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TRANSIÇÃO
Presidenciável volta a falar em compromisso com estabilidade
Ciro vai a FHC, mas diz que candidato não faz acordo
PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Embora rejeite ser responsabilizado pela atual crise cambial, o
candidato do PPS à Presidência,
Ciro Gomes, aceitou ontem convite feito pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para uma
conversa sobre o assunto na próxima segunda-feira, em Brasília.
Ciro recebeu ontem, no início
da noite, um telefonema do ministro Pedro Parente (Casa Civil),
oficializando o convite.
Aproveitando o momento para
uma crítica direta a Luiz Inácio
Lula da Silva (PT), entretanto, o
presidenciável afirmou, durante
palestra na ADVB (Associação
dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil), em São Paulo,
que não aceitará ser "domesticado" pelo mercado com o objetivo
de solucionar a atual instabilidade
cambial do país.
"O que posso oferecer à sociedade brasileira e ao segmento que
trabalha no mercado é minha experiência pessoal. Minha retórica
é que tenho compromisso de vida
com a responsabilidade fiscal,
com a estabilidade da moeda
-nenhum nível de inflação é tolerável-, e com o Estado democrático de Direito. O resto é tentativa de domesticação e comigo
não funciona. Vão domesticar o
Lula, que já está bem entreguezinho. A mim não vão domesticar",
disse ele, sob aplausos.
O presidenciável do PPS tem
deixado claro que não cogita dividir o ônus da atual crise com o governo. "Candidato não faz acordo", tem sido sua frase para explicar sua posição sobre o assunto.
Dizendo desconhecer os termos
do acordo com o FMI, Ciro tem
evitado assumir compromissos,
já que isso, em sua avaliação, trairia a confiança dos eleitores que
nele têm declarado voto na expectativa de mudanças na economia.
O ex-governador voltou a afirmar na palestra que, dada a situação de "deploração" em que foram deixadas as contas brasileiras, não havia outra "alternativa
possível" a não ser o FMI.
Em seu discurso, prometeu
manter o superávit de 3,75%, mas
preferiu não se pronunciar sobre
a possibilidade de utilização dos
US$ 24 bilhões do total de US$ 30
bilhões do empréstimo que estarão à disposição do próximo governo. "Isso não é possível dizer
hoje pelo simples fato de que você
não sabe a situação que vai estar
hoje ainda, pela volatilidade."
Na avaliação do pepessista, a variação na cotação do dólar está
sendo motivada pela especulação
feita com o vencimento, na próxima quinta-feira, de US$ 2,5 bilhões em títulos cambias. "Estão
especulando para que o real se
desvalorize. Querem inflar o câmbio para ganhar dinheiro", disse,
sem explicar a quem se referia.
Apesar de ter reafirmado seus
compromissos com as leis e os direitos adquiridos, o candidato,
questionado sobre o tema, ainda
declarou que as aplicações financeiras e a poupança serão "intocáveis" caso seja eleito.
Ciro também se recusou a comentar os boatos de que manteria
no cargo o atual presidente do
Banco Central, Armínio Fraga.
"Isso é fofoca de fofoqueiros da
imprensa. Não comento."
A atitude difere daquela demonstrada pelo presidenciável
em abril, quando o ex-governador chegou a elogiar as qualidades técnicas de Armínio, mas declarou que, em seu governo, ele
teria de buscar novo emprego.
Sondagem
Segundo a Folha apurou, um
primeiro contato de interlocutores de FHC com a equipe de Ciro
já havia ocorrido na última sexta,
quando Parente procurou o deputado Walfrido Mares Guia
(PTB), um dos coordenadores da
campanha do presidenciável.
No telefonema, o ministro quis
saber se Ciro concordaria com
uma reunião com o presidente caso fosse convidado. Depois de
conversar com o candidato, Mares Guia transmitiu ao ministro
uma resposta afirmativa.
Além de Ciro, também Lula,
Anthony Garotinho (PSB) e José
Serra (PSDB) serão recebidos por
FHC. Deverão discutir o acordo
com o FMI e a alta do dólar.
De acordo com a ADVB, 1.358
pessoas participaram do evento,
um recorde, segundo a entidade,
entre as últimas reuniões promovidas com políticos. Apesar de
Garotinho e de Serra já terem participado de encontros do gênero,
a melhor marca de público pertencia ao governador Geraldo
Alckmin, que disputa a reeleição.
Lula e DNA
Ao ser questionado sobre a declaração de Ciro, Lula, em campanha ontem em Curitiba, disse que
o adversário "é jabuticaba do
mesmo pé [do governo]". "Tem o
mesmo DNA. Pode ter uma cor
diferente, mas o DNA é igual."
Colaborou a Agência Folha, em Curitiba
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