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CONGRESSO
Ministro foi um dos responsáveis pela aproximação de PMDB e PSDB, que levou à vitória de Jader e Aécio e à derrota pefelista
Resultados fortalecem Serra para 2002
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O resultado das eleições de ontem para as presidências da Câmara e do Senado fortalece o ministro tucano José Serra (Saúde)
como candidato da aliança governista à Presidência da República
em 2002.
Serra costurou a aproximação
do PMDB com o PSDB antes mesmo das eleições do Congresso para tentar manter a base do governo unida no final do mandato de
FHC e em 2002. Essa aproximação abriu caminho para o acordo
dos dois partidos, decisivo para a
vitória de Jader Barbalho no Senado e de Aécio Neves na Câmara.
O ministro, porém, não descuidou da terceira ponta da complexa aliança governista: o PFL.
Durante todo o tempo -antes e
durante a eleição-, conversou
com o vice-presidente da República, Marco Maciel, e o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen.
Além de sucessivos telefonemas, Serra e Bornhausen se encontraram ao menos duas vezes:
no Ministério da Saúde e em um
almoço a dois no apartamento do
ministro em Brasília.
Em um primeiro momento,
Serra apoiou a "solução natural"
para o Congresso: Jader pelo
PMDB no Senado e o deputado
Inocêncio Oliveira pelo PFL na
Câmara. Sua reação ao lançamento da candidatura do correligionário Aécio Neves, portanto, foi
de descrença. O ministro achava
que não passava de um sonho, e
Aécio sabe disso.
Na versão do agora presidente
da Câmara, Serra ligava no início
da campanha em tom quase paternal: "E aí, Aécio, como vai sua
aventura?". Quando a aventura
ganhou corpo, ele mudou o tom,
o pronome e o substantivo: "Como vai a nossa candidatura?".
Não há mágoas, porém. Aécio é
especialmente grato ao governador licenciado de São Paulo, Mário Covas, que veio a Brasília para
o lançamento de seu nome. Mas
reconhece que Serra, ao entrar na
campanha, entrou de verdade.
Tucanos dizem, inclusive, que o
ministro teve importantes conversas com setores da esquerda da
Câmara, defendendo a candidatura Aécio.
ACM
O único grande personagem da
disputa que Serra não incluiu nas
suas articulações foi o agora ex-presidente do Senado, Antonio
Carlos Magalhães (PFL-BA), o
ACM. Ele e Serra trataram de
manter-se à distância, com bons
motivos.
ACM foi quem deflagrou a crise,
ao vetar o nome de Jader, enquanto Serra defendia que o candidato
fosse do PMDB e preferia Jader.
Serra e ACM não se falavam. Serra
e Jader se falaram constantemente, ao menos ao telefone.
Além disso, ACM foi o primeiro
a lançar o nome do principal adversário tucano de Serra na corrida sucessória, o do governador
Tasso Jereissati, do Ceará.
Apesar de deixar claro que tinha
restrições a Jader, Tasso se comportou partidariamente nas eleições de ontem: "sua" bancada na
Câmara empenhou a palavra com
Aécio, e a do Senado declarou voto a Jader às vésperas da eleição.
O excesso de vinculação do nome de Tasso a ACM deixou de ser
um trunfo para Tasso. Pelo menos por enquanto. Hoje, ACM é
responsabilizado no próprio PFL
pela derrota de ontem e mais atrapalha do que ajuda como padrinho de candidaturas.
A atual contabilidade na fracionada aliança governista é favorável a Serra, que tem mais trânsito
entre os peemedebistas e mantém
bom diálogo com o PFL de Bornhausen e Maciel. Tasso tem o
apoio de ACM, mas enfrenta resistências no "outro PFL" e mais
ainda no PMDB, com quem vive
às turras no Ceará.
Taticamente, o PMDB não descarta apoiar Tasso e considera inclusive que, se ele quiser o apoio
da sigla, terá de fazer concessões
maiores do que Serra. Deve contar com essa possibilidade até para não dar a Serra a sensação de
que o partido irá a seu reboque.
Por enquanto, os peemedebistas analisam que o candidato mais
viável para uma aliança é Serra,
mas continuarão com o discurso,
para consumo externo, de que
têm candidato próprio, o senador
Pedro Simon (RS).
Serra se empenha, também, para conquistar o apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso, o único capaz de neutralizar o
peso do apoio público de Covas a
Tasso Jereissati. Por fim, empenha-se ainda em garantir a simpatia do "novo PSDB", a começar de
São Paulo.
A eleição de Aécio em Brasília e
a interinidade prolongada de Geraldo Alckmin no governo de São
Paulo caracterizam um importante movimento de renovação
de quadros no PSDB.
Os novos passos são a tentativa
de eleger, de preferência ainda
hoje, o deputado baiano Jutahy
Magalhães Júnior para a liderança
tucana na Câmara e um presidente paulista para o partido.
Jutahy é muito ligado a Serra. E
são candidatos à presidência o deputado Alberto Goldman, próximo a Serra, e José Aníbal, secretário de Ciência e Tecnologia de São
Paulo, com quem Serra almoçou
recentemente.
Depois de anos de provocações
mútuas, Serra e Aníbal fizeram
uma espécie de pacto velado:
"Passado é passado, vamos pensar no futuro".
Um terceiro candidato é o ministro Pimenta da Veiga (Comunicações), mas há uma espécie de
consenso de que ele deveria deixar o governo para assumir o partido. Ele não parece disposto a fazer a troca. Serra está dentro de
todos esses movimentos tucanos,
mas sem descuidar do PMDB e do
PFL e tentando se equilibrar entre
os três partidos.
O deputado Michel Temer admitiu ontem: "O resultado de hoje
(ontem) aproxima o PSDB do
PMDB e deve importar, no futuro, na solidificação de uma aliança para a Presidência e acordos regionais".
Entre esses acordos estão o de
Jader com o governador tucano
Almir Gabriel no Pará, o do líder
peemedebista Geddel Vieira Lima
contra ACM na Bahia e o do ministro Eliseu Padilha (Transportes) com o PSDB gaúcho para a
eleição de governador.
"Fusão PMDB-PSDB"
"Se tudo der muito certo, muito
lá na frente, podemos até pensar
numa fusão do PMDB com o
PSDB", disse Temer. Ex-presidente da Câmara e candidato à
presidência do PMDB, ele já declarara à Folha que, se o partido
não tiver candidato próprio, o
preferido é Serra.
A Bornhausen também não desagrada a opção pelo ministro
paulista, com quem o PFL conversa sempre desde os tempos da
Constituinte de 1988.
A diferença entre os dois partidos é que o PMDB tenta filiar o
governador de Minas, Itamar
Franco, que é presidenciável potencial e pode virar uma espécie
de carta na manga para eventuais
confrontos com o governo ou
com Serra. O PFL não tem candidatos próprios à vista.
(ELIANE CANTANHÊDE e KENNEDY ALENCAR)
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