São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pont se diz "perplexo" com indicação para o BC

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O ex-prefeito de Porto Alegre (1997-2000) Raul Pont (PT), 58, deputado estadual eleito, define a indicação do ex-presidente mundial do BankBoston Henrique Meirelles para a presidência do Banco Central como "surpreendente" já que, para ele, Meirelles é de "campo político oposto".
"Estamos perplexos", afirmou ele, que é da Democracia Socialista, ala mais à esquerda do partido.
Pont reclama da falta de democratização nas decisões tomadas pela equipe de transição e, representante das alas mais radicais do PT na disputa pela presidência do partido com José Dirceu, diz: "Ou ele [Meirelles] enganou o tempo todo o PSDB, ou vai enganar a nós".
Leia a seguir trechos da entrevista concedida à Agência Folha.
 

Agência Folha - O que o sr. achou da indicação do ex-banqueiro Henrique Meirelles para ser o presidente do Banco Central no governo Lula?
Raul Pont -
Estamos perplexos. Meirelles é de um campo político oposto. Acho difícil uma figura como essa, ex-banqueiro eleito deputado federal pelo PSDB, converter-se às posições que sempre foram consensuais ou que eram apresentadas como posições do partido para o Banco Central.
Suas relações e influências serão mais marcadas pelo seu passado e compromissos políticos do que pela conversão ao projeto do PT. Não entendo como nossos companheiros que coordenam o governo chegaram a ele. Eu, que sou do diretório nacional, fiquei sabendo pela imprensa. Precisamos mais espaço.

Agência Folha - O sr. é da DS (Democracia Socialista). As alas mais moderadas do PT se acham vencedoras da eleição?
Pont -
Não acho que por serem de tendência majoritária do partido, o Lula e o Palocci [Antonio Palocci Filho, futuro ministro da Fazenda" tenham carta branca para passar qualquer valor ou propósito.

Agência Folha - O sr. aposta em um bom governo?
Pont -
Não tenho muita informação. Dirceu, Palocci e Marina, nós conhecemos, temos trajetória comum, identificação e sintonia. Empresários ou banqueiros com outra visão social... Era importante o diretório ser chamado. Sinto-me constrangido em dizer "olha, vamos confiar em que tudo vai dar certo".

Agência Folha - Falta legitimidade à equipe que está sendo formada?
Pont -
Isso não ocorre com pessoas de trajetória iguais à nossa chamadas para um posto chave. Eu fui prefeito. Sem confiança no secretário da Fazenda, não dá para governar.
O que posso dizer de uma pessoa que se elegeu pelo PSDB? É que não tem identidade conosco. Ou ele enganou o tempo todo o PSDB, ou vai enganar a nós. Uma dessas duas hipóteses.

Agência Folha - O sr. está decepcionado?
Pont -
Estou perplexo, frustrado. Não consigo entender muito essa lógica, acho que é um equívoco. Pode ser que estejamos errados, enganados, que o novo governo dê certo e tenha uma grande legitimidade popular.


Texto Anterior: Para Dirceu, Heloísa se coloca "à parte" do PT
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.