São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

Uma frase para Palocci

A freqüência de Palocci à casa revelada por Francenildo, à parte motivações pessoais, precisa de um outro inquérito

O INDICIAMENTO de Antonio Palocci pela Polícia Federal esclarece muito bem a operação, com ao menos quatro crimes, dirigida por Palocci para apresentar o caseiro Francenildo Costa como subornado para as denúncias que fez. Mas outro aspecto da freqüência de Palocci à casa revelada por Francenildo, à parte o aspecto das motivações pessoais, precisa dos esclarecimentos de um outro inquérito.
Nos depoimentos em inquéritos parlamentares e policiais há referências, feitas a partir da revelação de Francenildo, de uso da casa para reuniões do então ministro com o grupo chamado de "república de Ribeirão Preto". Só essas referências já justificariam investigações voltadas para a finalidade das reuniões. Mas houve indicação ainda mais direta, com toda a explicitude, por parte de um depoente tão produtivo, embora em sentido diferente, quanto Francenildo Costa.
Em seu último ou penúltimo depoimento na Câmara, Rogério Buratti aproveitou um breve intervalo de diálogo, e nele encaixou esta frase: "O que interessa saber (ou "o importante é saber') para que eram as reuniões na casa". Foi desse mesmo jeito mais insinuado, voz baixa, que Buratti introduziu muitas indicações úteis aos questionadores. No caso, o teatrinho dos parlamentares logo se reanimou, e a frase de Buratti nada rendeu.
Nem por isso perdeu-se. E não só porque ficou gravada. Mas porque está viva como expectativa de esclarecimento com potencial equivalente, talvez, ao dos escândalos em que surgiu. Embora se limite a uma referência, no indiciamento de Palocci, o delegado Rodrigo Carneiro Gomes alerta o Ministério Público para indícios do crime de advocacia administrativa por Palocci. Práticas que costumam remeter a reuniões de negócios. E lembram Buratti.

Consulta
A repercussão do relato feito por Fernando Rodrigues, na Folha, da presença de numerosos magistrados em reunião patrocinada pela Federação de Bancos, na ilha baiana de Comandatuba, tem provocado a sugestão mais previsível: membros do Judiciário seriam proibidos de comparecer a eventos patrocinados por entidades com causas judiciais.
Causas judiciais não envolvem só incriminados, mas também detentores da razão. Além disso, há eventos muito justificáveis em que os palestrantes (inclusive juízes), por não receberem remuneração, têm suas despesas pagas. Para prevenir fatos como o de Comandatuba, aos membros do Judiciário não seria necessário senão obter o assentimento do Conselho Nacional de Justiça.
A propósito, em Comandatuba estavam repórteres de vários jornais. Por que só um repórter registrou, e só um jornal publicou, a presença dos 41 magistrados de tribunais superiores? O silêncio voluntário é que é acusador, não a notícia.


Texto Anterior: Ausente, Lula é alvo de críticas de adversários em debate na TV
Próximo Texto: Eleições 2006/Rumo a 2010: Alckmin e Aécio se unem contra Serra e FHC
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.