São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 2002

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MILITARES

Rumor sobre vitória do Gripen gera dúvidas no meio militar, porque alcance do caça é considerado inadequado

Sueco é cotado como vencedor na licitação da FAB

IGOR GIELOW
COORDENADOR DA AGÊNCIA FOLHA

A novela da compra dos novos caças da FAB está chegando ao fim e o desfecho pode trazer uma surpresa. Pelo menos dois concorrentes da licitação, ouvidos pela reportagem, dão como certa a vitória do sueco-britânico Gripen.
O rumor tomou conta do corpo técnico da Força Aérea Brasileira ontem, provocando manifestações de estranheza, obviamente anônimas, dado o respeito à hierarquia militar.
O chamada concorrência F-X, de US$ 700 milhões para a compra de 12 caças que vão substituir os Mirage IIIEBR atuais, consumiu meses de trabalho de cerca de 70 militares da FAB.
Do ponto de vista militar, o Gripen foi avaliado por essa equipe como um excelente avião, mas com sérias limitações de alcance -tem um raio de combate de cerca de 600 km.
Pesa a favor do Gripen o menor custo por hora de vôo entre os concorrentes -cerca de US$ 2.000, menos que o norte-americano F-16 (US$ 2.500), o francês Mirage 2000BR (US$ 3.500) e o russo MiG-29 (US$ 6.000).
Já o preferido da avaliação técnica inicial da FAB, o também russo Sukhoi Su-35, custa US$ 8.000 por hora de vôo. Mas ele tem duas turbinas, contra uma de Gripen, Mirage e F-16, e tem um raio de ação até três vezes maior. São precisos menos aparelhos e reabastecimentos.
O consórcio que o oferece, o Rosoboronexport/Avibrás, apresenta uma conta para exemplificar isso. Numa missão hipotética de jogar 4,5 toneladas de bombas em um alvo a 3.000 km da base de Anápolis, seriam necessários oito Gripen com quatro reabastecimentos (ida e volta) para cada, desempenho semelhante ao do MiG. Ou seriam precisos seis Mirage ou F-16, com dois reabastecimentos cada. Já o Su-35 faria o trabalho com um aparelho e nenhum reabastecimento.
Outra questão é a da transferência tecnológica. O consórcio que oferece o Gripen promete amplo acesso aos softwares que controlam o avião e os interliga com seus sistema de armas.
Mas para operar o principal armamento que a FAB quer, um míssil com capacidade BVR (sigla inglesa para além do alcance visual), pode haver problemas. O Gripen em uso na Suécia foi autorizado a usar os AIM-120C norte-americanos, mas com a condição de que a integração dos sistemas seja feita sob a supervisão da Força Aérea dos EUA -exatamente o tipo de dependência que a FAB queria evitar.
Um fator importante para a eventual compra do Gripen é a promessa de que empresas suecas investiriam até US$ 2 bilhões no Brasil se o negócio fosse fechado. O governo russo oferece compensações de até US$ 2,2 bilhões e os franceses, aliados à Embraer, prometem montar um parque para fazer o Mirage no Brasil -isso os havia colocado, no começo da licitação, como favoritos.
O consórcio Saab/BAe não quis comentar o caso ontem. "Nós apenas esperamos boas notícias, mas não temos nenhum posicionamento", afirmou o vice-presidente para Brasil do grupo, Christer Ros. Já o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica informou que a decisão só será discutida na reunião do Conselho de Defesa Nacional -a ser marcada, sem data definida ainda.



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