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JANIO DE FREITAS
Uma frase para Palocci
A freqüência de Palocci à casa revelada por Francenildo, à parte motivações pessoais, precisa de um outro inquérito
O INDICIAMENTO de Antonio
Palocci pela Polícia Federal
esclarece muito bem a operação, com ao menos quatro crimes,
dirigida por Palocci para apresentar
o caseiro Francenildo Costa como
subornado para as denúncias que
fez. Mas outro aspecto da freqüência
de Palocci à casa revelada por Francenildo, à parte o aspecto das motivações pessoais, precisa dos esclarecimentos de um outro inquérito.
Nos depoimentos em inquéritos
parlamentares e policiais há referências, feitas a partir da revelação
de Francenildo, de uso da casa para
reuniões do então ministro com o
grupo chamado de "república de Ribeirão Preto". Só essas referências já
justificariam investigações voltadas
para a finalidade das reuniões. Mas
houve indicação ainda mais direta,
com toda a explicitude, por parte de
um depoente tão produtivo, embora
em sentido diferente, quanto Francenildo Costa.
Em seu último ou penúltimo depoimento na Câmara, Rogério Buratti aproveitou um breve intervalo
de diálogo, e nele encaixou esta frase: "O que interessa saber (ou "o importante é saber') para que eram as
reuniões na casa". Foi desse mesmo
jeito mais insinuado, voz baixa, que
Buratti introduziu muitas indicações úteis aos questionadores. No
caso, o teatrinho dos parlamentares
logo se reanimou, e a frase de Buratti
nada rendeu.
Nem por isso perdeu-se. E não só
porque ficou gravada. Mas porque
está viva como expectativa de esclarecimento com potencial equivalente, talvez, ao dos escândalos em que
surgiu. Embora se limite a uma referência, no indiciamento de Palocci,
o delegado Rodrigo Carneiro Gomes
alerta o Ministério Público para indícios do crime de advocacia administrativa por Palocci. Práticas que
costumam remeter a reuniões de
negócios. E lembram Buratti.
Consulta
A repercussão do relato feito por
Fernando Rodrigues, na Folha, da
presença de numerosos magistrados
em reunião patrocinada pela Federação de Bancos, na ilha baiana de Comandatuba, tem provocado a sugestão
mais previsível: membros do Judiciário seriam proibidos de comparecer a
eventos patrocinados por entidades
com causas judiciais.
Causas judiciais não envolvem só
incriminados, mas também detentores da razão. Além disso, há eventos
muito justificáveis em que os palestrantes (inclusive juízes), por não receberem remuneração, têm suas despesas pagas. Para prevenir fatos como
o de Comandatuba, aos membros do
Judiciário não seria necessário senão
obter o assentimento do Conselho
Nacional de Justiça.
A propósito, em Comandatuba estavam repórteres de vários jornais. Por
que só um repórter registrou, e só um
jornal publicou, a presença dos 41 magistrados de tribunais superiores? O
silêncio voluntário é que é acusador,
não a notícia.
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