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POLÍTICA DA IMAGEM
RENATA LO PRETE
A sombra da solução final
O retrato captado pelas primeiras pesquisas realizadas
depois da votação de 6 de outubro
reforça o papel da propaganda
gratuita, de volta hoje à televisão
e ao rádio, como único instrumento capaz de alterar o desfecho
provável da disputa presidencial.
Decorrida uma semana de escalada retórica por parte do governo e de seu candidato, que em coro procuraram associar Lula a
Hugo Chávez, dólar em alta e outros infortúnios, o Datafolha mostrou o petista 26 pontos à frente
de Serra. O Vox Populi, 30.
Os tucanos dirão que era essa a
diferença esperada. Não era. Na
quinta e na sexta, vendiam à imprensa previsão de 15 pontos.
Não se confirmou a suposição
de que o fracasso do esforço de
Lula para vencer no primeiro turno jogaria água fria nos números.
Ampliou-se a distância que existia nas simulações de confronto
entre os dois candidatos.
Não significa que o diagnóstico
esteja fechado. Convém lembrar
que Serra cumpriu à risca suas
principais missões na etapa anterior do horário eleitoral: tirar Ciro do caminho e chegar ao segundo turno, no qual aterrissou com
mais votos do que previram as
pesquisas (e Lula com menos).
No entanto, o tamanho do problema exigirá da propaganda tucana uma carga de agressividade
que tornará brandas, na comparação, as referências feitas ao PT e
a seu candidato na primeira temporada televisiva. Não é desvantagem que se supere anunciando
programas de agricultura familiar ou de distribuição de leite.
Tampouco parecem promissoras algumas das idéias vazadas
para jornalistas no final da semana passada. Estudava-se, por
exemplo, cutucar Lula por ter
consumido caro vinho francês
oferecido por Duda Mendonça
em jantar que se seguiu ao debate
da TV Globo.
"Romanée o quê?", perguntará
o eleitor se tal picuinha entre
marqueteiros for ao ar. Isso é biriba. Serra terá de recorrer a bombardeio pesado e sistemático, a
despeito dos riscos. Não resta outro caminho a tentar.
Também de Lula não se deve esperar um mero prolongamento
dos programas da primeira fase,
em que as menções ao campo adversário eram raras e sutis. Dos
dois lados, a propaganda assumirá um tom plebiscitário, de natureza diferente em cada caso.
Na campanha de Lula, a escolha a ser vendida é entre oposição
e governo. Carimbando a segunda qualificação com a maior insistência possível na testa de Serra, os petistas esperam interditar
qualquer outra discussão e inviabilizar-lhe as chances.
Programadas para a noite de
estréia, as participações de Ciro e
Garotinho visam encorpar uma
espécie de grito de Tarzan: "nós,
oposição; ele, governo".
Na campanha de Serra, o plebiscito será o do medo, fator de
conhecida influência sobre eleitores indecisos e simpatizantes de
opção menos cristalizada.
Juntam-se a indisposição de Lula para participar de debates, o
fantasma do apocalipse econômico e uma operação pente-fino nas
administrações petistas para perguntar: "você tem certeza de que
quer o PT mandando no país?"
Como de hábito, repetiram-se
nos últimos dias as promessas de
campanha propositiva, destinada
apenas a "marcar as diferenças"
entre os dois candidatos.
Mas, para balançar a árvore e
recolher milhões de eleitores a esta altura da disputa, só mesmo algo próximo da solução final.
A repórter RENATA LO PRETE escreve
às segundas-feiras nesta coluna
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