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São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2003

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NO DIVÃ


Deputado de Sergipe é o único dos quatro petistas ameaçados de expulsão que preparou para hoje uma "defesa jurídica"


Fontes afirma que é um "réu sem crime"

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O advogado João Fontes (PT-SE), 45, é o único dos quatro petistas "radicais" que preparou uma "defesa jurídica" para apresentar nos 15 minutos a que terá direito hoje. Definindo-se como um "réu sem crime", Fontes vai listar quatro argumentos: que não teve direito a defesa, que membros do governo ou que fizeram indicações para cargos no governo são suspeitos para votar, que o estatuto do PT permitiria votar contra o governo e que aqueles que mudaram suas convicções é que deveriam estar no banco dos réus.
Fontes criticava o governo desde março, mas era ignorado pela cúpula partidária, que dizia que o deputado queria apenas aparecer. Ao divulgar em maio uma gravação em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendia, em 1987, posições contrárias às que o governo hoje pratica, Fontes entrou finalmente para a lista negra da direção petista.
"Não inventei, não criei aquela fita. Nem divulguei para denegrir ninguém, mas para justificar a minha votação contrária à reforma da Previdência", afirma Fontes, que iniciou a vida política no PL e esteve no PSB até se filiar ao PT, em 1999.
"Na época, a votação era pelo diretório, não era como hoje, pela internet", diz.
O passado político do deputado, que integrou governos do PDS e do PFL em Sergipe, levou a cúpula petista a tachar o deputado de falso esquerdista.
"É uma desqualificação baixa e sorrateira. Se eu tinha um passado que comprometia o partido, por que me filiaram com uma grande festa em 1999?", questiona Fontes, que reconhece ter cometido um deslize ao se filiar ao PL em 1987, partido do qual foi presidente da executiva regional.
Segundo o deputado, o ministro José Dirceu (Casa Civil) teve com ele uma relação pessoal a partir de 1999, tendo se hospedado em sua casa uma vez.

Padre
Fontes começou a vida política trabalhando em comunidades de base ligadas à Igreja Católica, por influência da mãe, que abrigava em sua casa perseguidos políticos do regime militar (1964-1985). Em meados da década de 90, o hoje deputado viajou à Itália e, afirma, cogitou se tornar padre.
Na primeira eleição de que participou, a de 2002, diz ter sido boicotado pelo PT local, comandado pelo hoje prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, e pelo atual presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra.
"Enquanto era militante, enquanto os ajudava juridicamente, era paparicado por todos do partido. Quando resolvi me candidatar, armaram uma metralhadora contra mim", afirmou o deputado, que afirma ter assegurado seu registro de candidato por meio da Justiça Eleitoral.
Casado e pai de uma filha de 4 anos, Fontes diz que, a exemplo da oposição, o PT cometeu um estelionato eleitoral. "Depois da carta de compromisso do governo com o FMI [Fundo Monetário Internacional], em fevereiro, passei a me rebelar", disse.


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