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NO AR
Um simples tiro de canhão
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
A histeria com o caso
dos jovens mortos em São
Paulo, no Jornal Nacional e outros, levou o venerável d. Aloísio
Lorscheider a pedir a redução
da maioridade.
Ainda nem se sabe se o assassino foi o adolescente preso, mas
o cardeal achou por bem dizer
que é a prova de que os maiores
de 16 anos devem ser jogados na
cadeia comum:
- No Brasil as leis estão muito brandas.
E o disse ao entrar no Palácio
do Planalto, com acesso à Globo, à Band, a todas.
O ministro da Justiça correu a
se contrapor, nas mesmas redes,
pedindo "cuidado com a reação
de pânico".
Em que pese o horror do crime, o sentimento foi alimentado
por dias e dias de telejornais, JN
à frente. Não importa, o "pânico" se instalou e não vai se calar
tão cedo.
Também ontem, o governador
Geraldo Alckmin saiu a propor
mudanças no estatuto da criança e do adolescente. Logo ele,
que comanda o massacre cotidiano da Febem.
Já se fala até em pena de morte nos telejornais.
Enquanto isso, no mundo da
violência que não se resolve com
"um simples tiro de canhão",
expressão de Thomaz Bastos, o
SPTV registrava:
- A chapa ligada ao ex-presidente do sindicato dos motoristas foi a vencedora.
Edivaldo Santigo, o ex-presidente, passou cinco meses preso,
denunciado por "corrupção e
homicídio".
O presidente eleito em seu lugar saiu dizendo, no rádio, que
vai seguir com as mesmas ações
e que a prisão de Santiago foi
"perseguição política".
O SPTV ouviu um sindicalista
de outra corrente:
- No domingo, eles foram lá
armados e disseram: ""Hoje nós
não viemos ameaçar, hoje vamos executar, é só ele aparecer
na garagem". Eu não apareci,
não sou louco.
E não foi por falta de lei que
nada mudou, no caso.
A federação do comércio de
São Paulo bem que tentou. Mostrou números crescentes das
vendas em outubro.
A associação dos executivos de
finanças também. Mostrou que
os juros do comércio caíram para o nível mais baixo desde 1995,
quando começou a fazer o levantamento.
Mas o vice-presidente José
Alencar não se conteve de novo
e saiu recomendando, em meio
à cobertura com as boas novas,
que "os consumidores devem
comprar só o essencial e evitar
compras a prazo".
Nada de pôr a economia para
funcionar.
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