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RALOS DA REPÚBLICA
Controladoria Geral da União fiscalizou 81 cidades do país
Verba social "evapora" na corrupção dos municípios
ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
As verbas repassadas a fundo
perdido pelo governo federal, sob
a forma de convênios e de programas de complementação de renda, são o principal foco de corrupção, fraudes e irregularidades nas
81 prefeituras fiscalizadas neste
ano, após sorteio, pela Controladoria Geral da União.
Entre os programas com mais
indícios de fraudes estão os convênios da Funasa (Fundação Nacional da Saúde) para construção
de redes de água e esgoto e instalação de banheiros domiciliares
em regiões carentes, no programa
de erradicação de doenças. Outros dois grandes focos de problemas são os repasses dos ministérios da Educação e da Integração
Nacional.
Dos 4.500 convênios da Funasa,
500 estão sob tomada de contas
especial, por suspeita de desvios.
As obras são administradas pelas
prefeituras, que entram com contrapartida de 10% dos custos. Os
90% restantes vêm da União.
Os relatórios da CGU mostram
dezenas de casos de desvio de dinheiro da Funasa. A prefeitura de
Oiapoque (AP) desperdiçou R$
96.400 destinados à construção de
um sistema de abastecimento de
água na aldeia Kumarumã.
Segundo a fiscalização, a obra
parou nos alicerces, mas o dinheiro foi gasto. A prefeitura confirma
o desvio e atribui a responsabilidade ao prefeito afastado Milton
Rodrigues (PMDB). Ela diz que
está investigando a destinação do
dinheiro.
Em Taperoá (BA), obras de um
sistema de abastecimento, que
custaram R$ 100 mil à Funasa, estão igualmente abandonadas.
O auditor-chefe da Funasa, Rômulo Lins, diz que as informações
trazidas pelos auditores da CGU
que visitaram os municípios não
o surpreendem. Ele afirma que a
Caixa Econômica Federal passará
a fiscalizar a execução dos projetos e que só estão sendo liberados
novos recursos após comprovada
a execução dos já concedidos.
"Sovaco de aleijado"
O programa Bolsa Escola, do
Ministério da Educação, também
aparece nos relatórios da CGU como uma fonte de fraudes. Em Cachoeira do Piriá (PA), os fiscais
flagraram a chefe de gabinete do
prefeito, uma diretora da rede
municipal de ensino e um vereador entre as famílias contempladas com o complemento de renda
mínima do governo de R$ 15 por
mês por criança.
Segundo a CGU, os três têm
rendimento familiar acima do teto admitido para o cadastramento
das famílias (R$ 90 mensal per capita) e não poderiam receber o
benefício.
O prefeito da cidade, Ademir
Oliveira, do PSDB, diz que reprova o comportamento deles, mas
que aceitou a argumentação que
lhe apresentaram de que também
são pobres. ""Somos o município
mais pobre do Pará. A cidade inteira sofre mais do que sovaco de
aleijado", diz o prefeito.
Ociosidade no DNOCS
No pequeno município de Alvorada do Gurguéia (4.211 habitantes, no Piauí), os fiscais da CGU
acharam 32 funcionários do
DNOCS (Departamento Nacional
de Obras Contra as Secas, do Ministério da Integração Nacional)
completamente ociosos.
No local, está um dos seis projetos de irrigação construídos pelo
DNOCS no Piauí nos anos 70.
Ele custou cerca de US$ 50 milhões e se encontra sucateado. Da
estrutura original, para irrigação
de 1.800 hectares, restam apenas
300 hectares irrigados, que produzem feijão com baixíssima produtividade.
O quadro desolador se completa com a falência da cooperativa
dos produtores de Gurguéia, formada por famílias assentadas pelo governo federal, que tomaram
empréstimos no Banco do Nordeste para comprar equipamentos agrícolas e hoje acumulam R$
5 milhões em dívidas.
Para o coordenador do DNOCS
no Piauí, José Carvalho Rufino, o
projeto Gurguéia é símbolo do
mau gerenciamento do dinheiro
público de vários governos.
Rufino diz que o departamento
tem 38 projetos de irrigação em
situação semelhante no Nordeste
e que a meta do departamento é
recuperá-los.
No município de Vicentina
(MS, a 240 Km de Campo Grande), o ginásio construído com R$
143 mil repassados, a fundo perdido, pelo Ministério dos Esportes
desabou dez meses depois de
inaugurado, em outubro de 2000.
Como a recuperação foi orçada
em R$ 250 mil, a construção foi
definitivamente abandonada.
O prefeito da cidade, Francisco
Figueiredo (PMDB), diz que entrou com ação judicial para que
seja identificado o responsável
pela má qualidade do projeto,
executado na gestão de seu antecessor, Odilson Dias (PSDB). Não
foi feita a prestação de contas e o
município ficou inadimplente perante o governo federal, diz ele.
Entre os exemplos de mau uso
do dinheiro público pinçados pela Folha nas auditorias da CGU
está a construção de uma granja
comunitária e de um matadouro
em Amajari (RR).
As obras custaram R$ 888 mil e
o dinheiro foi repassado à prefeitura, a fundo perdido, pela Suframa (Superintendência da Zona
Franca de Manaus).
As construções estão prontas
desde 1998, mas nunca funcionaram. O motivo, segundo o secretário de finanças do município,
Alzani Gladson, é a inexistência
de energia elétrica.
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