São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Maluf presta novo depoimento e acusa PSDB de "armação'

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dia depois de ser indiciado sob a acusação de ter cometido cinco crimes, Paulo Maluf (PP) depôs ontem na Promotoria criminal de São Paulo sobre uma suposta tentativa de corromper testemunha judicial. O ex-prefeito negou a acusação e afirmou ser vítima de uma "armação" do seu hoje arquiinimigo PSDB.
O depoimento foi sobre suposta tentativa do vereador malufista Brasil Vita (PP) que, em conversa gravada, teria articulado o esvaziamento das acusações feitas pelo ex-presidente da Câmara Armando Mellão contra Maluf.
A estratégia seria dizer que Mellão, que hoje é testemunha do Ministério Público, recebeu dinheiro do candidato José Serra (PSDB) para acusar o ex-prefeito de corrupção. As conversas foram gravadas pelo próprio Mellão cerca de três semanas antes do primeiro turno, no último dia 3.
Em depoimento ao promotor José Reinaldo Carneiro, Maluf disse lamentar o uso de seu nome, mas que tudo não passa de mentiras e que Mellão, autor das gravações, é um "delinqüente".
Mellão passou a colaborar com o Ministério Público após passar 49 dias na prisão -ele foi detido pela Polícia Federal por suposta tentativa de extorsão. Ele disse ter sido vítima de armação malufista.
"Eu lastimo porque a campanha eleitoral tem de ser limpa. Os tucanos estão se mostrando dedos-duros. Por meio de um desclassificado, o Armando Mellão, eles querem diminuir o meu eventual apoio", disse Maluf, que deverá declarar amanhã apoio à reeleição da prefeita Marta Suplicy (PT).
Ao atacar o PSDB, Maluf repete o comportamento que adotou durante a campanha para a votação do dia 3, em que criticou duramente Serra e poupou Marta.
Questionado sobre o teor das conversas, Maluf se limitou a dizer que tudo era mentira. Sobre a atitude de Vita, amigo dele há muitos anos, preferiu não comentar. "Não é uma questão pessoal, mas eleitoral".
"Humildemente, eu recomendo aos tucanos que escolham melhor suas amizades. Já dizia o meu avô: "diga-me com quem andas e eu te direi quem és". Quem anda com Armando Mellão, não pode ser gente boa", afirmou Maluf.
Por orientação dos advogados, o ex-prefeito evitou telefonar ou conversar com Vita.
Em depoimento ao Ministério Público, Vita disse ontem que o diálogo gravado por Mellão é uma "ópera bufa" -ele reconhece a conversa, mas diz que tudo não passou de mentiras. "Eu sabia que era gravado e queria ver aonde Armando Mellão queria chegar", disse. O vereador malufista entrou e saiu sem conceder entrevista. Ouvido uma hora antes de Maluf, não se encontrou com o ex-prefeito na Promotoria criminal.
Segundo laudo do perito Ricardo Molina, as duas conversas gravadas não foram editadas. O perito afirma ainda que existe uma naturalidade nos diálogos, com começo, meio e fim, que afastam a possibilidade de uma simulação.
Anteontem, Maluf também depôs à Polícia Federal e foi indiciado sob a acusação de crime de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, sonegação fiscal, formação de quadrilha e peculato (apropriação de dinheiro público). A acusação está relacionada a contas bancárias mantidas pela família Maluf na Suíça. O ex-prefeito nega possuir contas no exterior.


Texto Anterior: Maluf fala amanhã sobre 2º turno e não confirma apoio a PT
Próximo Texto: Outro lado: Para advogado, ex-prefeito tem de explicar diálogos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.