São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 2002

Texto Anterior | Índice

POLÍTICA DA IMAGEM

RENATA LO PRETE

A sombra da solução final

O retrato captado pelas primeiras pesquisas realizadas depois da votação de 6 de outubro reforça o papel da propaganda gratuita, de volta hoje à televisão e ao rádio, como único instrumento capaz de alterar o desfecho provável da disputa presidencial.
Decorrida uma semana de escalada retórica por parte do governo e de seu candidato, que em coro procuraram associar Lula a Hugo Chávez, dólar em alta e outros infortúnios, o Datafolha mostrou o petista 26 pontos à frente de Serra. O Vox Populi, 30.
Os tucanos dirão que era essa a diferença esperada. Não era. Na quinta e na sexta, vendiam à imprensa previsão de 15 pontos.
Não se confirmou a suposição de que o fracasso do esforço de Lula para vencer no primeiro turno jogaria água fria nos números. Ampliou-se a distância que existia nas simulações de confronto entre os dois candidatos.
Não significa que o diagnóstico esteja fechado. Convém lembrar que Serra cumpriu à risca suas principais missões na etapa anterior do horário eleitoral: tirar Ciro do caminho e chegar ao segundo turno, no qual aterrissou com mais votos do que previram as pesquisas (e Lula com menos).
No entanto, o tamanho do problema exigirá da propaganda tucana uma carga de agressividade que tornará brandas, na comparação, as referências feitas ao PT e a seu candidato na primeira temporada televisiva. Não é desvantagem que se supere anunciando programas de agricultura familiar ou de distribuição de leite.
Tampouco parecem promissoras algumas das idéias vazadas para jornalistas no final da semana passada. Estudava-se, por exemplo, cutucar Lula por ter consumido caro vinho francês oferecido por Duda Mendonça em jantar que se seguiu ao debate da TV Globo.
"Romanée o quê?", perguntará o eleitor se tal picuinha entre marqueteiros for ao ar. Isso é biriba. Serra terá de recorrer a bombardeio pesado e sistemático, a despeito dos riscos. Não resta outro caminho a tentar.
Também de Lula não se deve esperar um mero prolongamento dos programas da primeira fase, em que as menções ao campo adversário eram raras e sutis. Dos dois lados, a propaganda assumirá um tom plebiscitário, de natureza diferente em cada caso.
Na campanha de Lula, a escolha a ser vendida é entre oposição e governo. Carimbando a segunda qualificação com a maior insistência possível na testa de Serra, os petistas esperam interditar qualquer outra discussão e inviabilizar-lhe as chances.
Programadas para a noite de estréia, as participações de Ciro e Garotinho visam encorpar uma espécie de grito de Tarzan: "nós, oposição; ele, governo".
Na campanha de Serra, o plebiscito será o do medo, fator de conhecida influência sobre eleitores indecisos e simpatizantes de opção menos cristalizada.
Juntam-se a indisposição de Lula para participar de debates, o fantasma do apocalipse econômico e uma operação pente-fino nas administrações petistas para perguntar: "você tem certeza de que quer o PT mandando no país?"
Como de hábito, repetiram-se nos últimos dias as promessas de campanha propositiva, destinada apenas a "marcar as diferenças" entre os dois candidatos.
Mas, para balançar a árvore e recolher milhões de eleitores a esta altura da disputa, só mesmo algo próximo da solução final.


A repórter RENATA LO PRETE escreve às segundas-feiras nesta coluna


Texto Anterior: Campanha no rádio deve ser mais agressiva
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.