária. Da mesma forma, o PCC [Primeiro Comando da Capital] não o é, o problema é a segurança pública. Temos de lidar com o paradoxo do governo do PT e as questões sociais. A ação da Abin vai ser baseada na lei."

ERROS DA ABIN"Reservo-me o direito de não me manifestar sobre o que passou. Não sei como foi. Se me perguntam se teria ocorrido agora, na minha gestão, é uma questão complicada.
(...) Fazer um trabalho de inteligência em pleno funcionamento institucional, como é vivido no país, em uma democracia consolidada em que vivemos, é um grande desafio."

REELEIÇÃO DE LULA"Se o governo fosse um jogo de futebol, estaríamos a 34 minutos do primeiro tempo. Estamos ganhando, fizemos gols. Levamos alguns cartões amarelos, mas o estádio ovaciona. Há uma pequena torcida barulhenta do contra, eu mesmo já tomei caneladas. (...) Tenho certeza de que vamos ganhar de goleada. No final do jogo, a torcida, extasiada com a atuação do time do Estado, vai gritar "é campeão". Não será surpresa se, ao final, a torcida pedir "bis"."

RELAÇÃO COM A MÍDIA"Na minha visão de democracia, a imprensa é o principal pilar do Estado democrático de Direito. E a liberdade de imprensa é o verniz dessa pilastra. A imprensa não pode ser atingida nem mesmo pelo braço da Justiça."

CASO WALDOMIRO"Se estivéssemos investigando o Waldomiro, seríamos criticados, por desvio da finalidade, o SNI voltando a investigar. É uma questão delicada. (...) Com a Polícia Federal, vamos andar no fio da navalha sem se machucar. Podemos colaborar. Como? Com troca de eventuais informações, com escola de inteligência e tudo. Não vamos criar área de conflito com a competência da inteligência da PF."


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