São Paulo, sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

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Anotações de executivo sugerem propinas

Arquivos de diretor da Camargo Corrêa têm nomes de autoridades ao lado de valores em dólares e comprovantes de transferências

Justiça considera que, sem evidências dos pagamentos, documentos não são provas contra pessoas citadas nos documentos apreendidos

DA REPORTAGEM LOCAL

O relatório final da Polícia Federal sobre a Operação Castelo de Areia, que foi suspensa ontem pelo Superior Tribunal de Justiça, revela que as principais evidências de um suposto pagamento de propina por parte da Camargo Corrêa a políticos ou autoridades públicas partiram de arquivos pessoais e extremamente detalhados do diretor da empresa Pietro Francesco Giavina Bianchi.
Em dezenas de anotações manuscritas, digitalizadas e arquivadas em dois pendrives atribuídos a Bianchi, há informações sobre o andamento de obras públicas com o nome de autoridades públicas e valores em dólares e em reais.
Em alguns casos, o documento é seguido por comprovantes de transferência bancária internacional, os chamados "swifts", cujos valores eram similares ao do suposto pagamento -o que leva as autoridades brasileiras a acreditar num suposto acerto de contas no exterior. A PF interceptou pelo menos 300 "swifts" que foram transmitidos via fax.
A Folha apurou que, para a Justiça, apenas os documentos digitalizados e apreendidos, sem uma comprovação efetiva da ocorrência de pagamentos, não configuram por si só prova contra as pessoas citadas.
A investigação da Polícia Federal para aprofundar a investigação só poderá continuar após decisão final do Superior Tribunal de Justiça sobre a decisão de ontem.
Num dos papéis apreendidos com Bianchi, há referências à Linha Verde do metrô (Alto do Ipiranga-Vila Madalena) -a Camargo Corrêa integra o consórcio Via Permanente, que cuida da expansão da linha.

Detalhes
No documento, está escrito "TCE", "Ed Bitt" e "Roc Citadini". Para a PF, são referências aos conselheiros do TCE-SP (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo) Eduardo Bittencourt e Roque Citadini. Há a anotação de "US$ 490.000", que seria dividido em cinco vezes, com o primeiro pagamento em 1º de novembro de 2007.
O TCE é o órgão responsável pela análise e aprovação de todos os contratos públicos.
O nome de um terceiro conselheiro do TCE-SP, Robson Marinho, também surge na documentação, sempre em planilhas que tratam de obras do metrô. Os três conselheiros negam qualquer envolvimento ilegal (leia texto ao lado).
No computador da secretária de Bianchi, Darcy Alvarenga, a PF encontrou uma tabela com quase 200 siglas e seus respectivos significados, como "PMM" para metrô, "ALW" para "Walter Feldman" (secretário municipal de Esportes de São Paulo), "CPG" para "Camargo Político Genérico" e "DEP" para "CPA Deputados".
Em todos os documentos atribuídos a Pietro há anotações das siglas, numa referência às obras. Para a PF, o uso de siglas era uma forma de mascarar o verdadeiro assunto.
Se a 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça entender que a investigação da Castelo de Areia começou de forma ilegal, todas as provas serão anuladas. (LILIAN CHRISTOFOLETTI e FERNANDO BARROS DE MELLO)


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