São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Presidente eleito também confirma Marina Silva e Celso Amorim

Lula anuncia mais dois empresários no ministério

PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Com um recado contra eventuais disputas de poder entre ministros, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, anunciou ontem formalmente mais quatro integrantes de sua equipe. O empresário Luiz Fernando Furlan assumirá o Desenvolvimento, o empresário rural Roberto Rodrigues ocupará a Agricultura, e o embaixador Celso Amorim será o titular da pasta das Relações Exteriores.
Sem a presença da mulher, Marisa Letícia, como ocorreu no anúncio de anteontem, Lula reafirmou que a senadora Marina Silva (PT-AC), que estava sentada ao seu lado na mesa do pacto social, será a nova ministra do Meio Ambiente.
"Havia cometido um lapso ontem [anteontem" ao não anunciar a senadora Marina Silva. Já havia dito em Washington que ela cuidaria do Meio Ambiente. Que chique, não é? Liguei para ela para reconhecer que era um lapso, porque poderia achar que foi destituída antes mesmo de tomar posse", afirmou Lula.
Já prevendo eventuais choques entre seus escolhidos, Lula ressaltou uma característica que deseja em seu ministério. "Não seremos um governo no qual predominará a palavra "eu" -"eu faço, eu quero". Prevalecerá a palavra "nós". Não haverá política deste ministro ou daquele ministério. O que vai haver será a política de governo", declarou.
Os novos ministros da Fazenda, Antonio Palocci Filho, e da Casa Civil, José Dirceu, estavam sentados ao lado de Furlan e de Lula. Três dos homens mais fortes do futuro governo ouviram o recado do presidente eleito e assentiram com a cabeça.
Uma das possibilidades de confronto entre Palocci e Furlan pode vir a ser o comando do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), com um orçamento anual de R$ 35 bilhões para investimentos.
Hoje o banco é subordinado ao Desenvolvimento, mas pode ser transferido para a Fazenda. Questionado pela Folha, ao lado de Furlan, Palocci respondeu: "O presidente Lula não nos informou nada a respeito". A Folha insistiu se a mudança estaria então descartada: "O presidente pode tomar essa decisão amanhã, mas não há até agora nada a esse respeito", disse Palocci.
Furlan afirmou ter convencido Lula de desistir de uma de suas promessas de campanha: a criação de uma Secretaria Extraordinária de Comércio Exterior, subordinada diretamente à Presidência da República.
Se criada, a secretaria enfraqueceria o ministério de Furlan, ele próprio um defensor da idéia antes de se tornar ministro. "A instrução do presidente é que essa secretaria esteja ligada ao ministério. Foi a conclusão que ele chegou. Vamos reforçar as estruturas existentes para dar dinamismo a ela", disse Furlan.
O novo ministro do Desenvolvimento citava os Estados Unidos como exemplo de país que adotou com sucesso uma secretaria para o comércio exterior diretamente ligada ao presidente.
Furlan tentou demonstrar que não haverá uma disputa de poder com o condutor da economia, Antonio Palocci. "Vamos atuar em conjunto", declarou.
Citou o economista Mário Henrique Simonsen, morto em 1997, para definir o papel do ministro da Fazenda. "Ele é o camisa número 1. Não pode deixar entrar o gol. Os outros podem só chutar para a frente. Eu, com a minha altura, também posso ajudar na defesa", afirmou.
Havia a expectativa de que o presidente eleito anunciasse também os nomes do deputado federal Jaques Wagner para o Trabalho e do advogado Márcio Thomaz Bastos para a Justiça. Mas, como os dois não puderam comparecer à reunião, a divulgação dos dois nomes, certos no ministério, foi adiada.

Área social
Lula quis acalmar integrantes de movimentos sociais que participaram ontem da segunda reunião preparatória do pacto social. "Podem ficar tranquilos que vou fazer um ato do mesmo porte para anunciar os ministros da área social", disse.
Na segunda reunião preparativa para a criação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Lula comunicou as três escolhas. "Como são pessoas da sociedade civil e não de partidos, quis fazer esse anúncio aqui", justificou o presidente eleito.
No entanto, o presidente da Coca-Cola, Jack Corrêa, o primeiro a deixar a reunião, confirmou a informação dos novos ministros antes que o porta-voz, André Singer, comunicasse que o presidente eleito iria fazer um pronunciamento à imprensa.
Na reunião do pacto, em fala de 30 minutos a cerca de 80 pessoas, Lula afirmou que terá de fazer cortes de gastos no Orçamento de 2003 devido à crise econômica do país, mas disse que preservará os programas sociais do governo.
Na frente dos empresários, Lula elogiou declarações do novo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, sobre a necessidade de reavaliação dos gastos do governo, em uma demonstração de apoio a um ato que deve gerar atritos na base do governo no Congresso.


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