São Paulo, domingo, 14 de novembro de 2004

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VISITA

Ao firmar acordo, que negociadores vêem como de risco, país quer suporte para Conselho de Segurança e direção do órgão de comércio

Brasil espera da China apoio na ONU e na OMC

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Brasil fez uma aposta de risco ao anunciar que reconhece a China como uma economia de mercado. O presidente chinês, Hu Jintao, deixou ontem Brasília com a declaração que queria para mostrar ao mundo; o governo brasileiro terminou o encontro com uma série de promessas de negócios e de apoio político e uma lista de intenção de investimentos.
Essa avaliação foi feita por alguns dos principais negociadores brasileiros em conversas reservadas com a Folha. Em um de seus discursos de ontem, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou que o gesto brasileiro foi um voto de confiança no cumprimento das promessas que a delegação chinesa fez.
A fatura que o país pretende cobrar pelo gesto político -considerado pelos diplomatas brasileiros como histórico e oportuno- não envolve apenas a concretização da abertura do mercado chinês para produtos agrícolas, da venda de aviões da Embraer e dos investimentos previstos.
Há duas ações brasileiras em fóruns internacionais que o Itamaraty espera receber o apoio de Hu: a ascensão brasileira a membro permanente do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) e a eleição do embaixador brasileiro Luiz Felipe de Seixas Corrêa para diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Nas conversas informais, as autoridades chinesas disseram que estavam dispostas a apoiar a candidatura brasileira a membro permanente do Conselho de Segurança, segundo a Folha apurou. Eles se recusaram, no entanto, a colocar o assunto no papel. Afirmaram que, quando fosse necessário, a China faria uma manifestação oficial em favor do Brasil.
Depois do gesto que fez, Lula se sentiu confortável em dizer que havia entendido um apoio implícito da China ao projeto brasileiro na ONU. "Entendemos ser essa uma manifestação favorável a que o Brasil participe como membro permanente dos trabalhos de um Conselho de Segurança reformado", disse o presidente, no jantar que ofereceu na sexta a Hu.
No caso do apoio a Seixas Correa, lançado como candidato para concorrer com o uruguaio Carlos Pérez del Castillo, não houve conversas detalhadas. Mas os diplomatas brasileiros afirmam que, depois do reconhecimento, a China não se furtará a dar o apoio necessário. Será uma frustração para o Itamaraty se os chineses não jogarem a favor do embaixador brasileiro.
Apesar de todos os acordos comerciais assinados na sexta, que prevêem a exportação de carne de frango e bovina para a China e regras mais claras para a venda de soja, os negociadores brasileiros sabem que esses negócios ainda dependem de acertos finais.
O histórico chinês com o Brasil não é muito bom, quando o assunto é transparência. Neste ano, os chineses, em duas ocasiões, estabeleceram regras novas para a importação de soja que prejudicaram os produtores do país.
O governo acredita que a China, com o anúncio do reconhecimento, não vá voltar a criar problemas para a exportação brasileira. Considera que vale a pena correr o risco, pois os setores que podem se prejudicar com o reconhecimento da China como economia de mercado não são intensivos em mão-de-obra e já foram afetados pelo processo de abertura da economia dos últimos dez anos.

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