São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O PRESIDENTE

Presidente afirma que ex-prefeito não será o primeiro nem o último preso pela PF e comenta situação de Severino e eleições no PT

Maluf não será o único punido, diz Lula

EDUARDO SCOLESE
ENVIADO À CIDADE DA GUATEMALA

Em rápida entrevista ontem na Cidade da Guatemala, onde cumpriu agenda oficial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o ex-prefeito paulistano Paulo Maluf não será o "primeiro nem o último" a ser preso pela Polícia Federal por conta de irregularidades. "Todos que tiverem alguma dívida com a sociedade terão de ser investigados e terão de ser punidos", disse.
Cercado por jornalistas brasileiros no saguão do hotel em que se hospedou na capital guatemalteca, Lula comentou as eleições petistas do próximo domingo, a situação política do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), a pesquisa CNT/Sensus de ontem e a suspeita de que o PT pagou passagens aéreas a seus familiares com recursos do Fundo Partidário, o que é irregular.
A entrevista ocorreu um dia depois de Lula ter sido alvo de críticas da imprensa da Guatemala, por, segundo ela, o Planalto não ter autorizado perguntas a ele em cerimônia oficial de declaração à imprensa. Ontem, Lula falou aos jornalistas brasileiros por exatos cinco minutos, cercado de assessores e seguranças brasileiros e guatemaltecos.

 

MALUF - Lula foi questionado se a prisão de Maluf representa um marco. "Olha, veja, não a prisão do Maluf. Todos os que forem comprovadamente pegos cometendo irregularidades têm de ser julgados em igualdade de condições. A Polícia Federal está fazendo o seu trabalho, como fará o trabalho em outros casos que encontrar irregularidade."
"O Brasil tem de ser justo para todos os brasileiros. Você não pode mais conviver num país onde uma minoria tem todo o privilégio e uma grande maioria não tem nenhum direito praticamente. Eu acho que não é o Maluf o primeiro e não será o Maluf o último. Todos os que tiverem dívida com a sociedade terão de ser investigados e terão ce ser punidos."

SEVERINO - Na entrevista, Lula falou pela primeira vez sobre a situação política do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti. "O que vale para os outros deputados vale para o presidente Severino. Há uma denúncia contra ele, ele diz que a denúncia é falsa. Agora cabe ao Congresso, com muita maturidade, investigar, e, depois de investigar, tomar a decisão."
A seguir, o presidente foi indagado se Severino está politicamente derrotado. "Eu não posso analisá-lo politicamente. A única coisa que posso analisar é em cima de fatos. E os fatos dizem o quê? Que tem uma acusação contra ele, e ele diz que é mentirosa."

PESQUISA - Mesmo dizendo que "não tem por hábito" comentar pesquisas, Lula falou do resultado da CNT/Sensus divulgada ontem, que mostrou a queda de sua aprovação. O presidente demonstrou confiança, dizendo que um governante em sua situação, diante de uma crise política, já estaria com índice "zero" de aprovação.
"Eu estou muito tranqüilo e fico de vez em quando me perguntando, se não fosse eu e fosse outro presidente [que] estivesse vivendo essas circunstâncias, possivelmente estaria abaixo de zero. Ou seja, eu estou tranqüilo de que as pesquisas não refletem o que você pode fazer no governo."
Antes de mais uma vez elogiar os trabalhos do Congresso, do governo, da Justiça e do Ministério Público, Lula respondeu se teme um desgaste pessoal. "Muitos adversários em algum momento pensaram que todas as críticas que fazem poderiam levar o governo a estar como outros já estiveram, com pontos negativos."

PT - Um dos fundadores do PT, em 1980, Lula disse ontem que, na sua opinião, as eleições para a sucessão do comando do partido não seriam realizadas no domingo, e sim num momento de mais "tranqüilidade". "Eu não sei se [o PT] vai mudar muito. Obviamente que o partido passa por um momento difícil e é o momento de os militantes do partido dizerem que partido querem. Eu particularmente não gostaria que tivesse [a eleição], que esperasse um momento para fazer isso com mais tranqüilidade. Mas já que a direção do partido manteve a data, acho que tem de fazer."

FUNDO PARTIDÁRIO - Com ironia, Lula comentou o fato de seus familiares terem supostamente sido beneficiados por recursos do Fundo Partidário com pagamentos de passagens aéreas em 2002, assim como o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda). "Eu até fiquei surpreso com a notícia. Agora eu estranharia se fosse o PSDB ou o PFL que tivesse pago a minha passagem. Mas o PT tinha mais era a obrigação de pagar."


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