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foco
"Pelados" que protestaram na UnB e no STF já têm novo ato agendado para quarta
JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Eles ficaram conhecidos como os "peladões da UnB" ao
tirarem a roupa na reitoria da
Universidade de Brasília durante um protesto contra o
machismo que ameaçou a estudante Geisy Arruda, da Uniban. Dois dias depois, apareceram vestidos e carregando
cartazes em defesa do italiano
Cesare Battisti em frente ao
Supremo Tribunal Federal.
Os estudantes Thiago Costa, 24, e Vânia Silva, 25, estavam também em outra invasão da reitoria da UnB, em
abril de 2008, que culminou
com a saída do reitor Timothy
Mulholland, acusado de mobiliar o imóvel funcional com
verba destinada a pesquisas.
O currículo de causas dos
estudantes inclui ainda participação no "Fora Severino
[Cavalcanti]", luta no movimento negro, pela liberdade
sexual e em defesa de universitários de renda mais baixa.
Não foi por acaso que o relacionamento amoroso dos dois
começou durante um dos inúmeros protestos do qual participaram: a reivindicação para
que o restaurante universitário ficasse aberto nas férias.
Isso foi em 2006. Desde então, namoram dentro de um
relacionamento "aberto". Vânia, que estuda pedagogia, diz
que eles tentam colocar em
prática princípios em que
acreditam -como o de que
não é possível evitar o desejo
do outro por um terceiro.
Os dois moram juntos na
residência estudantil. Nas paredes há frases de filósofos, algumas em grego antigo (que
eles estudam há mais de um
ano), e livros. Hoje, a casa é dividida com um colega. Até a
chegada dele, eles praticavam
o que fizeram no protesto: andavam pelados pela casa.
A questão do tirar a roupa (e
a crítica implícita ao machismo e à falta de liberdade com
o próprio corpo), a defesa de
Battisti e as demais causas podem todas ser resumidas numa só bandeira -a libertária,
defende Thiago, que está no
sexto semestre de filosofia.
"Nossa tese é que, na nossa
sociedade, os indivíduos não
são livres. As lutas libertárias
são contra mecanismos de sujeição e segregação." Ele afirma que "na nossa sociedade as
mulheres usam burca [o traje
fechado usado por algumas
mulheres islâmicas]. Se eu tiro a camiseta não acontece
nada; se for uma mulher...",
diz, sem concluir a frase.
Fotografados pelados e com
roupa nos protestos na UnB e
no STF, eles são categóricos
em afirmar que não se enquadram no rol dos "estudantes
profissionais", que se utilizam
da militância estudantil para
fins diversos. "Estamos no
terceiro ano de pesquisa científica [Vânia é bolsista, ganha
R$ 300], eu tenho um artigo
publicado. É revezar a teoria e
a prática", completa Thiago.
O próximo passo será participar de um "beijaço" na próxima quarta -homem com
homem, mulher com mulher
e homem com mulher-, na
UnB. A pauta é o dia da eliminação da violência contra a
mulher. Resta saber se o "beijaço" será com ou sem roupa.
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