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Anotações de executivo sugerem propinas
Arquivos de diretor da Camargo Corrêa têm nomes de autoridades ao lado de valores em dólares e comprovantes de transferências
Justiça considera que, sem evidências dos pagamentos, documentos não são provas contra pessoas citadas nos documentos apreendidos
DA REPORTAGEM LOCAL
O relatório final da Polícia
Federal sobre a Operação Castelo de Areia, que foi suspensa
ontem pelo Superior Tribunal
de Justiça, revela que as principais evidências de um suposto
pagamento de propina por parte da Camargo Corrêa a políticos ou autoridades públicas
partiram de arquivos pessoais e
extremamente detalhados do
diretor da empresa Pietro
Francesco Giavina Bianchi.
Em dezenas de anotações
manuscritas, digitalizadas e arquivadas em dois pendrives
atribuídos a Bianchi, há informações sobre o andamento de
obras públicas com o nome de
autoridades públicas e valores
em dólares e em reais.
Em alguns casos, o documento é seguido por comprovantes
de transferência bancária internacional, os chamados
"swifts", cujos valores eram similares ao do suposto pagamento -o que leva as autoridades brasileiras a acreditar num
suposto acerto de contas no exterior. A PF interceptou pelo
menos 300 "swifts" que foram
transmitidos via fax.
A Folha apurou que, para a
Justiça, apenas os documentos
digitalizados e apreendidos,
sem uma comprovação efetiva
da ocorrência de pagamentos,
não configuram por si só prova
contra as pessoas citadas.
A investigação da Polícia Federal para aprofundar a investigação só poderá continuar
após decisão final do Superior
Tribunal de Justiça sobre a decisão de ontem.
Num dos papéis apreendidos
com Bianchi, há referências à
Linha Verde do metrô (Alto do
Ipiranga-Vila Madalena) -a
Camargo Corrêa integra o consórcio Via Permanente, que
cuida da expansão da linha.
Detalhes
No documento, está escrito
"TCE", "Ed Bitt" e "Roc Citadini". Para a PF, são referências
aos conselheiros do TCE-SP
(Tribunal de Contas do Estado
de São Paulo) Eduardo Bittencourt e Roque Citadini. Há a
anotação de "US$ 490.000",
que seria dividido em cinco vezes, com o primeiro pagamento
em 1º de novembro de 2007.
O TCE é o órgão responsável
pela análise e aprovação de todos os contratos públicos.
O nome de um terceiro conselheiro do TCE-SP, Robson
Marinho, também surge na documentação, sempre em planilhas que tratam de obras do
metrô. Os três conselheiros negam qualquer envolvimento
ilegal (leia texto ao lado).
No computador da secretária
de Bianchi, Darcy Alvarenga, a
PF encontrou uma tabela com
quase 200 siglas e seus respectivos significados, como
"PMM" para metrô, "ALW" para "Walter Feldman" (secretário municipal de Esportes de
São Paulo), "CPG" para "Camargo Político Genérico" e
"DEP" para "CPA Deputados".
Em todos os documentos
atribuídos a Pietro há anotações das siglas, numa referência às obras. Para a PF, o uso de
siglas era uma forma de mascarar o verdadeiro assunto.
Se a 6ª Turma do Superior
Tribunal de Justiça entender
que a investigação da Castelo
de Areia começou de forma ilegal, todas as provas serão anuladas.
(LILIAN CHRISTOFOLETTI e FERNANDO BARROS DE MELLO)
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