São Paulo, quinta-feira, 15 de fevereiro de 2001

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CELSO PINTO

Cresce a economia, o crédito fica atrás

A economia vem surpreendendo mesmo os mais otimistas. O crescimento de 7,2% da produção industrial de dezembro, em relação a novembro, fez a curva dar um forte salto. Fábio Giambiagi, do BNDES, calcula que, graças a esta subida, mesmo que a indústria fique estável este ano já terá garantida uma expansão de 8,3%, por efeito estatístico de comparação das médias.
Olhando para o crédito, contudo, parece difícil explicar de onde veio tanto vigor da indústria. O crédito bancário total do país fechou o ano em 28,4% do PIB, nos cálculos de Octávio de Barros, do BBV Banco, ou 28,8%, nas contas de Darwin Dib, do Unibanco. Nos números de Barros, representaria um pequeno aumento de 0,6% do PIB no ano; nas de Dib, uma pequena queda de 0,2% do PIB.
Em 96, auge do Plano Real, o crédito bancário já havia atingido 31,2% do PIB. Em comparação com outros países, este total de crédito é irrisório. Os números de Barros mostram que o crédito total varia de 83% do PIB (Portugal) a 220% (Reino Unido) na Europa, é de 114% no Japão e 67% nos Estados Unidos. No Chile, na conta do Unibanco, chegou a 67% em 99, a partir de 45% na década de 80.
Ainda mais impressionante, é o baixo grau de alavancagem no Brasil, ou seja, quanto crédito o sistema bancário está concedendo comparado ao seu patrimônio líquido. Esta relação já chegou a 4,6 em 95, mas foi despencando para bater em 2,9, em 99, e subir para 3,1 no ano passado. Ela pode ser três ou quatro vezes maior, em países desenvolvidos.
Uma explicação óbvia para índices tão baixos está na história de inflação e juros altíssimos do país. De um lado, os bancos ganhavam muito dinheiro sem precisar emprestar. Do outro, quem tomava empréstimo era candidato potencial ao suicídio. O resultado era que os bancos viviam de suas aplicações de Tesouraria, a maioria em títulos do governo, enquanto as empresas se auto-financiavam ou, mais recentemente, tomavam empréstimos em dólares, apostando no câmbio controlado.
A queda da inflação e o câmbio flutuante mudaram o quadro, principalmente para os bancos maiores. Dados de Barros mostram que o crédito, no fim de 99, representava 39% dos ativos e 37% das receitas dos bancos privados e 47% dos ativos e 36% das receitas dos bancos públicos. Contudo, enquanto para os bancos grandes as receitas com crédito somaram 48% do total e as da Tesouraria 17%, no caso dos bancos médios a Tesouraria gerou 88% e o crédito apenas 2% (77% e 12%, respectivamente, no caso dos bancos pequenos).
O fato é que, por trás da relativa estagnação do crédito bancário no ano passado, houve enormes rearranjos. O crédito bancário cresceu, em média, 10,5%, mas a média esconde um aumento de 34% nos bancos privados e uma queda de 10% nos bancos públicos.
O próprio número de 10,5% é enganoso, lembra Barros. Algumas mudanças de regulação do Banco Central levaram os bancos, principalmente os públicos, a considerarem R$ 15 bilhões de créditos como perda definitiva, reduzindo nos mesmos R$ 15 bilhões suas provisões para perdas. Já eram créditos ruins há tempos, só que continuavam a engordar o estoque de créditos. Descontado este acerto, o aumento do crédito fica mais expressivo.
Dib, do Unibanco, calcula que as operações de crédito livre dos bancos (ou seja, sem direcionamento obrigatório), cresceram 60% no ano passado. Para pessoas físicas, onde o lucro do banco é maior, o aumento foi de 113,8%.
Os bancos oficiais encolheram com as privatizações. Em 94, respondiam por 56% dos créditos totais, 37% eram dos privados nacionais e 7% dos estrangeiros. Em 2000, os oficiais cairam para 46%, os privados nacionais para 29% e os estrangeiros subiram para 25%. Dib mostra que os empréstimos com atrasos inferiores a 60 dias dos bancos oficiais caíram 56% no ano passado.
Outro fator a considerar é que, enquanto os bancos foram perdendo importância como fonte de recursos, outros atores apareceram. O caso mais impressionante é o dos fundos de investimento e de pensão. Em 90, seu patrimônio era de US$ 19,4 bilhões, ou 4,3% do PIB, equivalente a 17% do total de operações de crédito. Em 95, somavam US$ 126 bilhões e equivaliam a 64% dos créditos. No ano passado, atingiram US$ 214 bilhões, ou 37% do PIB, e superaram as operações de crédito em 31%. Não é por acaso que o controle sobre fundos de pensão estatais virou peça central do poder político e econômico.
O mercado de capitais como um todo está tomando uma fatia crescente do que eram, no passado, operações de crédito bancário. A previsão geral, de todo modo, é de um vigor crescente nas operações bancárias. O potencial para crescer é gigantesco e a inadimplência, por enquanto, não preocupa. É o que atraíu e continua atraindo o apetite dos bancos estrangeiros.

Temporada de caça
Engana-se quem acha que a temporada de compra e venda de bancos comerciais esfriou. Um agressivo banco europeu está de namoro firme com um grupo nacional.

E-mail - CelPinto@uol.com.br

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