São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 2002

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Lula e Serra encaram, a partir de hoje, as decisivas cinco horas e meia de televisão até o desfecho da disputa pela Presidência

Eles estão de volta

CLÁUDIA CROITOR
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Lula e Serra terão, a partir de hoje, cinco horas e meia decisivas na TV para o desfecho da disputa pela Presidência. É o tempo exato, entre horário eleitoral e comerciais, com que conta o tucano para reverter sua desvantagem nas pesquisas, e o petista, para não deixar que isso ocorra.
O último levantamento do Datafolha, publicado ontem, apontou o candidato do PT com 58% do total de votos, contra 32% do presidenciável do PSDB. Assim, a grande questão agora será perceber a reação do eleitorado aos próximos 12 dias de propaganda política. Para dar as últimas cartadas, cada um terá, no rádio e na televisão, quatro horas de horário eleitoral e uma hora e meia de inserções. Folga, nem no domingo.
O tempo dos candidatos passa a ser igual: duas edições diárias de dez minutos para cada um no rádio e na TV (veja quadro com horário nesta página). Em relação ao primeiro turno, Serra terá quase o dobro do tempo semanal (antes, tinha duas edições de dez minutos e 23 segundos cada uma, três vezes por semana). Já Lula, que contava com blocos de cinco minutos e 19 segundos, vai ter a duração de sua exposição praticamente multiplicada por quatro.
Somam-se a isso mais sete minutos e 30 segundos diários de comerciais para cada candidato, que serão exibidos durante a programação normal das emissoras.
A "maratona", no rádio e na televisão, vai até dia 25, sexta-feira -dois dias antes da votação-, quando deve ocorrer o último debate presidencial, na TV Globo.
Em uma eleição já marcada pela superexposição na mídia -na TV, os candidatos participaram de três debates e de praticamente todos os programas jornalísticos e "talk shows"-, os coordenadores das duas campanhas tentam elaborar estratégias para atrair -e convencer- o telespectador/eleitor nesta reta final.
Pelo menos nos primeiros dias, a continuação da "novela eleitoral" deverá lembrar os últimos "capítulos" do primeiro turno, quando Serra forçou a polarização com Lula, que respondeu aos ataques tentando sair o mínimo da embalagem "paz e amor".

Outra época
Será o primeiro enfrentamento em segundo turno desde 89, quando Collor levou ao horário eleitoral o depoimento de Miriam Cordeiro, antiga namorada de Lula, dizendo que o petista havia pedido que ela abortasse durante a gravidez de sua filha, Lurian.
Os últimos momentos da campanha deste ano, no entanto, pouco deverão ter de semelhança com a disputa de 89, na opinião dos próprios coordenadores das duas campanhas e de marqueteiros consultados pela Folha.
Para Chico Santa Rita, 63, marqueteiro de Collor na eleição de 89, o eleitorado mudou e não teria hoje o mesmo olhar que teve do "caso Lurian". "Hoje, algo assim seria visto com desconfiança pelo eleitorado. Àquela época, aceitava-se melhor uma campanha agressiva. Hoje, o eleitor, amadurecido ao longo desses anos, não parece disposto a assistir na televisão uma campanha violenta."
Ele acredita que o eleitor tenha aprendido "os códigos do marketing político". "Hoje, ele não confunde mais o horário eleitoral com novela ou jornalismo. Mesmo os menos instruídos sabem reconhecer os interesses do marketing político", diz Santa Rita.
O sociólogo e jornalista Chico Malfitani, 51, marqueteiro de Luiza Erundina na disputa pela Prefeitura de SP em 1988 e 2000, afirma que "a disputa de 89 e a de hoje são completamente diferentes".
"Os candidatos atuais têm mais conteúdo e a campanha tem um outro nível. Ataques pessoais não fazem mais efeito, e podem prejudicar quem ataca", diz Malfitani.

Emoção
O tom dos programas, na opinião de Malfitani, tende a ser mais emocional no segundo turno. Seria o único modo de não "cansar" o eleitor nos dez minutos que dura cada uma das duas edições diárias da propaganda eleitoral.
"Para segurar esse tempo na TV, é necessário usar emoção, em cima da racionalidade. É preciso fazer as pessoas pensarem, sim, mas através da emoção, usando música e outras coisas. Senão, fica cansativo para quem assiste."
O ibope do horário eleitoral, na opinião dos marqueteiros, deve subir nesses derradeiros 12 dias. "Além do fato de a disputa ser mais acirrada e, por isso, chamar a atenção, a qualidade dos programas é melhor do que no primeiro turno. Sem as outras candidaturas, o horário fica menos poluído e mais atraente para o eleitor", afirma Chico Santa Rita.
"A audiência deve ser grande. As pessoas não vão querer perder o último capítulo desta novela, a final do campeonato, ainda mais em uma eleição histórica como esta", diz Chico Malfitani.

Programação
O horário eleitoral que começa hoje é bem diferente do que foi ao ar no primeiro turno. Desta vez, saem os candidatos a deputado e senador -e, em alguns Estados, também quem concorria para governador. Só aparece quem está disputando o segundo turno.
Primeiro, os presidenciáveis. Lula e Serra abrem a propaganda política todos os dias (hoje começa com o petista, amanhã, com o tucano, e assim sucessivamente). Em seguida, é a vez dos candidatos aos governos estaduais. Portanto, os Estados onde a disputa terminou no primeiro turno terão 20 minutos a menos em cada bloco do horário eleitoral gratuito.
Nesses locais, as emissoras de televisão terão de fazer malabarismos na programação para tapar os dois "buracos" diários.
A TV Globo irá exibir uma segunda edição do "Jornal Hoje" (à tarde) e do "Jornal Nacional" (à noite), principalmente com reportagens mais "frias", sobre comportamento, por exemplo.
A Record leva ao ar, à noite, o seriado "Seinfeld". No SBT, novelas mudam de horário: "Cúmplices de um Regaste" começa às 20h (onde tem segundo turno, às 19h40), e "Marisol", às 20h50 (nos outros Estados, às 20h10, continuando após as 21h10).
Na Bandeirantes, o "Sob Controle" terá dois inícios: às 20h50 e às 21h10. A Rede TV! apresentará resumo da novela "Betty, a Feia".
No Estado de São Paulo, serão exibidas as propagandas dos candidatos ao governo, Geraldo Alckmin (PSDB) e José Genoino (PT). Ou seja, mais dez minutos de "canja" para Serra e Lula.



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