São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 2002

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TRANSIÇÃO

Para presidenciável, reunião prejudicaria sua recuperação

Contrário ao convite, Serra aceita após falar com FHC

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso conversou no último domingo com o tucano José Serra sobre o convite que pretendia fazer aos quatro principais candidatos à Presidência para discutir o acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
O tucano era contrário aos encontros, por entender que passaria a idéia de que nem FHC acredita mais na sua recuperação. Além disso, ele foi o primeiro e o único a defender o acordo incondicionalmente. Rendendo-se à decisão do presidente, resolveu usar a iniciativa para posar de estadista cujo interesse do país estaria acima da própria candidatura.
"Não beneficia [a reunião com os presidenciáveis] nem o candidato A nem o candidato B", dizia ontem Serra. "Beneficia o Brasil."
A equipe de Serra argumenta também que o próprio FHC tomou decisões duras no ano de sua reeleição, em 1998, dizendo que elas eram necessárias ao país. Serra vai tentar faturar o acordo e o encontro de FHC com antigos desafetos nos seus programas no horário eleitoral gratuito.
O problema, para Serra, é que o acordo não acalmou o mercado, como se esperava. Nesse contexto, o Planalto e os estrategistas da campanha passaram a avaliar que a conversa de FHC com os presidenciáveis pode ser útil ao tucano, desde que contribua efetivamente para acabar com a instabilidade do mercado financeiro.
Para os estrategistas de Serra, será bom para o candidato governista que a eleição ocorra num clima de estabilidade econômica. Isso permitiria ao eleitor optar por um voto mais racional e menos emocional.

Crise
Um quadro de crise aguda, na avaliação da campanha tucana, só beneficiaria Ciro Gomes, o candidato do PPS: o tom de seu discurso estaria passando à população a imagem do candidato bem preparado, que fala bem e vai fazer o que tem de ser feito.
"A decisão de FHC está correta. A prioridade é o país. Se é útil ou não para a campanha, isso é secundário", disse à tarde o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães (BA).
Tanto a equipe de Serra quanto Jutahy Magalhães procuraram ontem caracterizar a iniciativa de FHC como "um gesto para fora", uma sinalização para os investidores internacionais de que a transição de poder no país ocorrerá sem traumas ou rupturas.
Esta não é a primeira vez que Serra e FHC assumem posições divergentes ao longo da campanha do tucano. Isso já havia ocorrido em relação à taxa de juros e ao aumento do preço do gás de cozinha, para citar os exemplos mais recentes.


Colaborou RAQUEL ULHÔA, da Sucursal de Brasília



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