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São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2003

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NO AR

Um simples tiro de canhão

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

A histeria com o caso dos jovens mortos em São Paulo, no Jornal Nacional e outros, levou o venerável d. Aloísio Lorscheider a pedir a redução da maioridade.
Ainda nem se sabe se o assassino foi o adolescente preso, mas o cardeal achou por bem dizer que é a prova de que os maiores de 16 anos devem ser jogados na cadeia comum:
- No Brasil as leis estão muito brandas.
E o disse ao entrar no Palácio do Planalto, com acesso à Globo, à Band, a todas.
O ministro da Justiça correu a se contrapor, nas mesmas redes, pedindo "cuidado com a reação de pânico".
Em que pese o horror do crime, o sentimento foi alimentado por dias e dias de telejornais, JN à frente. Não importa, o "pânico" se instalou e não vai se calar tão cedo.
Também ontem, o governador Geraldo Alckmin saiu a propor mudanças no estatuto da criança e do adolescente. Logo ele, que comanda o massacre cotidiano da Febem.
Já se fala até em pena de morte nos telejornais.
 
Enquanto isso, no mundo da violência que não se resolve com "um simples tiro de canhão", expressão de Thomaz Bastos, o SPTV registrava:
- A chapa ligada ao ex-presidente do sindicato dos motoristas foi a vencedora.
Edivaldo Santigo, o ex-presidente, passou cinco meses preso, denunciado por "corrupção e homicídio".
O presidente eleito em seu lugar saiu dizendo, no rádio, que vai seguir com as mesmas ações e que a prisão de Santiago foi "perseguição política".
O SPTV ouviu um sindicalista de outra corrente:
- No domingo, eles foram lá armados e disseram: ""Hoje nós não viemos ameaçar, hoje vamos executar, é só ele aparecer na garagem". Eu não apareci, não sou louco.
E não foi por falta de lei que nada mudou, no caso.
 
A federação do comércio de São Paulo bem que tentou. Mostrou números crescentes das vendas em outubro.
A associação dos executivos de finanças também. Mostrou que os juros do comércio caíram para o nível mais baixo desde 1995, quando começou a fazer o levantamento.
Mas o vice-presidente José Alencar não se conteve de novo e saiu recomendando, em meio à cobertura com as boas novas, que "os consumidores devem comprar só o essencial e evitar compras a prazo".
Nada de pôr a economia para funcionar.


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