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São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2003

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NO DIVÃ

No Rio, petistas históricos dizem que deixarão sigla

DA REDAÇÃO

Acabou-se o espaço interno para discussão: o PT segue o centralismo autoritário do pragmatismo. A análise é de três petistas históricos -Carlos Nelson Coutinho, Milton Temer e Leandro Konder- que anunciaram a saída da sigla em que militaram nos últimos 23 anos.
O estopim da decisão foi o processo de expulsão dos radicais -se eles forem ejetados do partido hoje, o grupo carioca planeja, já a partir de amanhã, impulsionar "um fórum de debate socialista, de esquerda" fora do PT, onde a discussão de rumo teria sido substituída pelo apoio incondicional "ao aparelho do governo".
"Embora condenemos totalmente, uma coisa é o que Lula está fazendo em termos de continuísmo da política anterior, outra é como o PT está se comportando diante disso", diz o ex-deputado Milton Temer, da ala esquerda.
"A participação é livre para quem quiser, até para quem continuar no PT", convoca Temer.

"Irreversível"
O ex-deputado visualiza um partido desenhado cada vez mais ao centro e que, por isso, a "guinada" atual seria irreversível.
Com a campanha de filiação em massa (de junho a outubro, o PT cresceu em 29,8% o número de filiados), Temer avalia que, no ano que vem, a esquerda no partido só representará 5% do total.
A idéia de romper foi gestada em reuniões do trio. "O PT está amputando seu braço esquerdo", disse o filósofo Leandro Konder sobre a eventual saída da senadora alagoana Heloísa Helena.
Temer defende o voto contrário dos radicais às reformas com o argumento de que os três deputados ameaçados e a senadora foram coerentes com o último documento assinado pelo partido: a resolução do Encontro Nacional do PT, em 2001.
No balanço que fazem de um ano do governo Lula, pouco escapa às críticas: "Política externa progressista? Mais progressista e mais radical que é a nossa é feita pelo governo Chirac na França, que tem uma política de direita na economia. Em termos internos, é a mesma característica da política de Lula. Ninguém lá na França hesita ao chamar o governo Chirac de direita", afirma Temer.
"Não estou torcendo contra o PT, mas estou cada vez mais cético", disse Konder. Para ele, as concessões feitas pelo governo para continuar a política econômica foram "pesadas demais".
Por telefone, a reportagem procurou o filósofo Carlos Nelson Coutinho para falar da decisão de se afastar do partido, mas não conseguiu contatá-lo. (FM)


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