São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 2002

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GOVERNADORES

ANÁLISE

Levantamento mostra que, em 8 Estados, candidatos ao governo mais votados na contagem geral não venceram na principal cidade

Capital e interior divergem nas urnas

MAURO ALBANO
MARI TORTATO
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA

Nem sempre os eleitores das capitais pensam da mesma forma que os eleitores do interior na hora de escolher o candidato. Um levantamento feito pelo país mostra que os resultados das urnas em 12 Estados foram divergentes quando são levados em conta os votos na capital e no interior.
Em oito Estados- Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Paraná, Rio Grande do Sul e Roraima-, os candidatos ao governo mais bem votados na contagem geral não ficaram em primeiro lugar nas respectivas capitais.
Já, em quatro Estados -Amazonas, Amapá, Mato Grosso e Santa Catarina-, as eleições ao governo teriam outro segundo colocado se levados em conta apenas os votos da capital.
Para os especialistas, a divergência entre os eleitores das capitais e os do interior pode ser explicada pela localização da base política do candidato, pela falta de estrutura de determinados partidos em regiões menos urbanizadas e pelo acesso à informação.
"Em certas regiões, o eleitor do interior tem menos acesso à informação e ao contraditório do que o eleitor urbano, que costuma ter mais independência em relação aos chefes políticos locais", diz o cientista político e professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) Michel Zaidan.
Em seis Estados (BA, CE, MA, PA, RS e RO), o candidato mais votado na capital pertence a um partido considerado de esquerda, que na soma total de votos acabou derrotado por um de tendências políticas mais conservadoras.
O PT teve mais votos para governador em Salvador, Fortaleza, Belém e Porto Alegre; o PDT, em São Luís, e o PSB, em Porto Velho (RO). Mas quem ficou em primeiro lugar na contagem geral foram PFL (BA e MA), PSDB (CE, PA e RO) e PMDB (RS).
Segundo o analista Rubens Figueiredo, diretor do Cepac Pesquisa & Comunicação, nas áreas urbanas o discurso de oposição tem maior penetração porque é mais difícil para um grupo hegemônico controlar o acesso à informação. No Nordeste, a preferência esquerdista nas capitais é mais evidente. Nos Estados em que PT ou PSB venceram, a vantagem de seus candidatos sobre os segundos colocados foi ainda maior nas capitais.

Paraná
Um caso emblemático é o do Paraná. O senador Alvaro Dias (PDT) vai reforçar sua estrutura de segundo turno ao governo do Estado em Curitiba. Também pretende passar o maior tempo no corpo-a-corpo na capital. Não sem motivos. Sua coordenação de campanha sabe que Curitiba pode representar uma eventual derrota em 27 de outubro.
Primeiro em número de votos no Estado no dia 6, Alvaro amargou a quarta posição em Curitiba entre os concorrentes. No conjunto das regiões, ele fez menos votos que os adversários só na região de Curitiba e no Sudoeste.
Reduto eleitoral do concorrente de segundo turno, o também senador Roberto Requião (PMDB), a capital paranaense tem sido uma pedra no caminho político do senador do PDT. Com seus 1,1 milhão de eleitores, Curitiba detém 17,2% do colégio eleitoral do Estado, que é de 6,6 milhões.
Com base eleitoral originada no norte do Estado, Alvaro vem acumulando reveses na capital. O último foi em 1994, quando os votos dos curitibanos garantiram ao governador Jaime Lerner (PFL) derrotá-lo no primeiro turno.
Naquele ano, Lerner saiu do pleito com 515.777 votos de Curitiba. Alvaro somou 143.154. As urnas de domingo mostraram que as dificuldades persistem.
Animados pelos resultados das eleições em Salvador, os partidos que fazem oposição ao senador eleito Antonio Carlos Magalhães (PFL) já começaram a fazer planos para "reconquistar" a hegemonia política da capital baiana, perdida há seis anos para o PFL.
Os números comprovam o melhor desempenho das oposições nos últimos dez anos em Salvador. Além de o petista Luiz Inácio Lula da Silva ter registrado na primeira capital brasileira o seu melhor desempenho entre todas as cidades com mais de 1,5 milhão de habitantes (73,7% dos votos válidos), todos os oposicionistas derrotaram os seus adversários apoiados pelo senador ACM.
O deputado federal Jaques Wagner obteve 56,9% dos votos válidos para o governo, contra 36,6% dados ao senador Paulo Souto (PFL), que acabou vencendo a eleição no primeiro turno.
"Os eleitores de Salvador demonstraram nas urnas que as suas insatisfações políticas têm nomes e pertencem ao carlismo", disse o cientista político Jovianiano Neto, 60, professor da UFBa (Universidade Federal da Bahia).
Ele alerta: "Em dois anos, os candidatos oposicionistas à prefeitura não terão mais o fenômeno Lula como puxador de votos simultaneamente às eleições."



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