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São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2003

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CASO SANTO ANDRÉ

Membro de quadrilha e familiares de preso por morte de prefeito trabalharam em empresa de Ronan

Sócio de Gomes da Silva empregou acusados

JULIA DUAILIBI
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Familiares e integrantes da quadrilha da favela Pantanal, apontada como responsável pelo assassinato do prefeito Celso Daniel (PT), trabalharam para uma das empresas de Ronan Maria Pinto, amigo e sócio do empresário Sérgio Gomes da Silva -preso na última quinta-feira sob acusação de ser um dos mandantes do crime.
De acordo com depoimentos à Polícia Civil e ao Ministério Público de São Paulo, um adolescente integrante da quadrilha e dois parentes de Ivan Rodrigues da Silva, chefe do grupo e conhecido como Monstro, prestaram serviços à Viação Urbana Transleste.
Seis integrantes dessa quadrilha foram presos sob acusação de terem participado do assassinato de Celso Daniel. Monstro é apontado como o chefe do grupo.
Para a Promotoria, Gomes da Silva, que estava no carro com Daniel no momento em que o prefeito foi sequestrado, é um dos mandantes da ação criminosa.
A Transleste, que atuava em São Paulo, é mais uma das mais de 20 empresas que já foram ou são de Ronan na área de transporte público. O nome da empresa mudou para Santo Expedito e depois para Santa Bárbara.
Em junho do ano passado, Ronan foi denunciado (acusado formalmente à Justiça) por formação de quadrilha e concussão (extorsão praticada por servidor) por um suposto esquema de cobrança de propina na administração pública de Santo André. A denúncia ainda não é ação judicial.

Esquema
João Francisco Daniel, irmão do prefeito assassinado, chegou a dizer que parte do dinheiro arrecadado nesse suposto esquema de propina financiaria campanhas eleitorais do PT -o que o partido sempre negou.
Em seu depoimento à polícia no ano passado, o irmão de Monstro, Gilvam Rodrigues, afirmou que o pai, Miguel Rodrigues, trabalhou como motorista na Transleste. Além do pai, um padrinho do preso também teria sido empregado da empresa.
Outro personagem da favela Pantanal também afirmou ter prestado serviços à empresa, sem vínculo empregatício formal.
Detido em 7 de fevereiro de 2002, duas semanas após a morte de Daniel, o menor C.C.R. disse à polícia ter levado a Blazer usada no sequestro do prefeito até a favela Pantanal. Isso teria ocorrido dois dias antes da ação.
C.C.R. afirmou também ter prestado serviços para a EPT (Empresa Pública de Transporte) de Santo André, para as viações Transguarulhense e Transleste (que pertencia a Ozias Vaz, amigo de Gomes da Silva e de Ronan).

Chefe
Nas escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal, logo após a morte de Daniel, foi captado um diálogo entre uma advogada de Ronan e Gomes da Silva. Na conversa, eles se referem a Ronan como "chefe" de ambos. Ronan e Gomes da Silva foram sócios ainda em uma empresa de transporte fora de São Paulo. Em seu depoimento à Promotoria, Gomes da Silva disse que seu sócio, o "gestor", tomava todas as decisões administrativas importantes.
Houve uma contradição grave em seu depoimento. Gomes da Silva disse que, apesar de trabalhar com Ronan, não tinha nem nunca teve nenhuma empresa em São Paulo. Documentos da Junta Comercial paulista, no entanto, colocavam Gomes da Silva como sócio majoritário do colega em uma de seus empresas. Na ocasião, ele disse que não sabia.


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