São Paulo, sábado, 14 de novembro de 2009

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Cemitérios são novo foco das buscas aos mortos no Araguaia

Coveiros apontam local exato de sepulturas pela 1ª vez na atual ação; escavação recomeça em 2010

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Três novos locais de sepultamentos clandestinos de guerrilheiros estão apontados no relatório final do GTT (Grupo de Trabalho Tocantins), formado por militares e civis e criado pelo governo federal para buscar restos mortais de desaparecidos da guerrilha do Araguaia.
O GTT concluiu o relatório há duas semanas em Marabá (PA) e o entregou ao Ministério da Defesa. Os novos pontos não chegaram a ser escavados porque o grupo só foi informado sobre eles nos últimos dias do trabalho de campo.
Com o início da temporada de chuvas na região do Araguaia (sudeste do Pará, sul do Maranhão e norte de Tocantins), as escavações estão suspensas até março ou abril de 2010, quando inicia a estiagem.
A avaliação dos geólogos e antropólogos forenses que integram o grupo é que, com as tempestades que atingem o Araguaia nesta época, não é possível mexer no solo. A terra sólida vira lamaçal, o que inviabiliza a busca de restos mortais.
A novidade em relação a outros locais de possível sepultamento de guerrilheiros, investigados de julho a outubro deste ano, é que pela primeira vez foram apontados, com precisão, sepulturas em cemitérios.
Os responsáveis pelas novas indicações são os coveiros dos cemitérios de Xambioá (TO) e São Geraldo do Araguaia (PA).
Até agora as indicações em cemitérios eram imprecisas, abrangiam áreas grandes, e os antropólogos forenses do IML (Instituto de Medicina Legal) do Distrito Federal recusavam-se a escavar porque certamente encontrariam diversas ossadas.
Os coveiros apontaram pontos exatos, o que, dessa vez, permitirá as escavações. Nos anos 1990, no cemitério de Xambioá, foram encontradas as ossadas dos dois únicos guerrilheiros já identificados: Maria Lúcia Petit e Bergson Gurjão Farias.
Na margem direita do rio Araguaia, Xambioá sediou uma base militar da repressão ao movimento guerrilheiro organizado na floresta amazônica nos anos 60 e 70 pelo então clandestino PC do B.
A guerrilha foi considerada extinta pela ditadura em 1975. Cerca de 60 guerrilheiros nunca foram localizados. Em 2003, a Justiça Federal ordenou que o governo devolvesse os restos às famílias. O GTT foi criado para cumprir a ordem judicial.
No hoje desativado cemitério de São Geraldo do Araguaia (margem esquerda do rio), um coveiro apontou ao GTT o exato local onde diz ter enterrado três guerrilheiros. Informou até a posição dos corpos na cova clandestina, situada entre duas lajes de cimento.
Outro ponto a ser escavado fica no município de Brejo Grande (PA), no terreno onde à época havia a casa em que morou durante os confrontos o então capitão Sebastião Rodrigues de Moura, o Curió, um dos militares mais ativos na repressão à guerrilha.
A casa foi derrubada há muitos anos. Hoje há um pasto no terreno. Ali, segundo o informante do GTT, foram enterrados oito guerrilheiros.
No cemitério de Xambioá, um coveiro apontou a sepultura onde afirma ter visto a roupa amarela que um dos guerrilheiros estaria usando quando preso na delegacia da cidade.


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