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São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2003

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PT NO DIVÃ

Ministro Olívio Dutra diz ser contra a expulsão, mas não votará porque decidiu ir à Feira do Churrasco em Bagé

Genoino afirma que seu "coração dói" por Babá e Luciana Genro

Lula Marques/Folha imagem
Manifestantes levam boneco da senadora Heloísa Helena para ato contra a expulsão dela do PT


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia antes da quase certa expulsão partidária da senadora Heloísa Helena (AL) e dos deputados Babá (PA), Luciana Genro (RS) e João Fontes (SE), o presidente nacional do PT, José Genoino, disse ontem que "o coração dói" por Babá e Genro.
A revelação -até então Genoino vinha se posicionando sistematicamente pela expulsão dos parlamentares ameaçados- foi dada momentos antes do início do encontro do Diretório Nacional do partido, que começou ontem em Brasília marcado por declarações e manifestações pró e contra as expulsões.
Os quatro parlamentares foram levados para a Comissão de Ética do partido pela sistemática oposição ao governo, principalmente os rumos tomados pela política econômica, que classificam de neoliberal, mas pelos votos contrários na reforma da Previdência.
"Meu coração dói pela Luciana e pelo Babá. Eles são coerentes pra caramba, acreditam verdadeiramente naquelas teses deles, nunca posaram de vítima, nunca fizeram ataques pessoais. Se eu tivesse que fazer diferença faria por eles", disse Genoino.
O presidente do partido diz que se desdobrou nos últimos 15 dias para tentar mudar a situação, mas que não houve um gesto de nenhum dos quatro pela permanência na legenda.
A reunião de ontem, feita a portas fechadas, ocorreu em um dos principais hotéis de Brasília e contou com a presença de vários deputados, senadores e ministros que integram o partido. José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci Filho (Fazenda), que se reuniram antes no Palácio do Alvorada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entraram pela garagem para evitar a imprensa.

Carro oficial e ausências
Vários dos ministros usaram carro oficial dos ministérios para ir ao encontro partidário, entre eles Ricardo Berzoini (Previdência), Benedita da Silva (Assistência Social) e Celso Amorim (Relações Exteriores).
O ministro das Cidades, Olívio Dutra (PT-RS), que chegou a enfrentar quando era governador do Rio Grande do Sul (1999-2002) a oposição de Genro, então deputada estadual, falou contra a expulsão. "Acho que eles devem ter uma chance, a atitude não pode ser relevada, mas não pode haver expulsão pura e simples", disse.
Mas sua posição não passou da porta. Ao diretório, entregou carta dizendo que não poderia votar hoje porque teria que comparecer à Feira Nacional do Churrasco em Bagé (RS).
Outras autoridades que integram o diretório também mandaram cartas anunciando ausência: Marina Silva (Meio Ambiente), Waldir Pires (Controladoria Geral da União), Marta Suplicy (prefeita paulistana) e Tarso Genro (Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Social).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, membro do diretório, também não compareceu.
O ministro Berzoini e o presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, não quiseram revelar como vão votar, mas enfatizaram a necessidade de haver unidade de ação no PT e não haver descumprimento ao estatuto do partido.
Humberto Costa (Saúde) foi mais explícito na defesa da expulsão dos chamados radicais:
"Chegamos aonde chegamos por trabalharmos unidos em torno de um projeto político, para isso é preciso que tenhamos disciplina, compromisso e lealdade com o partido e com o governo (...). Eles estão se excluindo do partido, não é o partido que está excluindo eles".

Palestras
A reunião de ontem serviria para que Genoino, Dirceu, Palocci e Amorim falassem aos integrantes do diretório sobre o primeiro ano de governo.
O deputado Chico Alencar (RJ) ainda tentou convencer Genoino a se encontrar com os quatro parlamentares ontem à noite. "A vida e a políticas exigem isso às vezes [decisões drásticas]", disse Genoino a Alencar.
(FERNANDA KRAKOVICS, RANIER BRAGON, ANDRÉA MICHAEL E OTÁVIO CABRAL)


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