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DIPLOMACIA
Texto final para a 61ª Assembléia Geral deixa em aberto definição sobre ampliação do Conselho de Segurança
Documento da ONU contraria principais interesses do Brasil
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK
Os principais pontos de interesse do Brasil e das nações em desenvolvimento na 60ª Assembléia
Geral das Nações Unidas, que começa hoje, ficaram de fora do documento final acordado ontem
entre os 191 países que integram a
instituição.
A principal derrota para o Brasil
se deu em relação à ampliação do
Conselho de Segurança (CS). A
diplomacia brasileira esperava
um compromisso de uma decisão
final até dezembro, mas o documento deixa explícito que não haverá, necessariamente, uma definição.
No texto acordado, o termo usado é "early reform" (reforma em
breve). "Com vistas a alcançar
uma decisão", a Assembléia Geral
fará "uma avaliação do progresso
(da questão) até o final do ano".
A ampliação do CS é a principal
bandeira do Brasil na reforma da
ONU e uma das maiores apostas
da diplomacia do governo Lula. O
documento joga para um segundo plano as aspirações do país,
que integra o G-4, grupo que reúne ainda Alemanha, Japão e Índia.
Os quatro ambicionam participar
como membros permanentes do
conselho, que hoje tem apenas
cinco (EUA, França, Reino Unido, China e Rússia).
Vitória dos EUA
Assim como no caso do CS, ficaram de fora do documento os
principais pontos com os quais os
EUA não concordavam, como a
questão da não-proliferação de
armas e desarmamento e a aplicação das regras do Tribunal Penal
Internacional para todos os países-membros.
A questão do desarmamento,
por exemplo, ocupava um capítulo inteiro e virou um pequeno parágrafo. Os EUA querem compromissos dos países para a não-proliferação, mas pouco fazem
para reduzir seu próprio arsenal.
Os EUA também não concordaram -e não constou do documento- com o compromisso
dos países ricos para que seja destinado 0,7% do PIB (Produto Interno Bruto) para um fundo de
combate à pobreza. O texto menciona apenas uma intenção, sem
caráter mandatório.
"É aceitável. Não chega a ser o
que desejávamos", disse o subsecretário-geral de Assuntos Políticos do Itamaraty, Antonio Patriota, sobre o documento final aprovado ontem. Apesar dos revezes,
Patriota classificou o texto como
"possível" e "positivo".
Já o embaixador dos EUA na
ONU, John Bolton, se disse satisfeito com os resultados. "Seria errado pedir mais do que é realista e
correto em relação a essas reformas. Esses são passos à frente,
embora não seja o "alfa" ou o
"ômega". Mas nunca pensamos
que seria assim."
Dias antes do acordo de ontem,
os EUA apresentaram mais de
700 emendas a um texto de 36 páginas que vinha sendo negociado
entre os países. O fato levantou o
temor de que uma assembléia que
tinha como ambição aprovar a reforma mais profunda desde a
criação da ONU, em 1945, acabasse fracassada.
O fracasso deu lugar a um documento aguado apresentado na última hora pelo atual presidente da
Assembléia Geral, Jean Ping (do
Gabão), que não chegou a uma
definição sobre nenhum dos pontos polêmicos.
Mesmo assim, os EUA, ao contrário da maioria dos países, se recusaram a apoiar diretamente ou
mesmo se pronunciar sobre o texto antes de sua aprovação final, na
tarde de ontem.
Não houve acordo também para a reforma da Comissão de Direitos Humanos, que enfrenta
fortes críticas por ter entre seus
integrantes países onde há violações graves desses mesmos direitos, como a Líbia. O documento
prevê apenas diretrizes para futuras negociações. "É um parágrafo
emagrecido", disse Patriota.
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva participa do encontro da
ONU a partir de hoje. O brasileiro
fica em Nova York até amanhã,
quando retorna ao Brasil.
Já o presidente dos EUA, George W. Bush, chegou a Nova York
ontem sob forte esquema de segurança no entorno do hotel onde
está hospedado, o Waldorf Astoria, o mesmo que Lula e um dos
mais famosos de Nova York.
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