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VISITA
Ao firmar acordo, que negociadores vêem como de risco, país quer suporte para Conselho de Segurança e direção do órgão de comércio
Brasil espera da China apoio na ONU e na OMC
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Brasil fez uma aposta de risco
ao anunciar que reconhece a China como uma economia de mercado. O presidente chinês, Hu Jintao, deixou ontem Brasília com a
declaração que queria para mostrar ao mundo; o governo brasileiro terminou o encontro com
uma série de promessas de negócios e de apoio político e uma lista
de intenção de investimentos.
Essa avaliação foi feita por alguns dos principais negociadores
brasileiros em conversas reservadas com a Folha. Em um de seus
discursos de ontem, o próprio
presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou que o gesto brasileiro
foi um voto de confiança no cumprimento das promessas que a delegação chinesa fez.
A fatura que o país pretende cobrar pelo gesto político -considerado pelos diplomatas brasileiros como histórico e oportuno-
não envolve apenas a concretização da abertura do mercado chinês para produtos agrícolas, da
venda de aviões da Embraer e dos
investimentos previstos.
Há duas ações brasileiras em fóruns internacionais que o Itamaraty espera receber o apoio de Hu:
a ascensão brasileira a membro
permanente do Conselho de Segurança da ONU (Organização
das Nações Unidas) e a eleição do
embaixador brasileiro Luiz Felipe
de Seixas Corrêa para diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Nas conversas informais, as autoridades chinesas disseram que
estavam dispostas a apoiar a candidatura brasileira a membro permanente do Conselho de Segurança, segundo a Folha apurou.
Eles se recusaram, no entanto, a
colocar o assunto no papel. Afirmaram que, quando fosse necessário, a China faria uma manifestação oficial em favor do Brasil.
Depois do gesto que fez, Lula se
sentiu confortável em dizer que
havia entendido um apoio implícito da China ao projeto brasileiro
na ONU. "Entendemos ser essa
uma manifestação favorável a que
o Brasil participe como membro
permanente dos trabalhos de um
Conselho de Segurança reformado", disse o presidente, no jantar
que ofereceu na sexta a Hu.
No caso do apoio a Seixas Correa, lançado como candidato para
concorrer com o uruguaio Carlos
Pérez del Castillo, não houve conversas detalhadas. Mas os diplomatas brasileiros afirmam que,
depois do reconhecimento, a China não se furtará a dar o apoio necessário. Será uma frustração para o Itamaraty se os chineses não
jogarem a favor do embaixador
brasileiro.
Apesar de todos os acordos comerciais assinados na sexta, que
prevêem a exportação de carne de
frango e bovina para a China e regras mais claras para a venda de
soja, os negociadores brasileiros
sabem que esses negócios ainda
dependem de acertos finais.
O histórico chinês com o Brasil
não é muito bom, quando o assunto é transparência. Neste ano,
os chineses, em duas ocasiões, estabeleceram regras novas para a
importação de soja que prejudicaram os produtores do país.
O governo acredita que a China,
com o anúncio do reconhecimento, não vá voltar a criar problemas
para a exportação brasileira. Considera que vale a pena correr o risco, pois os setores que podem se
prejudicar com o reconhecimento da China como economia de
mercado não são intensivos em
mão-de-obra e já foram afetados
pelo processo de abertura da economia dos últimos dez anos.
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