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JANIO DE FREITAS
A quieta inquietude
O governo está incomodado com o governo. Convenhamos que é uma sensação
bem pouco original, nas atuais
circunstâncias. Ainda assim, diferentemente de muitos petistas
ilustres e de outros nem tanto, o
governo reconhece que é preciso
fazer alguma coisa para atenuar a percepção generalizada
de que é um governo que não se
mexe. Ou, como diz um ex-conselheiro de Lula, posto à distância porque não esquece o que dizia e o que ouvia, só se mexe para jogar as peladas palacianas.
Injusto exagero, porque volta e
meia um dos ministros está com
algo fraturado no lado esquerdo
e barrado por essa coerência ortopédica, à falta de outra melhor.
O que importa é a providência
do presidente, de reunir os ministros para pedir-lhes a relação
das obras paradas ou em faz-de-conta, que possam ser concluídas em futuro próximo para
mostrar realizações governamentais. A bem dizer, é a terceira reunião que o presidente faz
com a mesma finalidade e as
mesmas pessoas, o que é mais
uma prova de governo que se
mexe. Poderia ser ainda a 2ª, já
a 15ª ou a 23ª, sem haver a menor diferença. Porque as reuniões dão primeiras páginas e
telejornais, mas delas não decorre o fundamental.
Eis, a propósito, algumas palavras bem recentes de Joelmir
Beting, comentarista, presumo,
não alvejado pelos petistas em
desespero de causa: "O governo
Lula aprumou-se para investir,
neste seu primeiro ano de estrada, R$ 630 milhões na malha rodoviária. Até julho, investiu nada além de R$ 2,7 milhões".
Com esse dinheiro, nota Joelmir,
não dá nem "para repintar as
placas da sinalização rarefeita
nos 52 mil quilômetros de pistas
supostamente pavimentadas".
Cada qual com os seus problemas, os ministérios todos estão
sufocados e inutilizados pela recusa do ministro da Fazenda de
liberar-lhes as verbas. São centenas ou já milhares de prefeituras, pelo país afora, que aderiram forçadamente ao estilo
Brasília atual: não se mexem
mais - por falta das verbas que
lhe devidas, mas não lhes são repassadas pelo governo federal.
As novidades mais recentes, nesse sentido, vêm da área da Saúde: verbas de programas tão importantes como o de redução da
catarata e do diabetes na população, para combater os altos índices de cegueira e outras desgraças, entram na linha dos cortes.
Somadas, as recusas à liberação de verbas explicam o grande
êxito do ministro Antonio Palocci, o tal superávit de 5,41%
em relação ao PIB, muito acima
dos 4,25% que prometeu espontaneamente ao FMI, cuja exigência era de 3,75%. E, o que tudo indica ser do seu agrado na
mesma medida, quanto mais
sejam retidas as verbas, menos o
governo se mexe. Fica todo ele
igualzinho ao recessivo Ministério da Fazenda.
Relativa
A marchinha carnavalesca do
genial Max Nunes dizia assim:
"Tamanduá, e, i, o, u
galinha preta
não tem nada com peru".
Bem, agora, depende.
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