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Lula e Serra encaram, a partir de hoje, as decisivas cinco horas e meia de televisão até o desfecho da disputa pela Presidência
Eles estão de volta
CLÁUDIA CROITOR
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Lula e Serra terão, a partir de hoje, cinco horas e meia decisivas na
TV para o desfecho da disputa pela Presidência. É o tempo exato,
entre horário eleitoral e comerciais, com que conta o tucano para reverter sua desvantagem nas
pesquisas, e o petista, para não
deixar que isso ocorra.
O último levantamento do Datafolha, publicado ontem, apontou o candidato do PT com 58%
do total de votos, contra 32% do
presidenciável do PSDB. Assim, a
grande questão agora será perceber a reação do eleitorado aos
próximos 12 dias de propaganda
política. Para dar as últimas cartadas, cada um terá, no rádio e na
televisão, quatro horas de horário
eleitoral e uma hora e meia de inserções. Folga, nem no domingo.
O tempo dos candidatos passa a
ser igual: duas edições diárias de
dez minutos para cada um no rádio e na TV (veja quadro com horário nesta página). Em relação ao
primeiro turno, Serra terá quase o
dobro do tempo semanal (antes,
tinha duas edições de dez minutos e 23 segundos cada uma, três
vezes por semana). Já Lula, que
contava com blocos de cinco minutos e 19 segundos, vai ter a duração de sua exposição praticamente multiplicada por quatro.
Somam-se a isso mais sete minutos e 30 segundos diários de comerciais para cada candidato, que
serão exibidos durante a programação normal das emissoras.
A "maratona", no rádio e na televisão, vai até dia 25, sexta-feira
-dois dias antes da votação-,
quando deve ocorrer o último debate presidencial, na TV Globo.
Em uma eleição já marcada pela
superexposição na mídia -na
TV, os candidatos participaram
de três debates e de praticamente
todos os programas jornalísticos e
"talk shows"-, os coordenadores das duas campanhas tentam
elaborar estratégias para atrair
-e convencer- o telespectador/eleitor nesta reta final.
Pelo menos nos primeiros dias,
a continuação da "novela eleitoral" deverá lembrar os últimos
"capítulos" do primeiro turno,
quando Serra forçou a polarização com Lula, que respondeu aos
ataques tentando sair o mínimo
da embalagem "paz e amor".
Outra época
Será o primeiro enfrentamento
em segundo turno desde 89,
quando Collor levou ao horário
eleitoral o depoimento de Miriam
Cordeiro, antiga namorada de
Lula, dizendo que o petista havia
pedido que ela abortasse durante
a gravidez de sua filha, Lurian.
Os últimos momentos da campanha deste ano, no entanto, pouco deverão ter de semelhança
com a disputa de 89, na opinião
dos próprios coordenadores das
duas campanhas e de marqueteiros consultados pela Folha.
Para Chico Santa Rita, 63, marqueteiro de Collor na eleição de
89, o eleitorado mudou e não teria
hoje o mesmo olhar que teve do
"caso Lurian". "Hoje, algo assim
seria visto com desconfiança pelo
eleitorado. Àquela época, aceitava-se melhor uma campanha
agressiva. Hoje, o eleitor, amadurecido ao longo desses anos, não
parece disposto a assistir na televisão uma campanha violenta."
Ele acredita que o eleitor tenha
aprendido "os códigos do marketing político". "Hoje, ele não confunde mais o horário eleitoral
com novela ou jornalismo. Mesmo os menos instruídos sabem
reconhecer os interesses do marketing político", diz Santa Rita.
O sociólogo e jornalista Chico
Malfitani, 51, marqueteiro de Luiza Erundina na disputa pela Prefeitura de SP em 1988 e 2000, afirma que "a disputa de 89 e a de hoje são completamente diferentes".
"Os candidatos atuais têm mais
conteúdo e a campanha tem um
outro nível. Ataques pessoais não
fazem mais efeito, e podem prejudicar quem ataca", diz Malfitani.
Emoção
O tom dos programas, na opinião de Malfitani, tende a ser mais
emocional no segundo turno. Seria o único modo de não "cansar"
o eleitor nos dez minutos que dura cada uma das duas edições diárias da propaganda eleitoral.
"Para segurar esse tempo na
TV, é necessário usar emoção, em
cima da racionalidade. É preciso
fazer as pessoas pensarem, sim,
mas através da emoção, usando
música e outras coisas. Senão, fica
cansativo para quem assiste."
O ibope do horário eleitoral, na
opinião dos marqueteiros, deve
subir nesses derradeiros 12 dias.
"Além do fato de a disputa ser
mais acirrada e, por isso, chamar
a atenção, a qualidade dos programas é melhor do que no primeiro
turno. Sem as outras candidaturas, o horário fica menos poluído
e mais atraente para o eleitor",
afirma Chico Santa Rita.
"A audiência deve ser grande.
As pessoas não vão querer perder
o último capítulo desta novela, a
final do campeonato, ainda mais
em uma eleição histórica como
esta", diz Chico Malfitani.
Programação
O horário eleitoral que começa
hoje é bem diferente do que foi ao
ar no primeiro turno. Desta vez,
saem os candidatos a deputado e
senador -e, em alguns Estados,
também quem concorria para governador. Só aparece quem está
disputando o segundo turno.
Primeiro, os presidenciáveis.
Lula e Serra abrem a propaganda
política todos os dias (hoje começa com o petista, amanhã, com o
tucano, e assim sucessivamente).
Em seguida, é a vez dos candidatos aos governos estaduais. Portanto, os Estados onde a disputa
terminou no primeiro turno terão
20 minutos a menos em cada bloco do horário eleitoral gratuito.
Nesses locais, as emissoras de
televisão terão de fazer malabarismos na programação para tapar
os dois "buracos" diários.
A TV Globo irá exibir uma segunda edição do "Jornal Hoje" (à
tarde) e do "Jornal Nacional" (à
noite), principalmente com reportagens mais "frias", sobre
comportamento, por exemplo.
A Record leva ao ar, à noite, o
seriado "Seinfeld". No SBT, novelas mudam de horário: "Cúmplices de um Regaste" começa às 20h
(onde tem segundo turno, às
19h40), e "Marisol", às 20h50 (nos
outros Estados, às 20h10, continuando após as 21h10).
Na Bandeirantes, o "Sob Controle" terá dois inícios: às 20h50 e
às 21h10. A Rede TV! apresentará
resumo da novela "Betty, a Feia".
No Estado de São Paulo, serão
exibidas as propagandas dos candidatos ao governo, Geraldo
Alckmin (PSDB) e José Genoino
(PT). Ou seja, mais dez minutos
de "canja" para Serra e Lula.
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