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JANIO DE FREITAS
Caixas-pretas
O convite de Fernando
Henrique Cardoso aos quatro principais candidatos, para
tratar do novo acordo com o
FMI, é, em velha e branda imagem, um convite para salto no
escuro. Em terreno absolutamente desconhecido.
Se as únicas exigências do
FMI fossem as divulgadas pelo
governo e, vá lá, o acordo pudesse justificar as celebrações de Pedro Malan e da mídia, não haveria motivo para as conversas.
Nem para a urgência com que
Fernando Henrique deseja fazê-las.
Não faz sentido, também, o
argumento de que os candidatos devem entender-se com o governo porque o acordo se estende ao futuro mandato. A posição do futuro presidente, em relação ao acordo e mesmo ao
FMI, será decidida segundo as
políticas que considere mais
adequadas aos seus objetivos, e
isso tanto admite a confirmação
como a reforma dos termos aceitos pelo atual governo.
Ao que está divulgado, o acordo empresta US$ 6 bilhões até o
final do ano, para que Fernando
Henrique e Pedro Malan disfarcem a grandeza da crise que vão
deixar ao futuro presidente.
Trata-se menos de um socorro
ao Brasil do que ao governo posto a nu na sua hora final. Aproveitar o socorro, deixando-o como dívida a ser paga por nós outros, é o máximo que o governo
tem o direito de fazer em relação ao acordo. E nada que ultrapasse, seja em que medida, o
31 de dezembro em que expiram
os seus poderes.
Até tossir será perigoso ao
candidato que esteja em conversa com Fernando Henrique sobre o acordo: correrá o risco de
ver na TV e nos jornais que deu
um assentimento sucinto, porém claro, ao compromisso que
lhe foi pedido com o FMI. E, ainda que surpreendentemente pudessem concordar com as exigências verdadeiras do Fundo,
Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro
Gomes e Anthony Garotinho cometeriam imprudência irreparável. Não é só o acordo que se
afigura como caixa-preta.
O próximo presidente vai receber uma caixa-preta com dimensão nacional. O verdadeiro
estado do país só será conhecido
pelo novo presidente, se puder
sê-lo, depois de empossado e
posta a sua equipe a desvendar
as entranhas da máquina de governo e do país mesmo. A começar do Banco Central e da Fazenda, a escuridão é muito
maior do que a clareza. Só depois de algum conhecimento do
quadro o futuro governo estará
em condições de definir políticas
em relação à dívida recebida, a
mais endividamento ou não, e
portanto ao acordo e ao FMI.
Em tempo: José Serra não foi
citado acima porque, embora
não desfrutasse da confiança da
equipe econômica para saber
mais do que o óbvio, já deu
apoio pleno ao acordo, qualquer que sejam os seus termos.
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