São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Senadora ataca Dirceu e nega apoio a Meirelles

RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A senadora Heloísa Helena (PT-AL) afirmou ontem que o deputado José Dirceu (PT-SP), futuro ministro-chefe da Casa Civil do governo Lula, agiu com "injustiça", "maldade" e "truculência" ao criticar sua posição em relação à indicação de Henrique Meirelles para assumir a presidência do Banco Central.
Integrante da tendência Democracia Socialista, da esquerda do PT, a senadora disse que não sairá do partido, mas avisou que "nem no pau-de-arara" votará a favor da indicação de Meirelles, por seu vínculo com o sistema financeiro internacional. "Quem me conhece sabe: vou ser firme na base de sustentação do governo, mas não vou ser da base de bajulação".
Se a bancada petista no Senado fechar questão, ela disse que prefere faltar às sessões. A indicação de Meirelles tem de ser votada na Comissão de Assuntos Econômicos, da qual Heloísa Helena é integrante, e no plenário do Senado.
 

Folha - O que a sra. achou das declarações do deputado José Dirceu?
Heloísa Helena -
Em respeito ao presidente do partido, deputado José Genoino (SP), que nos fez um apelo para viabilizar esse debate internamente, nas instituições partidárias, não vou dar a resposta que o ministro José Dirceu merece. Conheço o Estatuto do PT e sei que, para opinião, não cabe medida disciplinar. Respeito muito o Genoino, até por que tenho muita dificuldade de conviver com quem acha que, pela força, pode me dobrar. E o Genoino sempre buscou o entendimento pelo convencimento e não pelo cabresto. O Genoino é uma pessoa que todos respeitamos muito. É, na essência, um democrata. Sempre conviveu com a esquerda do partido de forma respeitosa.

Folha - José Dirceu praticamente sugeriu que a sra. deixe o partido.
Helena -
O ministro foi extremamente injusto e agiu com uma maldade seletiva, ao falar que eu não fiz campanha para o Lula. O PMDB e o PSDB, que fizeram tudo para impedir a eleição do Lula, não têm sido tratados com essa truculência. O ministro sabe que eu estarei, como sempre estive nestes quatro anos no Senado, defendendo o PT. Se ele parar para pensar um pouco, vai lembrar de momentos difíceis nos quais o PT contou com minha feroz defesa. Não tenho divergências com o partido. Quem ler a resolução do último encontro nacional do PT, instância máxima do partido, vai identificar coerência das minhas posições com as decisões.

Folha - Como será o seu relacionamento com o futuro governo?
Helena -
Quem me conhece, sabe: vou ser firme na base de sustentação do governo, mas não sou da base de bajulação.

Folha - Nesse caso do BC, é o partido que está sendo incoerente?
Helena -
A mim não foram oferecidos argumentos. Não voto a favor nem no pau-de-arara. Por isso vou fazer um apelo ao meu líder [Eduardo Suplicy] e à bancada para que não fechem questão. Se fecharem questão e eu estiver sujeita a expulsão, é mais fácil eu não ir. Não vou sair de um partido que ajudei a construir por causa de um voto para o presidente do BC. Esse processo me causa mais tristeza do que indignação.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Petistas radicais vêem "desastre" e "equívoco"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.