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DIREITOS HUMANOS
Corrêa disse ter "as mesmas" preocupações da entidade, e Fausto, que brasileiros devem resolver a questão
Anistia cobra de Lula reforma do Judiciário
GABRIELA ATHIAS
PATRICIA COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A secretária-geral da Anistia Internacional, Irene Zubaida Khan,
cobrou ontem do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva que o governo
federal passe do discurso à ação
na área de direitos humanos. Em
relatório entregue a Lula, a organização defendeu a reforma do
Judiciário, especialmente na área
criminal, para assegurar o acesso
dos mais pobres à Justiça.
Segundo o documento, as mudanças são necessárias para "acabar com a ampla exclusão [dos
pobres] que permeia o sistema Judiciário". O documento diz que as
reformas devem "incluir mecanismos independentes de transparência, supervisão, investigação e de acesso mais generalizado
à Justiça". "É necessário que haja
uma reforma no Judiciário", reafirmou Khan, após falar com Lula.
Ela disse também que a maior
preocupação da Anistia, a principal organização de defesa dos direitos humanos do mundo, é
"com a lentidão e com as sentenças pesadas que levam à superlotação das prisões".
O relatório, porém, não traz só
críticas ao país. Diz que o discurso
oficial do Brasil contra as violações de direitos humanos é progressista e, ao admitir o problema
da tortura e aceitar as denúncias
de organizações de direitos humanos, o país se coloca numa posição de vanguarda.
Khan também pediu a Lula que
o Brasil utilize a sua vaga no Conselho de Segurança das Nações
Unidas, a partir de janeiro próximo, para liderar uma campanha
mundial contra o desarmamento.
Segundo André Singer, porta-voz
da Presidência, Lula disse que "o
governo brasileiro em princípio é
simpático à idéia".
O presidente do STF (Supremo
Tribunal Federal), Maurício Corrêa, disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que "as preocupações relatadas pela secretária-geral [Khan] são as mesmas"
dele e que serão objeto de "reunião da cúpula dos Poderes". Sobre o controle externo, ele disse
que a decisão cabe ao Congresso.
Já o presidente do TST (Tribunal Superior do Trabalho), Francisco Fausto, afirmou que o "Judiciário tem condições de corrigir
suas mazelas e está fazendo isso" e
se disse contra o controle externo.
Fausto elogiou a boa "preparação" dos integrantes da Anistia
Internacional, mas disse que os
problemas no Judiciário "devem
ser resolvidos pelos brasileiros".
Presidente da Ajufe (Associação
dos Juízes Federais do Brasil),
Paulo Sérgio Domingues, disse
que a associação "admite a criação de um conselho nacional de
Justiça, mas jamais a fiscalização
das decisões judiciais".
O presidente da Anamatra (Associação dos Magistrados do Trabalho), Grijalbo Coutinho, disse
que a associação está discutindo
se concorda com a criação de um
conselho. "Se houver conselho,
que ele seja democrático e que
seus membros sejam votados por
toda a classe, e não apenas por decisão das cúpulas dos tribunais."
Cobrança
Uma das críticas feitas ao Brasil
é a discrepância entre o discurso
oficial e a prática. Um dos exemplos citados no relatório é a prática de torturar presos para obter
confissões. Outro alvo de crítica é
a atuação dos governos estaduais.
A Anistia relata que, ao entrar em
bairros pobres para combater o
crime, a polícia acaba tratando
com violência a população local.
Esse é um dos motivos por que
Khan -a primeira mulher a dirigir a Anistia- também pediu a
Lula que cobre dos Estados mais
responsabilidade em relação a crimes envolvendo policiais.
A secretária-geral da Anistia
presenteou Lula com o original da
convocação feita pela entidade
para que seus militantes se manifestassem no mundo todo contra
a prisão do presidente, decretada
em 1981 por um tribunal militar
por ele ter liderado uma greve de
metalúrgicos do ABC em 1980.
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