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GOVERNADORES
ANÁLISE
Levantamento mostra que, em 8 Estados, candidatos ao governo mais votados na contagem geral não venceram na principal cidade
Capital e interior divergem nas urnas
MAURO ALBANO
MARI TORTATO
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA
Nem sempre os eleitores das capitais pensam da mesma forma
que os eleitores do interior na hora de escolher o candidato. Um levantamento feito pelo país mostra
que os resultados das urnas em 12
Estados foram divergentes quando são levados em conta os votos
na capital e no interior.
Em oito Estados- Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Paraná, Rio Grande do Sul e Roraima-, os candidatos ao governo
mais bem votados na contagem
geral não ficaram em primeiro lugar nas respectivas capitais.
Já, em quatro Estados -Amazonas, Amapá, Mato Grosso e
Santa Catarina-, as eleições ao
governo teriam outro segundo
colocado se levados em conta
apenas os votos da capital.
Para os especialistas, a divergência entre os eleitores das capitais e os do interior pode ser explicada pela localização da base política do candidato, pela falta de estrutura de determinados partidos
em regiões menos urbanizadas e
pelo acesso à informação.
"Em certas regiões, o eleitor do
interior tem menos acesso à informação e ao contraditório do que o
eleitor urbano, que costuma ter
mais independência em relação
aos chefes políticos locais", diz o
cientista político e professor da
UFPE (Universidade Federal de
Pernambuco) Michel Zaidan.
Em seis Estados (BA, CE, MA,
PA, RS e RO), o candidato mais
votado na capital pertence a um
partido considerado de esquerda,
que na soma total de votos acabou
derrotado por um de tendências
políticas mais conservadoras.
O PT teve mais votos para governador em Salvador, Fortaleza,
Belém e Porto Alegre; o PDT, em
São Luís, e o PSB, em Porto Velho
(RO). Mas quem ficou em primeiro lugar na contagem geral foram
PFL (BA e MA), PSDB (CE, PA e
RO) e PMDB (RS).
Segundo o analista Rubens Figueiredo, diretor do Cepac Pesquisa & Comunicação, nas áreas
urbanas o discurso de oposição
tem maior penetração porque é
mais difícil para um grupo hegemônico controlar o acesso à informação. No Nordeste, a preferência esquerdista nas capitais é
mais evidente. Nos Estados em
que PT ou PSB venceram, a vantagem de seus candidatos sobre os
segundos colocados foi ainda
maior nas capitais.
Paraná
Um caso emblemático é o do
Paraná. O senador Alvaro Dias
(PDT) vai reforçar sua estrutura
de segundo turno ao governo do
Estado em Curitiba. Também
pretende passar o maior tempo
no corpo-a-corpo na capital. Não
sem motivos. Sua coordenação de
campanha sabe que Curitiba pode representar uma eventual derrota em 27 de outubro.
Primeiro em número de votos
no Estado no dia 6, Alvaro amargou a quarta posição em Curitiba
entre os concorrentes. No conjunto das regiões, ele fez menos votos
que os adversários só na região de
Curitiba e no Sudoeste.
Reduto eleitoral do concorrente
de segundo turno, o também senador Roberto Requião (PMDB),
a capital paranaense tem sido
uma pedra no caminho político
do senador do PDT. Com seus 1,1
milhão de eleitores, Curitiba detém 17,2% do colégio eleitoral do
Estado, que é de 6,6 milhões.
Com base eleitoral originada no
norte do Estado, Alvaro vem acumulando reveses na capital. O último foi em 1994, quando os votos
dos curitibanos garantiram ao governador Jaime Lerner (PFL) derrotá-lo no primeiro turno.
Naquele ano, Lerner saiu do
pleito com 515.777 votos de Curitiba. Alvaro somou 143.154. As urnas de domingo mostraram que
as dificuldades persistem.
Animados pelos resultados das
eleições em Salvador, os partidos
que fazem oposição ao senador
eleito Antonio Carlos Magalhães
(PFL) já começaram a fazer planos para "reconquistar" a hegemonia política da capital baiana,
perdida há seis anos para o PFL.
Os números comprovam o melhor desempenho das oposições
nos últimos dez anos em Salvador. Além de o petista Luiz Inácio
Lula da Silva ter registrado na primeira capital brasileira o seu melhor desempenho entre todas as
cidades com mais de 1,5 milhão
de habitantes (73,7% dos votos
válidos), todos os oposicionistas
derrotaram os seus adversários
apoiados pelo senador ACM.
O deputado federal Jaques
Wagner obteve 56,9% dos votos
válidos para o governo, contra
36,6% dados ao senador Paulo
Souto (PFL), que acabou vencendo a eleição no primeiro turno.
"Os eleitores de Salvador demonstraram nas urnas que as
suas insatisfações políticas têm
nomes e pertencem ao carlismo",
disse o cientista político Jovianiano Neto, 60, professor da UFBa
(Universidade Federal da Bahia).
Ele alerta: "Em dois anos, os
candidatos oposicionistas à prefeitura não terão mais o fenômeno Lula como puxador de votos
simultaneamente às eleições."
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