São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 2002

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TRANSIÇÃO

Presidenciável volta a falar em compromisso com estabilidade

Ciro vai a FHC, mas diz que candidato não faz acordo

PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Embora rejeite ser responsabilizado pela atual crise cambial, o candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, aceitou ontem convite feito pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para uma conversa sobre o assunto na próxima segunda-feira, em Brasília.
Ciro recebeu ontem, no início da noite, um telefonema do ministro Pedro Parente (Casa Civil), oficializando o convite.
Aproveitando o momento para uma crítica direta a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), entretanto, o presidenciável afirmou, durante palestra na ADVB (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil), em São Paulo, que não aceitará ser "domesticado" pelo mercado com o objetivo de solucionar a atual instabilidade cambial do país.
"O que posso oferecer à sociedade brasileira e ao segmento que trabalha no mercado é minha experiência pessoal. Minha retórica é que tenho compromisso de vida com a responsabilidade fiscal, com a estabilidade da moeda -nenhum nível de inflação é tolerável-, e com o Estado democrático de Direito. O resto é tentativa de domesticação e comigo não funciona. Vão domesticar o Lula, que já está bem entreguezinho. A mim não vão domesticar", disse ele, sob aplausos.
O presidenciável do PPS tem deixado claro que não cogita dividir o ônus da atual crise com o governo. "Candidato não faz acordo", tem sido sua frase para explicar sua posição sobre o assunto.
Dizendo desconhecer os termos do acordo com o FMI, Ciro tem evitado assumir compromissos, já que isso, em sua avaliação, trairia a confiança dos eleitores que nele têm declarado voto na expectativa de mudanças na economia.
O ex-governador voltou a afirmar na palestra que, dada a situação de "deploração" em que foram deixadas as contas brasileiras, não havia outra "alternativa possível" a não ser o FMI.
Em seu discurso, prometeu manter o superávit de 3,75%, mas preferiu não se pronunciar sobre a possibilidade de utilização dos US$ 24 bilhões do total de US$ 30 bilhões do empréstimo que estarão à disposição do próximo governo. "Isso não é possível dizer hoje pelo simples fato de que você não sabe a situação que vai estar hoje ainda, pela volatilidade."
Na avaliação do pepessista, a variação na cotação do dólar está sendo motivada pela especulação feita com o vencimento, na próxima quinta-feira, de US$ 2,5 bilhões em títulos cambias. "Estão especulando para que o real se desvalorize. Querem inflar o câmbio para ganhar dinheiro", disse, sem explicar a quem se referia.
Apesar de ter reafirmado seus compromissos com as leis e os direitos adquiridos, o candidato, questionado sobre o tema, ainda declarou que as aplicações financeiras e a poupança serão "intocáveis" caso seja eleito.
Ciro também se recusou a comentar os boatos de que manteria no cargo o atual presidente do Banco Central, Armínio Fraga. "Isso é fofoca de fofoqueiros da imprensa. Não comento."
A atitude difere daquela demonstrada pelo presidenciável em abril, quando o ex-governador chegou a elogiar as qualidades técnicas de Armínio, mas declarou que, em seu governo, ele teria de buscar novo emprego.

Sondagem
Segundo a Folha apurou, um primeiro contato de interlocutores de FHC com a equipe de Ciro já havia ocorrido na última sexta, quando Parente procurou o deputado Walfrido Mares Guia (PTB), um dos coordenadores da campanha do presidenciável.
No telefonema, o ministro quis saber se Ciro concordaria com uma reunião com o presidente caso fosse convidado. Depois de conversar com o candidato, Mares Guia transmitiu ao ministro uma resposta afirmativa.
Além de Ciro, também Lula, Anthony Garotinho (PSB) e José Serra (PSDB) serão recebidos por FHC. Deverão discutir o acordo com o FMI e a alta do dólar.
De acordo com a ADVB, 1.358 pessoas participaram do evento, um recorde, segundo a entidade, entre as últimas reuniões promovidas com políticos. Apesar de Garotinho e de Serra já terem participado de encontros do gênero, a melhor marca de público pertencia ao governador Geraldo Alckmin, que disputa a reeleição.

Lula e DNA
Ao ser questionado sobre a declaração de Ciro, Lula, em campanha ontem em Curitiba, disse que o adversário "é jabuticaba do mesmo pé [do governo]". "Tem o mesmo DNA. Pode ter uma cor diferente, mas o DNA é igual."


Colaborou a Agência Folha, em Curitiba



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