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MILITARES
Rumor sobre vitória do Gripen gera dúvidas no meio militar, porque alcance do caça é considerado inadequado
Sueco é cotado como vencedor na licitação da FAB
IGOR GIELOW
COORDENADOR DA AGÊNCIA FOLHA
A novela da compra dos novos
caças da FAB está chegando ao
fim e o desfecho pode trazer uma
surpresa. Pelo menos dois concorrentes da licitação, ouvidos pela reportagem, dão como certa a
vitória do sueco-britânico Gripen.
O rumor tomou conta do corpo
técnico da Força Aérea Brasileira
ontem, provocando manifestações de estranheza, obviamente
anônimas, dado o respeito à hierarquia militar.
O chamada concorrência F-X,
de US$ 700 milhões para a compra de 12 caças que vão substituir
os Mirage IIIEBR atuais, consumiu meses de trabalho de cerca de
70 militares da FAB.
Do ponto de vista militar, o Gripen foi avaliado por essa equipe
como um excelente avião, mas
com sérias limitações de alcance
-tem um raio de combate de
cerca de 600 km.
Pesa a favor do Gripen o menor
custo por hora de vôo entre os
concorrentes -cerca de US$
2.000, menos que o norte-americano F-16 (US$ 2.500), o francês
Mirage 2000BR (US$ 3.500) e o
russo MiG-29 (US$ 6.000).
Já o preferido da avaliação técnica inicial da FAB, o também
russo Sukhoi Su-35, custa US$
8.000 por hora de vôo. Mas ele
tem duas turbinas, contra uma de
Gripen, Mirage e F-16, e tem um
raio de ação até três vezes maior.
São precisos menos aparelhos e
reabastecimentos.
O consórcio que o oferece, o Rosoboronexport/Avibrás, apresenta uma conta para exemplificar isso. Numa missão hipotética de jogar 4,5 toneladas de bombas em
um alvo a 3.000 km da base de
Anápolis, seriam necessários oito
Gripen com quatro reabastecimentos (ida e volta) para cada,
desempenho semelhante ao do
MiG. Ou seriam precisos seis Mirage ou F-16, com dois reabastecimentos cada. Já o Su-35 faria o
trabalho com um aparelho e nenhum reabastecimento.
Outra questão é a da transferência tecnológica. O consórcio que
oferece o Gripen promete amplo
acesso aos softwares que controlam o avião e os interliga com seus
sistema de armas.
Mas para operar o principal armamento que a FAB quer, um
míssil com capacidade BVR (sigla
inglesa para além do alcance visual), pode haver problemas. O
Gripen em uso na Suécia foi autorizado a usar os AIM-120C norte-americanos, mas com a condição
de que a integração dos sistemas
seja feita sob a supervisão da Força Aérea dos EUA -exatamente
o tipo de dependência que a FAB
queria evitar.
Um fator importante para a
eventual compra do Gripen é a
promessa de que empresas suecas
investiriam até US$ 2 bilhões no
Brasil se o negócio fosse fechado.
O governo russo oferece compensações de até US$ 2,2 bilhões e os
franceses, aliados à Embraer, prometem montar um parque para
fazer o Mirage no Brasil -isso os
havia colocado, no começo da licitação, como favoritos.
O consórcio Saab/BAe não quis
comentar o caso ontem. "Nós
apenas esperamos boas notícias,
mas não temos nenhum posicionamento", afirmou o vice-presidente para Brasil do grupo, Christer Ros. Já o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica informou que a decisão só será discutida na reunião do Conselho de Defesa Nacional -a ser marcada, sem data definida ainda.
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