São Paulo, sábado, 14 de novembro de 2009

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"Pelados" que protestaram na UnB e no STF já têm novo ato agendado para quarta

JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Eles ficaram conhecidos como os "peladões da UnB" ao tirarem a roupa na reitoria da Universidade de Brasília durante um protesto contra o machismo que ameaçou a estudante Geisy Arruda, da Uniban. Dois dias depois, apareceram vestidos e carregando cartazes em defesa do italiano Cesare Battisti em frente ao Supremo Tribunal Federal.
Os estudantes Thiago Costa, 24, e Vânia Silva, 25, estavam também em outra invasão da reitoria da UnB, em abril de 2008, que culminou com a saída do reitor Timothy Mulholland, acusado de mobiliar o imóvel funcional com verba destinada a pesquisas.
O currículo de causas dos estudantes inclui ainda participação no "Fora Severino [Cavalcanti]", luta no movimento negro, pela liberdade sexual e em defesa de universitários de renda mais baixa.
Não foi por acaso que o relacionamento amoroso dos dois começou durante um dos inúmeros protestos do qual participaram: a reivindicação para que o restaurante universitário ficasse aberto nas férias.
Isso foi em 2006. Desde então, namoram dentro de um relacionamento "aberto". Vânia, que estuda pedagogia, diz que eles tentam colocar em prática princípios em que acreditam -como o de que não é possível evitar o desejo do outro por um terceiro.
Os dois moram juntos na residência estudantil. Nas paredes há frases de filósofos, algumas em grego antigo (que eles estudam há mais de um ano), e livros. Hoje, a casa é dividida com um colega. Até a chegada dele, eles praticavam o que fizeram no protesto: andavam pelados pela casa.
A questão do tirar a roupa (e a crítica implícita ao machismo e à falta de liberdade com o próprio corpo), a defesa de Battisti e as demais causas podem todas ser resumidas numa só bandeira -a libertária, defende Thiago, que está no sexto semestre de filosofia.
"Nossa tese é que, na nossa sociedade, os indivíduos não são livres. As lutas libertárias são contra mecanismos de sujeição e segregação." Ele afirma que "na nossa sociedade as mulheres usam burca [o traje fechado usado por algumas mulheres islâmicas]. Se eu tiro a camiseta não acontece nada; se for uma mulher...", diz, sem concluir a frase.
Fotografados pelados e com roupa nos protestos na UnB e no STF, eles são categóricos em afirmar que não se enquadram no rol dos "estudantes profissionais", que se utilizam da militância estudantil para fins diversos. "Estamos no terceiro ano de pesquisa científica [Vânia é bolsista, ganha R$ 300], eu tenho um artigo publicado. É revezar a teoria e a prática", completa Thiago.
O próximo passo será participar de um "beijaço" na próxima quarta -homem com homem, mulher com mulher e homem com mulher-, na UnB. A pauta é o dia da eliminação da violência contra a mulher. Resta saber se o "beijaço" será com ou sem roupa.


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