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Pont se diz "perplexo"
com indicação para o BC
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
O ex-prefeito de Porto Alegre
(1997-2000) Raul Pont (PT), 58,
deputado estadual eleito, define a
indicação do ex-presidente mundial do BankBoston Henrique
Meirelles para a presidência do
Banco Central como "surpreendente" já que, para ele, Meirelles é
de "campo político oposto".
"Estamos perplexos", afirmou
ele, que é da Democracia Socialista, ala mais à esquerda do partido.
Pont reclama da falta de democratização nas decisões tomadas
pela equipe de transição e, representante das alas mais radicais do
PT na disputa pela presidência do
partido com José Dirceu, diz: "Ou
ele [Meirelles] enganou o tempo
todo o PSDB, ou vai enganar a
nós".
Leia a seguir trechos da entrevista concedida à Agência Folha.
Agência Folha - O que o sr. achou
da indicação do ex-banqueiro Henrique Meirelles para ser o presidente do Banco Central no governo Lula?
Raul Pont - Estamos perplexos.
Meirelles é de um campo político
oposto. Acho difícil uma figura
como essa, ex-banqueiro eleito
deputado federal pelo PSDB, converter-se às posições que sempre
foram consensuais ou que eram
apresentadas como posições do
partido para o Banco Central.
Suas relações e influências serão
mais marcadas pelo seu passado e
compromissos políticos do que
pela conversão ao projeto do PT.
Não entendo como nossos companheiros que coordenam o governo chegaram a ele. Eu, que sou
do diretório nacional, fiquei sabendo pela imprensa. Precisamos
mais espaço.
Agência Folha - O sr. é da DS (Democracia Socialista). As alas mais
moderadas do PT se acham vencedoras da eleição?
Pont - Não acho que por serem
de tendência majoritária do partido, o Lula e o Palocci [Antonio
Palocci Filho, futuro ministro da
Fazenda" tenham carta branca
para passar qualquer valor ou
propósito.
Agência Folha - O sr. aposta em
um bom governo?
Pont - Não tenho muita informação. Dirceu, Palocci e Marina,
nós conhecemos, temos trajetória
comum, identificação e sintonia.
Empresários ou banqueiros com
outra visão social... Era importante o diretório ser chamado. Sinto-me constrangido em dizer "olha,
vamos confiar em que tudo vai
dar certo".
Agência Folha - Falta legitimidade à equipe que está sendo formada?
Pont - Isso não ocorre com pessoas de trajetória iguais à nossa
chamadas para um posto chave.
Eu fui prefeito. Sem confiança no
secretário da Fazenda, não dá para governar.
O que posso dizer de uma pessoa que se elegeu pelo PSDB? É
que não tem identidade conosco.
Ou ele enganou o tempo todo o
PSDB, ou vai enganar a nós. Uma
dessas duas hipóteses.
Agência Folha - O sr. está decepcionado?
Pont - Estou perplexo, frustrado.
Não consigo entender muito essa
lógica, acho que é um equívoco.
Pode ser que estejamos errados,
enganados, que o novo governo
dê certo e tenha uma grande legitimidade popular.
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